RAPIDINHA ( A Crônica do Dia Seguinte)

Bom dia mina bela
Esse cheiro  de tabela 
Me deixou instigado  
Vamos bolar  outro  baseado
Só  porque  tu quer que tu se vai 
De por mim você não sai
Me causaria  ciúmes
Se tivesse nos perfumes 
Passeando por aí 
Imbecada e cheirosa 
Altiva e gostosa 
Enquanto eu aqui
Lavando louças  e talheres 
E a mais bela das mulheres 
Me deixando louco 
Uma noite foi, é,   pouco 
Vou dar um talento na cozinha 
Deixa o chão pra limpar depois
Inda dá  tempo nós 2
Dá  uma rapidinha 
Aproveitar a hora 
Antes que voce vá embora

ONDE NENA ESTÁ ?

A casa onde ela morou 
Ainda está lá 
Lá no mesmo lugar
A casa onde ela morou 
Ainda está lá 
Lá no mesmo lugar.
Nena não mais mora lá 

De cima do   morro
Deu  pra avistar 
Naquele mesmo lugar
Reparei  em certa casa
Pra que fui  me lembrar ?
Uma certa tristeza 
Tempo não vai voltar 
Mas o passado tá lá 
Lá no mesmo lugar 
Fui me apaixonar 
Danei a recordar 
Dicidi no rompante 
Eu vou é lá 
Onde Nena morou
Quem sabe ela tá  lá 
Lá no mesmo lugar
Onde a casa está 
Porta  fechada 
Casa distiorada
Sem ninguém pra informar 
O que iria perguntar 
Que foi que aconteceu?
Onde Nena está ?
Pr'eu poder encontrar 
Isso me entristeceu 
Serviu pra confirmar 
Parte de mim que morreu 
Não quis acreditar
No tempo já se perdeu 
E eu a procurar 
Esquecer não dá 
É difícil aceitar
Nena não mais mora lá 

A casa onde ela morou 
Ainda está lá 
Lá no mesmo lugar
A casa onde ela morou 
Ainda está lá 
Lá no mesmo lugar.
Nena não mais mora lá


http://prosiado.blogspot.com/2023/12/onde-nena-esta.html

DE SANFONA E SANFONEIROS


Fui vizinho de 2 sanfoneiros, um deles, Zé  inda vivo, diz que foi Luiz Gonzaga o maior sanfoneiro de todos,  Zé Paraíba, o segundo ; pro outro , Manoel, era Zé Paraíba (o que mais vendeu discos) e pronto! Pra mim que já devo ter ouvido mais de mil discos de forró, foi Noca do Acordeon, mas Luiz  Gonzaga dizia qie 0 Rei da Sanfona, era  Mário  Zan. Dominguinhos tá no time dos craques, modernizou o modo de ser tocador, agregava, era humilde e tocava e trabalhava muito. Mas tem a trinca dos 8 Baixos,  Gerson Filho, Zé Calixto e Abdias que além de fazer seus discos ajudou quase todos nos primeiros 30 anos do forró fonográfico . Outros como Camarão, o visionário que montou a primeira banda pra  forró, Arlindo dos 8 Baixos,  Manoel Maurício, Geraldo Correia são menos conhecidos do público mas muito respeitados por seus pares que o tratavam em pé de igualdade. Cesar do Acordeon  o Abianto, foi fantástico; Duda da Passira gravou ne mais de 3 mil fonogramas 3 também um disco só Tocano Noca, que nem fez Chico Justino, o talento rústico da sanfona cearense. Voninho no rasqueado araguaia-pantaneiro é outro tocador  de lascar. Lili Meio, uma alagoana muito retada que gravou alguns discos tocando sanfona  se vestia dw cangaceira
A Casa de Januário é um caso à parte, a família chegou a ter um programa semanal de rádio, Chiquinha, a caçula era danada e no xaxado num perdia pra ninguém; Zé Gonzaga era retado e tirava onda quando queria tocar só nos baixos, era o mais moderno, autor de Baião Psicodélico e Baile da Tartaruga. Severino Januário era o dono das 8 Baixos e tocava o baião bem batucado. Na casa de Dideus, pai de Zé  Calixto, ainda  saiu Luizinho Calixto e Bastinho, figura importante na popularização do brega ao lado da companheira,  Hermelinda e seu cunhado Oseas, também sanfoneiro do Trio Mossoró que virou  Carlos André  um dos maiores vendedores de disco do gênero 
Lindu além dw grande voz era excelente o instrumentista e arranjador do Trio Nordestino. O gaúcho Chiquinho do Acordeon era maestro arranjador  e foi parceiro de Abdias durante seu tempo de CBS fazendo a direção musical 
Pedro Sertanejo é o pai do pé de serra e ainda trouxe o seu filho Oswaldinho, talvez o mais completo sanfoneiro da história ao lado de Sivuca.  Ao lado desses 2 últimos, Dominguinhos formou a fabulosa trinca que gravou  discos pra Zé Ramalho, Genival Lacerda e pra Gonzagão; também gravaram Cada Um  Belisca Um Pouco,  ápice do imstrumental sanfônico.
Certa feita, fazendo um show em Jequié, terra de Noca, Dominguinhos disse que certa feita fez uma música e deu a fita pra Noca gravar mas ele ninca respondeu. Noca tinha um temperamento difícil e era meio retraído do "mundo artístico " preferia se enfrentar em temporadas pelo sertão onde ia curtindo a vida e fazendo os shows que apareciam e em todo lugar queriam show de Noca.
Boto na conta de Sivuca e Dominguinhos de na marcha modernizatica pra ampliar o mercado do forró  eles acabaram acelerando a derrocada de uma cena muito popular, arraigada no Nordeste e entre os imigrantes no sul; muita mesa focou sem comida  enquanto os  artistas da classe média foram tomando o lugar da turma forrozeira com ajuda da televisão e das fm's.
Oswaldinho eu acho um grande produtor desde o primeiro de Tororó do Rojão e depois o de Jacinto Silva onde o piano entrou no coco de embolada, os discos de Raimundo Sodré e até desenvolvimento da primeira sanfona eletrônica contou com a sua consultoria pois os anos de sanfona castigaram sua coluna e p peso  dela a tornou dolorosa pra ele. 

AS COISAS DAS ALAGOAS

Há 60 anos o Trio Nordestino lançou, do baiano Gordurinha Carta a Maceió  falando sobre o deslumbramento de um alagoano com a então capital federal.  Maceió que ganhou outro hino quando Carlos Moura escreveu Minha Sereia, que fez grande sucesso na Bahia  onde toca  até  hoje.  

Pode reparar que muitos ritmos  e modalidades têm sua variante alagoana: xaxado, martelo, pagode, baião, galope, pife, maxixe, samba, coco de roda, folguedos, reisado , chegança, coco-ciranda  .... e está por lá um dos nossos berços musicais. Baião das Alagoas gravado ppr Paulo Diniz gravou, de uma parceria com Juhareiz Correya, el Baião das Alagoas em 76 eu acho um dos baiões mais bem arranjados que já  ouvi . Gonzaga  e Clara  Nunes gravaram Viola de Penedo  de Luiz Bandeira, lindo   baião de viola. Alceu,  no ápice do udigrudi fez Espelho Cristalino que batizou o disco e a mina da história era uma baiana que morava em Maceió  Alceu também gravou Martelo Alagoano no disco Cavalo de Pau; Zé Ramalho também tem uma música batizada de Martelo Alagoano.   Tororó do Rojão, o Manoel  Apolinário, craque de bola e do ritmo, alagoano que viveu e faleceu em Maceió, Sigura Minino

Foi nas Alagoas que Manoel Biano há 100 anos iniciou  o Zabumba Cabaçal que ainda hoje vive no Zabumba Caruaru. Chiquinha Gonzaga gravou Xaxadinho  das Alagoas com seu irmão Zé Gonzaga;  Lili Melo  gravou Xote Alagoano; Pedro Sertanejo gravou Forro. Alagoano e seu filho Oswaldinho o imitou  

No  célebre disco de Waldete e Seus Cometas, Adeus Jacobina  tem samba de zabumba e isto é coisa do sertão baiano na divisa alagoana. Joana Flor das Alagoas  acho uma das mais belas de Elomar 

Das Alagoas vem o batuque de Palmares, tronco raiz da insubordinação negra e esse é  um capítulo muito grande pra fazer aqui. O Aboio e a Cantoria de Repente, assim como o  Coco de Embolada, também. Sabido que vem de lá  a literatura universal de Graciliano  de Vidas Secas   São Bernardo. 

A  cultura alagoana chegou até mim através dos imigrantes que vieram pra região trabalhar nas monoculturas do algodão nos anos 30/40 do século passado; depois vieram o feijão, a mamona e o sisal. Muitos acabaram ficando  por aqui e a proximidade do Rio São Francisco  tornava não tão longe esse o intercâmbio.  Atraves desse povo nas visitas, conversas, convivência muito aprendi sobre lá.

Tanto ainda teria pra dizer o quanto me influenciou as coisas da terra alagoana 

https://youtu.be/jBgT4_qQMog?si=rFH5T8hJg2hCMf3q


A LITERATURA ME FEZ ESCREVEDOR

     O  uso intenso da capacidade de enxergar que tive ao longo de longos  45 anos de leitura interpretativa me remeteram ao uso do auxílio luxuoso de óculos; diei uns 6 anos pra me resignar ao fato e já tem 2 meses da adquerência do bólido ótico e ainda não acostumei.
   A leitura foi um dos grandes prazeres que desfrutei e na tentativa de acostumar-me com a careta nessa cara que já é feia, vou revisitar os livros mais impactantes que li nessa sofrida vida de leituras 
Vidas Secas, de Graciliano Ramos , abrirá a lista pelo impacto de ver no livro o que eu menino via na realidade  do meio pobre desse sertão do qual eu descendia e fazia parte. A escrita concisa, estilo árido e único de um homem mais que cético, um desacreditador, um incrédulo na bondade e  na fraternidade humana, ele previa que o  triunfo da usura e da avareza seria duradouro; não haveria amor. De lá até hoje o tempo mostra que havia razão pra angústia do escriba alagoano de Quebrângulo; aliás, Angústia é outra magistral obra dele assim como Insônia, São Bernardo, Memórias do Cárcere, Alexandre e Outros Heróis é o realismo fantástico do escritor; a parte lúdica assim como Terra dos Meninos Pelados fantástico conto surreal de quem domina a ciência da transmissão pela linguagem da imensidão imaginativa .
Pra mim, Graça tá entre os maiores da literatura universal .
Clara dos Anjos do outro monstro universal, Lima Barreto que tem obras da estatura de Recordações do Escrivão Isaías Caminha,  Triste Fim de Policarpo Quaresma; sua coleção de contos é insuperável, consciente da sua classe, da sua cor e do destino reservado à gente da sua cor, combateu com a escrita, corroendo-se no álcool, a morfina dos sonhadores do impossível e,  cientes disso, caminham corajosamente para o fim. Ele deixa esse recado através do consciente delírio final do poeta Leonardo Flores .
     0s Irmãos Karamazov de Dostoievsky e Guerra e Paz também é incrível, O Cortiço de Aluízio Azevedo, Terra e Paz de Tolstói, Germinal de Émile Zola, A Mãe de Gorki,  O Romance Histórico de Luckacs, Crônica de Uma Morte Anunciarada de Garcia Márquez, A Montanha é Muito Mais Que Uma Imensa Estepe Verde de Tómas Borges, 
Feliz Ano Velho de Marcelo Rubens Paiva, 10 Dias Que Abalaram o Mundo de John Reed, Enterrem Meu Coração na Curva De Um Rio  de Dan Brown...
Já dobrei a esquina da vida e sei que não revisitarei todos até porquê tem dezenas de outros que não li e... quem sabe?
Hamilton Britto

A PALAVRA É FERRAMENTA

Colega você não canta
A chula porque não tenta 
Não lhe custa nada
Cabeça desocupada 
Deus ou o Diabo  atenta
O sol não atenua 
Não tem sombra na rua
A temperatura esquenta 
O  vento faz a poeira 
Carregano a bagaceira 
Numa agonia lenta
Morre tudo que se  planta 
Colega você não canta
A chula porque não tenta

Colega você não canta
A chula porque não tenta
O verso paira no ar
Capta-se ao respirar 
Do luar se alimenta
Um quarto de cada fase 
Na métrica faz a base
A inspiração fomenta  
Sextilhas,  martelos, sonetos
A soma do quadrado dos catetos
A palavra é ferramenta 
Divulgada pela garganta  
Colega você não canta
A chula porque não tenta

CORAÇÃO INSANO (UM DISCO DE WALDICK SORIANO)

Um disco de Waldick Soriano 
Expõe meu peito à dor
Desilusão, desengano 
Sofro tal qual o  cantor 
Que  fala da flor. 
Ferido pelo espinho 
Perdido na estrada da vida
Não sabe  de volta o caminho
Desacertou na bebida 
Tristeza virou  alegria 
Sem  esquecer do dia
Voltou,   ela  partiu
A fenda no peito abriu
Sangra sem cicatrizar 
Quem já perdeu alguém 
Aprende que é  inútil chorar
Quando sabe que  não vem
Não adianta esperar 
Irreversível é  o dano
Nunca mais vai curar
Coração insano 
Agora não há mais plano 
Só resta o embriagar
Ligar a radiola e escutar
Um disco de Waldick Soriano 

DO CORDEL

Eu sou do cordel 
De déu em déu
Registro meu versejar 
A base do meu repente 
Qualquer glosa que eu tente
No meu coco de embolar 
Guarde eu na minha mente 
Dígite no celular 
Ou escreva no papel 
De déu em déu
Janela do horizonte 
Minha lavra bebe na Fonte 
Dos romances de cordel

Inda era um minino
Comprava na mão de Dollino 
Sobrenome Ferreira Aragão 
Poeta de convicção
Sábio da inspiração 
Rimas de caso pensado 
Sem medo de coroné 
Num plantou capim guiné
Pra boi abanar rabo
Intimidado não se calou
Foi à Brasília Dizer 
Na cara do ditador 
Seu cara de viado que viu cachimguelê

A VANGUARDA COMBATE A REAÇÃO

Adversidades
Vivo conectado 
Às últimas novidades
Coisas   do passado 
Requentadas na estufa do planeta
Do produto não sobrará  
Nem o  QR Code da etiqueta
É muito carbono no ar
A chapa ainda mais vai esquentar!
Muitos gases aquecem a atmosfera
Fermentam poluição 
O homem é a fera
O capitalismo a ferramenta 
Vamos ver até onde o planeta aguenta 
Tanta agressão 
Desde que um irmão escravizou outro irmão  
Evolução decadente 
Pautada na exploração 
Pela  posse do excedente 
Poder e glória 
Gerando impasses
Conflitos  da história 
Luta de classes
Vanguarda combate  a reação 
Revolução e contra-revolução 
Pião versus patrão 
Tomar o ferrão da mão 
De quem fustiga e ferra 
Conflito que nunca se encerra
De antemão 
Haverá  sempre guerra na terra

LEVADA PRA LIA

Faz isso comigo não
Lia 
não maltrata o meu coração 
sem você, sem alegria 
só tristeza e  solidão 

Desde o primeiro dia
que ti vi no meu sertão 
o olhar que me  atraía 
despertou  uma paixão 
diga que me quer de novo Fia
que te faço uma canção 

Faz isso comigo não
Lia 
não maltrata o meu coração 
sem você, sem alegria 
só tristeza e  solidão 

Desde o primeiro dia
que ti vi no meu sertão 
o olhar que me  atraía 
despertou  uma paixão 
diga que me quer de novo Fia
que te faço uma canção

A PETIÇÃO DE GAPON

Um abaixo-assinado digital 
Pra gente deixar de ser escravo
Piedade  Ó patrões 
Pedimos em dedagravo
Nos libertem desses grilhões 
Renuncien à tirania
Do luxo das suas mansões 
Deixen de ser burguesia 
Retirem as algemas das nossas mãos 
Do pescoço tirem o laço 
Já que somos irmãos 
Vamos nos dar um abraço 
De tudo faremos pelo perdão 
Alimentarmos a sua riqueza
Zero de sublevação 
Viveremos a beleza da pobreza 
Acreditamos na sua piedade 
E na benevolência dos seus
Necessitamos dessa caridade 
Pois somos todos filhos de Deus
Nas suas mãos o nosso bem
Amém 

ABC SULETRADO

Fê, guê,  lê, mê, nê, rê, si......

Oh! faltou o ji

Depois do guê

Antes do lê


            A,  bê, cê, dê, é, fê,  

Guê, agá, i, ji, lê, mê, 

Nê, ó, pê, quê, rê, si, 

Tê, u(vis), vê, xís, zê

Dáblio,  cá e psilone


Fê, guê, ji, lê, mê, nê, rê, si

Meu alfabeto eu canto assim

Sotaque gravado em mim

Insansin, issassim, isso assim 

Ansim, insansin, ansim


Pê rê ó, pró;  fê é  si, fés; si ó sô, rê a rá

Professora 

É  lê é,  lé;  fê a nê;  fan,  tê e,  té

Elefante 

A, rê a, ra, rê a, rá

Arara 

Cê agá o,  chó; cê o có, lê e, jé  tê e i,  tei; rê a, rá

Chocolateira

Chaco-chaco, laco-laco, teé-tei, rê-ará

Rê e, ré; pê e nê, pen; tê i si, tis; tê a, ta


Repentista  alfabetizado 

Gosta de soletrar  Quadrão 

Lá no meu sertão 

Tinha que aprender 

O caboco só lia 

Quando  sabia

Ôto ABC

DERRADEIRO ATO, DERRADEIRA HORA

Não precisa fugir de mim
Estou caindo fora 
A tristeza  que sinto 
Toda vez que me ignora 
Percebo que procuras 
Jeito que eu vá embora
Existem outros lugares 
Longe de onde você mora
Morreu parte de mim
Aquela que te adora
Derradeiro ato
Derradeira hora
Esta é a última vez 
Que que meu coração chora

SEXTILHA DO BELO MONTE

É mais do que dizem
O Biato era muito mais que um homem só
Foi radicalizar os conselhos
Vieram sem piedade nem dó
O sangue sertanejo jorrou
Sangrando o açude de Cocorobó
(Sextilha de Belo Monte)

BEBO PRA NÃO ESQUECER

Maria aguarde
Por favor guarde 
A garrafa do aguardente
Chegarei mais tarde
Vamos queimar o dente
Na boca é brasa que arde
Saliva ardente  
Oxente 
Fogo toma conta da gente
Amor e o álcool na mente
Menina, decente

NOS 10 DE GALOPE NA BEIRA DO MAR

Beira mar, beira mar

O sertão é mais distante

Fica bem mais adiante

Dos que não querem enxergar

Mesmo assim eu vou falar

É coco, cantoria e repente 

Improvisado  da mente 

Centelha  pra detonar 

De prontidão  pra disparar 

Nos 10 de galope na beira do mar


Beira mar,  beira mar,  beira mar

Acompanho a ideia 

No tempo da Pangeia 

O sertão foi beira mar 

Esse coco é pra lembrar 



A seca quando encosta 

Raleia a caatinga

Pouca água na moringa 

O trovão não manda respostas

O sol quente nas costas 

Quintura de rachar

Nem adiantou tentar

O que plantou perdeu 

Nem o milho colheu

Nos 10 de galope na beira do mar


Beira mar,  beira mar,  beira mar

Acompanho a ideia 

No tempo da Pangeia 

O sertão foi beira mar 

Esse coco é pra lembrar 


Procurar um serviço fora 

Pra poder sobreviver

Fiado ninguém quer vender

Difícil ver uma melhora

Maldita a classe que explora 

Vive de parasitar

Se ocupando em governar 

Corrupção e maldade 

Dizem fazer caridade 

Nos 10 de galope na beira do mar


Beira mar,  beira mar,  beira mar

Acompanho a ideia 

No tempo da Pangeia 

O sertão foi beira mar 

Esse coco é pra lembrar 


Pro meu avô era assim 

Também no tempo de papai

Vai e vem, vem e vai

A luta não tem fim

Será assim depois de mim

Muita coragem pra encarar 

O que vier enfrentar

Vai saber o quanto custa

A vida é mesmo injusta 

Nos 10 de galope na beira do mar


Beira mar,  beira mar,  beira mar

Acompanho a ideia 

No tempo da Pangeia 

O sertão foi beira mar 

Esse coco é pra lembrar 


Beira mar, beira mar

O sertão é mais distante

Fica bem mais adiante

Dos que não querem enxergar

Mesmo assim eu vou falar

É coco, cantoria e repente 

Improvisado  da mente 

Centelha  pra detonar 

De prontidão  pra disparar 

Noa 10 de galope na beira do mar



Beira mar,  beira mar,  beira mar

Acompanho a ideia 

No tempo da Pangeia 

O sertão foi beira mar 

Esse coco  é pra lembrar 

ARTISTA EU JÁ NEM ERA

Artista já eu nem era
Só andava com a galera 
Artista eu nem sou
Nem sei pra onde vôo
Artista nunca fui 
Tem horas que  a rima não flui
Com a arte  vivo aprendendo 
Mas não tem meu pé tá doendo
Pião,  proletário
Vivo em busca do salário 
Se me paga, eu produzo 
Networking  é o meu valor de uso
Fetiches da mercadoria 
Quem vai querer mais-valia?
Se é  cada um  na sua 
Grito no meio da rua
Rh  me entrevista 
Sou passado em revista
Na carteira publicado 
O contrato assinado 
A primeira obrigação 
Dignamente ganhar o pão 
O pão de cada dia
E, quando der, fazer poesia.

CONJUGAÇÕES DOS PRETÉRITOS

O  pretérito-mais-que-perfeito 
É anterior ao perfeito 
Se  não passara
Talvez passará
Agora palavra acentuada
Antes de ocorrer o  passado
Uma ação foi passada
Vós foreis
Mais uma vez
Não  estivera
Nem quisereis
De modo e jeito
O pretérito virou imperfeito 
Eu queria
Mas talvez não deveria
Vai-e-volta  a acontecer 
O passado  continuamente 
Conjugando o peito da gente .
Sofrimento e sofrer 
O  pretérito  perfeito 
É  um passado incerto
Passando longe do perto
Duvidoso no subjuntivo 
O mal tá no indicativo
Partindo do pressuposto 
Se supostamente for
Futuro do pretérito  é composto 
Teria esquecido, não fosse o amor.


INÁCIO DA CATINGUEIRA E A MÉTRICA NO REPENTE

Antes de Inácio  da Catingueira, nascido escravizado, a cantoria de repente nordestina  era de rimas simples  A-B-A-B ou A-B-B-A. Nicandro Nunes da Costa, Silvino Pirauá Lima, Francisco Romano Caluete (vulgo Romão do Teixeira ou Romão de Mãe D'água) já vinham divulgando  a arte trazida à região que   compreende o  Pajeú, o Sertão do Moxotó, a Serra de Santana  e Cariri  entre  os  estados de Pernambuco  e Paraíba, resvalando até  o Ceará. Consta  que  foi Agostinho Nunes da Costa e seus filhos Antônio Ugolino Nunes da Costa e Ugolino do Sabugi na metade do século XIX;  Inácio apareceu  já  no último  quarto  do  mesmo  seculo e desenvolveu as métricas, incorporou  a sextilha  e trouxe outras formas de versos rimados ao repente e as quadras iniciais foram  esquecidas. Veio  a geração que trouxe Severino Pinto (Pinto do Monteiro), os irmãos Otacílio  e Lourival Batista (Louro do Pajeú), Aderaldo e  Zé Limeira e no final dos anos 60, início dis 70 veio uma turma disposta e arrojada  trazendo Ivanildo Vila Nova,  Bule-Bule, Pedro Bandeira, Mocinha da Passira, Geraldo Amâncio, Severino Feitosa,  Sebastião da Silva, Oliveira de Panelas e outros. Esta turma foi responsável pela organização coletiva dos cantadores pelo reconhecimento profissional do repentista que tem como marco o Congresso realizado no ano de 1974 na cidade de Campina  Grande na Paraíba .

Hoje se faz reoente em : 

sextilha 

sete linhas ou sete pés;

moirão;

moirão de sete pés;

moirão trocado;

moirão que você cai;

moirão voltado;

décima;

martelo agalopado;

galope à beira-mar;

parcela;

quadrões;

quadrão trocado;

gabinete;

toada alagoana;

meia quadra;

gemedeira;

ligeira

SAMBA JAZZ

Samba no apartamento
com o ar-condicionado 
discretamente ligado 
notas na interseção 
para não fazer barulho 
e não dar variação 
bi, bi-bi, bibibibibibibi,  bobó
bobó, bobó, bobó 
bibibibibibibi, bi-bi, bobó, bobó
bi-bi, bobó 
pra me tirar dessa fossa 
discretamente   vou rimar essa bossa
pois não tenho mais nada a dizer 
a não ser 
que meu samba é de sofrer
um samba triste 
é da minha natureza 
sendo  essa  a beleza 
mais mórbida que existe 
melancólica satisfação 
batendo suave nas cordas do violão 
no banquinho  encosta os pés
toca baixinho pra sentir a santa paz 
nada pode ser de sobressalto 
é novidade no asfalto 
é samba jazz 
onde o swing  jaz.
bi, bi-bi, bibibibibibibi,  bobó
bobó, bobó, bobó 
bibibibibibibi, bi-bi, bobó, bobó
bi-bi, bobó 
melancólica satisfação 
batendo suave nas cordas do violão 
no banquinho  encosta os pés
toca baixinho pra sentir a santa paz
nada pode ser de sobressalto 
é novidade no asfalto 
é samba jazz 
onde o swing  jaz.
bi, bi-bi, bibibibibibibi,  bobó
bobó, bobó, bobó 
bibibibibibibi, bi-bi, bobó, bobó
bi-bi, bobó 

DISTIORÔ

Resta aquela rede 
Que a gente armava 
Deitava e chamegava
E hoje vive pendurada na parede 
Nunca mais me balancei 
Fui olhar pra ela 
De você me lembrei
Emoldurando a janela  
Pensamento   de tal maneira 
Comoveu que me discalquiei 
Danei a pensar besteira 
Chorei, zói disaguou 
Seu retrato permanece na parede
Ao lado do armador da rede 
tal qual  você deixou 
Vou te contar o que mudou 
Minha vida hoje é diferente 
Ninguém mais me vê contente 
Tudo se distiorô
E a goiabeira 
Que dava sombra 
Pra gente armar a rede 
Seca, quase que  morta de sede
Cupinzeiro já fez um povoado 
Todo fruto que fulora  tá bichado
Mas a roseira inda  solta flor 
Mesmo desbotada a cor 
Cheiro pra sentir o perfume 
Hoje colhi um buquê
Como era seu costume 
Se não fosse meu ciúme 
Tava é cheirando você

TORPOR

As dores que mais  doem 
Trituram e corroem
Torturam e destroem 
A carcomida  dor
De forma não fictícia 
Digerem a notícia 
Está morto o amor 
Nada mais necessita ser dito 
O choro abafa o grito
Torpor ..

CRÍTICA DA KANTORIA PURA

Poeta que diz ser letrado 

Que  no colégio foi estudado 

Se saiu de lá diplomado 

Vai me responder o que lhe foi perguntado 

Me diga o que Immanuel Kant 

deixou de legado?


Sei do legado de Kant 

Já que pede que eu cante 

Sou enciclopédia ns estante

E lhe respondo nesse instante 

Que no meu ponto de vista 

O filósofo iluminista 

Deixou o  referencial teórico 

Do imperativo categórico 

Como alvo das sensações 

Objetos  gerando impressões.e reconhecido na forma 

Assim diz sua norma 

As impressões ganham sentido 

Se houver sensibilidade 

As coisas do mundo serão  conhecidas 

pras que aconteçam

e apareçam 

Ajustada ao desejo e  a vontade

Espaço e tempo são  propriedades subjetivas 

o comodismo, a covardia e a preguiça 

são forças ativas  

A verdade que a moderna  filosofia burguesa hoje é 

Substrato de Kant, nota de rodapé 

Favorável ou sendo contra 

Nele se encontra 

O universo explicado pelo pensamento 

Não  mais do desvelamento 

No idealismo transcendental 

O aprendido  tem significado parcial 

Sua ética fundamenta-se na razão

Mas não saberíamos de nada 

Não fosse a intuição 

E se não determinar o tempo

Confunde-se o sentido 

o conceito será equivocado

Assim foi respondido 

Conforme me foi perguntado

Demonstrei o que Imanuel Kant 

Deixou de legado.

A DANÇA DA RAÇA

Malandro  e  sambista 
Pé de balcão em  buteco 
Poeta e ritmista
Metido a artista 
Toco cuíca, contra-surdo, pandeiro, Tamborim, caixa tambor 
Também  reco-reco
Maluco esperto 
Não tô de  bobeira 
Ando  prevenido 
E vagabundo não tira partido 
Saio do trampo à tarde com a certeza do dever cumprido
E o corpo dolorido 
Acontece  que desde menino 
Criado em casa de  bamba 
Quem nasce com esse destino 
Não foge do samba 
A noite é curta e o dia é  longo 
No  fim se semana pro Quilombo  a gente  descamba 
Tem roda de jongo  
Balançar o couro pra rima girar
Corpo de borracha 
Língua de mola 
Foi o passatempo 
Que veio de Angola 
E jongo só joga quem sabe jogar 
Quem da sua raiz pode se orgulhar 
Juntar com seu povo pra celebrar
Nunca desistir, insistir, lutar 
Jamais  foi fácil, nem nunca  será 
A história taí para confirmar 
Nada vem de graça se não for buscar 
Vai  ficar sentado vendo o tempo passar 
Dessas amarras nunca vai se livrar 

Aí é  o jongo e foi vovó
Foi a véa Ermina 
Negra gente fina 
Mestrada nas artes da sobrevivência  
Dominou a ciência 
da subsistência  sem  subserviência 
A cabeça nunca abaixou 
Botou tabuleiro, lavou de ganho,também  garimpou
Filha de Santo a vida do terreiro 
Nunca que deixou 
Fechou o meu corpo 
com galho de Guiné , jurubeba e fumaça 
A véa me saravou 
Me ensinou o jongo 
A dança  da raça 
E até hoje no jongo eu estou 
Agrradeço vovó 
Muito obrigado vovó 
adúpé   baba agda


MANÉ GOSTOSO

Onde se fragmenta a matéria 
Um  cérebro em estado de miséria 
Gerado artificialmente 
Para substituir a mente 
Primeiro tritura
Em forma de serial 
Na parte obscura 
Da zona abissal
Um chip gerencial 
De conteúdo banal
Pra reprogramação mental 
Com boleto mensal 
Pré-artificial foi a mente 
Que te fez artificioso 
Dançando no cordão 
Feito mané gostoso

FARINHA AO VENTO

Futuca a tuia maninha 
pega na  cuia 
Um bocadinho de farinha 
com a mesma mão que dibuia
enche a palma todinha 
fechano tipo conchinha 
joga na boca a crueira
antes do gosto a poeira
o pó no ridimuinho  some
baiano xinga uns nome 
certo desgosto consome 
sem farinha não se come 
pra soprar mamona não tem
na hora da boia vem 
agosto venta demais 
farofeiro passa fome 
não pode papá em paz 
pois todo bucado que jogue 
é possível que o vento tome 

VAQUEIRO FAKE

Canta piseiro 
Conta dinheiro 
Guardando no miaeiro
Tira onda de vaqueiro 
vaqueiro fake que não sabe aboiar 
monta cavalo, tira selfie 
Sem sair do lugar 
Vaca nenhuma  sabe ordenhar 
Banho no berobo também   num sabe dar
Uma cia nunca soube arrochar
Pega de boi a coragem nunca dá
Pois no espinho tem medo de se furar 
Usar os couros a cútis vai estragar 
Quebra a zunha que acabou de pintar 
Seu tênis caro o quiabento  pode atravessar  
Nunca viu uma sela Curaçá
Sem ter controle égua vai rifuná
Se de um lado o rabo do boi tem que pegar 
Do outro lado é quem tem de derrubar
No streaming é o primeiro a faturar 
Nem  Gozação fdp  soube respeitar 
Não tem limite seu sadismo em aviltar 
Descaração vem em primeiro lugar
vive bebendo pra dizer que é  alegria 
Não tem raiz essa sua melodia 
trilha sonora baseada em putaria 
Desfaçatez se mistura com agonia 
Não  é forró , o seu som é  porcaria.

CANAVIAL, FÁBRICA, CAPITAL

A fabrica é o canavial moderno 
uns de uniformes 
outro de temo
pensam que o  capital seja eterno 
não se pode mudar 
mundo moderno 
fazendo de conta 
que é possível se colocar 
basta tá focado 
dar de conta 
basta estar preparado 
acreditar e ser capaz 
cavalo passa selado 
acredita, futuro  traz
basta parar
de problematizar 
de achar ser culpa 
do capital 
de tu ter sido gerado 
como mais um escravo 
do sistema no canavial 
tem que produzir!
tem que produzir!
servir!
servir! 
servir!
por qualquer motivo fútil 
basta estar sendo útil
produzindo!
servindo!
pra existirem senhores 
existe sempre o motivo 
vidas viram penhores 
lares viram horrores 
não me considero cativo 
por outros motivos eu vivo
vivo mal, muito mal
passo nicissidade  
pra todos exemplifico
um número na sociedade 
em quanto quantifico
pra quem faz  a realidade 
cadastro gera cartão 
espertos usam macetes 
O sufrágio faz o cidadão
estando no luxo dos palacetes 
ou, mesmo, que more  na rua 
iluminado pela luz da lua 
A riqueza ou a pobreza
vendem tudo por  beleza
a posse material 
e a vida continua 
canavial, fábrica, capital 
ô sinhô, ô sinhá 
vão  se lascá!!



PRIZUNHA

Prizunha 
Prende no dente
Corta na unha 

Gata manhosa 
Matreiro olhar
Já me pegou
Vai me zunhar
Vai me lamber 
Vai me arranhar 
Vai me morder 
Vai me cortar 
Vai me provar 
Vai me satisfazer
Vai me untar 
Vai me comer 

Gata no cio 
Ranca meu pelo 
Tenho arrepio
É  desmantelo
eu sou vadio 

NOS 20 PÉS DO MARTELO ALAGOANO

Pra você que cativou meu coração 

Mando uns versos pra que nunca esqueça 

Caso você apareça 

Fique de recordação

O relato da minha paixão 

Estarei lhe esperano 

Continuo lhe amano 

Volte quando quiser

Pois você é  a mulher 

Com quem vivo sonhano 

Dia e noite, noite e dia  

Tanto faz dormino ou acordado 

Em você vivo ligado 

Você é  minha alegria

Em minha fantasia 

Você sempre tá presente 

Alumia meu repente 

Entre nós o oceano

Mas tá sempre no meu plano 

Ganhar dinheiro e juntar 

Pra atravessar o mar 

Nos 20 pés do Martelo Alagoano

Carimbolada

carimbolada na Quebrada 
Eu  boto fé 
lá pelas tantas 
muito doidos de rapé
preparado na Floresta 
por sábio Pajé 
chamei a mina
pra bater um acarajé 
meti o queixo
pra ver qual que é
se rolar intimidade 
pedirei um cafuné 
no colo dela
à sombra do sapé
caminho antigo 
Pra Jequié 
pelo Rio das Contas  
Chega  Itacaré

EM TURVAS

Faço planos em vão 
Sonho perdido
Mera ilusão 
Indefinido
em turvas navega 
a minha canoa 
a procura é cega 
remo à toa  
Vou me perder 
Enquanto espero 
Nada posso fazer 
Se é você que quero

ELA VAI VOLTAR

Hoje ela voltou pra casa 
Mas não foi pra ficar
A bem da verdade 
veio matar sua sede 
A nossa vontade
A minha saudade 
veio se deitar na rede 
E pra gente se amar .
Eu já nem peço mais 
que ela não vá 
pois eu sei que ela  vai 
sofro por demais 
pois de mim ela não sai
Dentro de mim sobrevive
Faz acreditar  
foi um sonho que tive 
Ela vai voltar 

POR QUEM NÃO MERECE

Sonha e não acontece
Um bobo  padece
Sofre por quem não merece 
Êta coração besta
Lembra de quem lhe esquece 
Espera quem  não aparece
Vive do que  adoece
Nada lhe oferece
Razão que enlouquece  
Espera quem não comparece 
Saudade chega e o enfurece
Cega e lhe entorpece
Riso por quem entristece 
Chama por quem emudece
Calma que lhe endoidece
Força que lhe esmorece 
Preferência que não favorece 
Esforço que não se reconhece 
Eu mando ele não obedece 
Tento e ainda permanece 
Sonho que não acontece 
Um bobo  padece
Sofre por quem não merece 
Êta coração besta
Lembra de quem lhe esquece 

CACHORRA QUE NUM SE PODE CRIAR PERTO DE GALINHA

Cheguei na casa de Mamis  e resolvi testar o instinto selvagem de Groovina, a cachorra mãe  de Vinagretchen e Colorau.  Botei coleira e corrente, coisas que ela não via há tempos;  logo na primeira esquina um pitbull solto  e Grovinésia partiu pra cima tentando me puxar. Inda bem que o bicho era bem criado, cavalheiro e manso; quando o dono saiu na porta da garagem e botou o cortês cão pra dentro de casa eu o elogio pela criação de cachorro tão distinto.
Partimos em direção á caatinga numa capoeira de subida de um morro e soltei a coleira a cachorra pegou uma boca de vereda e subiu distampada morro a cima mas eu não fui atrás, fiquei observando as coisas numa sombra de fazer lombra. Lá pras tanta dos seus 15 minutos ela chegou e voltou correndo, levantou uma nambuvis:
-prúuuuuuuuuuuu.
Feita a verificação e posso certificar o que eu já dizia: raça de instinto perdigueiro. 
Na volta partiram 3 cachorros pra cima dela e aí eu tive que enfrentá-los  pondo -os a correr com um cipó de malva

SONORA COMPLIANCE

Bala brochante
Tocando nesse instante 
Papo cabeça 
Música na novela 
Pra subverter a favela 
Meio sem pé nem cabeça 
O que quer que aconteça 
O que quer que você pense 
A mpb sempre vence
Se liga no estilo 
Do tempo do bicho grilo
Grilo na cuca
Armada a arapuca 
Usa o verbo, indefecto
Impressiona o freguês 
Coisas do intelecto
Charme de pequeno burguês.
Louvar mecenas pode
Falar putaria dá bode
Sem chance
São regras da compliance 



SHANGRI-LÁ, O Horizonte Perdido

É  cunversa de cumpadi 
Num leve pra maldade 
Pura amizade 
Tipo Tarcísio e Haddad 
Lulominion pira
Com ciúmes de Lira
Pega o beco
Tudo jogador caro 
Excluiram coisonaro
Articula com Pacheco
Libera verba pro centrão 
Faz a plateia de otária
Na reforma tributária 
Um ajuda outro ajeita
Uma verba lava a mão 
Da esquerda 
Da direita 
Joga no centro, joga de meia 
Em nome da constituição 
E do delegado Sansão
Posso até ir pra cadeia.

TENTA NOVĪÃ

A novīã tá dizeno 
Besteira porque é  nova 
Diz que o vein 
Tá de pé-na-cova 
Que vai pegar o coitado 
Vai dar uma sova
Tenta novīã, tenta novīã
Eu quero é prova 
É  bom duvidar 
Pensar que é  mole e me dar
Só assim tu comprova 
Vou te dar canseira
Oral logo de primeira 
Passeio pela traseira
E ainda faço trova 


NOTÍCIAS TRISTES: SEM CELSO, SEM DONA NEGA

Hoje fui na CEF ajeitar uma conta salário e participando das conversas na fila depois de relembramos a Cachaça Santa Rosa, lembrando do povo de Tapiranga e da ruindade de Horácio Pires,  que cobrava metade da renda do licuri que fosse  catado na imensidão do seu latifúndio nas Fazendas Roque, Sossego e Pernambucana onde meu avô foi tratorista logo depois de aposentar-se na Codevasf; saiu de lá depois de escorar o lazarento na ponta do punhal por causa de desaforo. Tá fazendo 40 anos que meu pai fez a ligação da estrada que liga Tapiranga (Tanquinho)  a Itapura  (Mucambo); antes disso pra ir de carro de Tapiranga pra sede de Miguel Calmon tinha que fazer a volta por Serrolândia e passar em Jacobina, isso devia aumentar o trajeto em uns 60, 70 quilômetros,.
Esse companheiro que tava proseando comigo era de Cachoeira Grande, caminho por onde a Kombi de seu Davi levava a gente de Jacobina pro Tanquinho. Falou da Cachoeira eu perguntei se conhecia Celso, Vaqueiro e sua ex-mulher e amiga, Dona Nega, xará da minha vó. Foi mesmo que receber um murro ca caixa dos peitos: Dona Nega morreu no corona e Celso  faleceu de outra coisa depois.
Eles, praticamente me viram nascer, meu pai conheceu Celso em Mirangaba eu ainda era menino, meu pai tratorista e ele vaqueiro.
Negro forte, altura mediana, pro eu menino nordestino, fã de vaqueiro, era  meu herói de infância; fim de semana eu ia pra fazenda em que ele trabalhava e ficava até seginda; ia nos feriados. Aprendi a montar cavalos com ele, selou e disse que eu fizesse amizade com o animal antes de querer que ele me carregasse, nunca mais ninguém precisou me ensinar de montaria, tirar leite também sei. 
Na mudernage foi afamado corredor de vaquejada,  argolinha e montão. Pegador de marruá,
amansador de burro afamado, aboiador afinado e um artista dos arreios ; quando cansou de ser mandado largou a profissão de vaqueiro e foi viver de selaria e passou os últimos 30 anos, fazendo selas, cabeçadas e arreios, deixou de  montar pros outros. De ruim,  separou de Dona Nega e agravou o alcoolismo. 
Tem uns 3 anos que o vi pela última vez na saída da cidade, fala mansa reforçada pela educação e o cuidado que sempre teve comigo. . Dona Nega faz mais tempo que eu não via, vivi prometendo visitá-los na Cachoeira e agora sei que perdi a oportunidade pra sempre. 
Fica a eles minha gratidão e a certeza da importância que tiveram na minha vida.

RUMO AOS 100

A  verdade tem que ser compreendida 
Já  dobrei a esquina da vida 
Maluco  vida loka 
Segunda idade e meia
Num drumo  de toca
Não conheço cadeia 
Não tenho vergonha  
Fumo maconha 
Fugi da escola 
Nunca roubei 
Joguei muita bola 
Jamais matei 
Tomei banho de Lagoa
Escapei na virada da canoa
Já amei muita mulher 
E, parece, nenhuma mais me quer 
Não tenho mais  ninguém 
Vou caminhando no rumo aos 100
Que duvidem vocês 
Mas semana passada já fiz 53
Embora não seja do amém 
Estou certo disto
Quero ir além 
Passada a idade de Cristo 
Quero a de Matuzalém

HUMILHAÇÃO

Pra arrancar o seu espartilho 
Eu me humilho
Querendo mais 
Sofrer do bem 
Que tu me faz

Um ensaio cipriota

Ao longo da história a pequena ilha de chipre tem sido palco de invasões e ocupações por parte de estrangeiros,desde os aques em XII a.c. vindos da grécia entre os séculos VII e I a.c. , fenícios, assírios, egípcíos e persas subjugaram e dominaram aquela ilha localizada estrategigamente no mar egeu e produtora de cobre.

 Esteve subjugada à Roma e, depois,  Bizâncio,  os Árabes a submeteram ao islã pors 300 anos até que Ricardo Coração de Leão a conquistou numa cruzada no século XII, seguiram-ze os Venezianos até que em 1751 quando caiu nas mãos do Império Turco-Otomanos. No século XIV, chegaram os ingleses e em 1959 ganharam autonomia tutorada por  Inglaterra  Turquia e Grécia daí seguiu-se uma disputa conturbada o que levou a divisão da ilha entre a parte norte somente reconhecida pela Turquia que ocupou militarmente e  grega também militarmente ocupada pela OTAN  que faz parte da União Européia e de onde vem a notícia de um possível calote ou, nos lacônicos comunicados do governo, um confisco sobre parte dos depósitos bancários.

Essa notícia deixou o "mercado" em polvorosa, o Chipre tem importância industrial e econômica irrelevante na economia européia, sua estratégica localização geográfica  a põe no centro entre os balcãs e o oriente petrolífero, uma "Sarajevo do mar"  espionagem, terroristas,mercenários, máfias, tráfico de armas, de drogas, de pessoas, de material nuclear e o que mais? Aquilo que é a razão de todas essas transações, o capital. Então é certo afirmar que lá também funciona uma " lavanderia" do capital, o sistema bancário de lá  gerencia atividades mafiosas dos grandes capitais mundiais, uma faceta do poder burguês

Um calote cipriota vai  estremecer capitais  ligados a  essa engrenagem  militar e econômica que funciona naquela ilha e eles estão espalhados ao redor do mundo ....

GABINETE DO AMOR


Quero bem, quero bem 

Meu amor queira também 

Igual você não tem ninguém 

Quero bem, quero bem 

Meu amor queira também 

Igual você não tem ninguém 


Mora no meu coração 

Aquela que é mais bonita

Eu digo, ela desacredita 

É imensa a paixão 

Fonte da inspiração 

A quem  tanto quero bem 

Lhe fiz uma declaração

Durante o trajeto do trem:

Sem amor ninguém vai,

Sem amor ninguém vem!

Vai e vem, vem e vai,

Vem e vai, vai e vem.

Tanta paixão que eu tenho

Tão intensa ninguém tem,

Quem não se sente capaz 

Tente sentir também 

Mande recado e bilhete

Quem não canta Gabinete 

Não é cantador pra ninguém!


Quero bem, quero bem 

Meu amor queira também 

Igual você não tem ninguém 

Quero bem, quero bem 

Meu amor queira também 

Igual você não tem ninguém 

ME ACHO (Penso que Sou)

A rima chega na hora 
Costume  improvisador
Deve ser por isso
Que me acho, penso que sou 
Se traço o verso na hora
Posso me  achar  rimador 
O coco de embolada 
Que a cachola tirou
Mais uma  pedra que rola
Arenito que  água furou
Pintura rupestre 
Da Serra do Tombador
Maracujá-do-mato
Traz boniteza  na  flor
Grito de rasga-mortalha
Lagedo que despencou
Rebolo desce rolando 
A taipa que rebocou
Galho seco quebra
Marmeleiro envergou
Se deu  na embola 
Na embolada embolou
Figo que tá na figueira 
Digo que madruceu
Se ela tivesse juízo 
Não tinha largado d'eu
Nosso amor não mais existe
Pra mim já faleceu 
Até mesmo minha trova
Garanto que lhe esqueceu
Tô pro que der e vier
Ausente pro que não deu 

A rima chega na hora 
Costume  improvisador
Deve ser por isso
Que me acho, penso que sou
Se traço o verso na hora
Posso me  achar  rimador

AMALÁ

O prato foi feito pra Ogun 

Num boto defeito nenhum 

Saboroso dicumê

Feijão-fradinho, camarão 

E azeite-de-dendê 

Eu não tenho preconceito

Pode me oferecer

Eu respeito 

É só me mandar dizer

No dia da oferenda

Posso  ataque  bater 

Batuque come no centro 

A comida e o couro vão esquentar 

Até eu que sou ateu 

Entro em transe 

Num prato de Amalá

Ogun era o Santo dela

A quem ela quer exaltar 

O povo samba em redor

Fazendo o caboco se manifestar 

Fui criado por vó 

Pedra que  limo não deixo criar 

Por isso não  esqueço do catimbó

SEXO SELVAGEM, GOURMET SACANAGEM

Comer-te
Realizar a tara 
Te passar na vara
Volúpia de canibal 
Dentro  da tua caverna 
Te pegar de pau
Gatinha moderna 
Vou te comer com sal
Back-up, upload
Download, tacape
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Download, tacape

UMBURANA DE CHEIRO

Ciarense no nome 

Mascar engana a fome

 É Cumaru Caatingueiro

Da família da cerejeira 

É umburana de cheiro 

Pra doenças respiratórias e intestinais 

Pra tudo que der gemedeira

E otas cositas más

O caroço serve 

É só pisar

No copo com água misturar 

A casca serve

Pra fazer chá 

Pra mastigar

Ferver e tomar 

Cascas e folhas cozinhar 

Banho de cuia

Na água morna tomar 

Pra mordida  peçonhenta

Machucado por dentro

Pra ferida  cicatrizar 

Melhor que água benta 

Foi pro roçado roçar

Caipi  ou destocar 

Na hora de ir pra casa 

Feixe de lenha levar 

Machado é perigoso 

Vacilo transforma em corte 

Não pode brincar com a sorte 

O aroma do cheiro é calmante 

Acalma logo  quem sente

Melhora e segue adiante

De infusão na garrafa 

Tempera o aguardente 

Na hora de bater a boia 

Bom pra queimar o dente

Aliviar o queixume 

No trago o catingueiro

Degusta todo o perfume 

Da umburana de cheiro

OS CINEMAS MAMBEMBES E MARGINAL DOS "TURCOS"

Meu pai tomava conta do cinema da cidade, era exibidor, fazia a bilheteria e cuidava do espaço; durante a semana ele trabalhava como tratorista pro Dr. dono do cinema na cidade vizinha onde ele tinha outro cinema, vários tratores, várias fazendas e muito dinheiro. 
Eram 3 sessões semanais, 2 soirées (de noite) sábado e domingo e  1 matinée (de tarde) no domingo. Rolava Kung-Fu (era o auge de Bruce Lee e os Guerreiros de Shaolin) e Faroeste  Bang-Bang  À Italiana  de acordo com a classificação para soirée e matinée e os filmes   com mulher pekad6a só passava à noite; lembro de dias que meu pai não me levou :A Dama do Lotação, Engraçadinha, Mulher Objeto, Bye Bye Brasil, Chica da Silva...
Isso durou uns 2 anos até 79 quando meu pai saiu de trabalhar  com o fulano  e o cinema fechou.
Vez inquano apareciam os "cinemas de turco" que possuíam estruturas mambembe com lonas e palco  de circo com tela grande onde eram exibidos filmes do circuito marginal produzidos na Boca do Lixo em sua maioria.  Toni Vieira e Claudete Joubert eram os artistas mais conhecidos. 
Nós, garotos de menor e sem dinheiro burlávamos os leões-de-chácara, seguranças, e entrávamos por baixo da lona pra se esconder e assistir.

NÓ DE CABAÇA

O tempo que dura uma cabaça

Quis saber de certeza 

Perguntei  a minha vó 

Vai depender da destreza

Do vivente que deu o nó 

O erro não é aceito 

O laço sai

O nó desfeito 

A cabaça cai

Água derrama

Na terra é lama

E beber num vai  


Um pé de coité

Parece ser de cabaça 

Porém parecer não é 

Quando é grande o maxixe 

Chamado de maxixão 

Seca e vira caxixe

Guizo de percussão 

A cabaça no meio cortada 

Vira cuia

Vasilha agamelada

Uma pequena tuia

De pegar farinha 

Fura, tira pivide e caroço 

Arranje uma linha 

Amarre no pescoço 

Mas cuidado com o nó 

Não é de qualquer jeito 

Aperte sem ter dó 

O erro não é aceito 

O laço sai 

O nó desfeito 

A cabaça cai

Água derrama

Na terra é lama

E beber num vai   

FALANSTÉRIO ( Anti-Dhuring)

Os sentidos como guias da felicidade 

Contra os poderes estabelecidos 

Da velha sociedade 

Assim pregava Fourier

A filosofia da boa vontade 

Do que cada um quiser 

Com o que cada um fazer 

Pro que cada um fizer

No quê cada um dizer

Um rechaço moral

Trabalho como prazer 

A paixão é fundamental 

Exercício da  vocação 

Propriedade coletiva 

Dos meios de produção 

Contra a  monotonia do sério 

Proscrita no Index Librorum Prohibitorum

A ideia do falanstério

Pregava o bem comum

Ajuda mútua 

O todo sendo um

Pra todo mundo 

Pra cada um

O fim do antagonismo

E de toda hipocrisia 

Descentralização e harmonia

Da família  monogâmica

Do Poder e da   hierarquia 

Mas, li no Anti-Dhuring

O socialismo utópico 

Não passa de fantasia

Embora de tese libertária 

Não se pode dizê-la

Radical e revolucionária 

Não muda nada

Se não abolir

A Propriedade privada

Esse mal tão específico 

Taí a diferença fundamental 

Do socialismo utópico ao socialismo científico 


2 PRA1

A maior tristeza
Desse rancho
Que já  foi nosso ninho
É eu fazer baião de 2
Feijão e arroz
Pra nós 2
E depois 
Ter que comer sozinho. 
(mas tava era bom...)

CICATRIZ

Abri o meu peito 
Fui dar um jeito
Foi coisa grave 
Cortei na cavidade 
Meti a mão e arranquei
Já que eu amei
Extirpar precisei
Sacudi, balancei
Seu nome não achei
Por todo lugar vasculhei
Excessivamente  procurado 
Não estava cravejado
O que foi tatuado
Foi apagado 
Eliminado 
Não mais em mim 
Até que enfim 
É o fim
Coração no lugar
Vai cicatrizar 

O PRÓPRIO SE DESCONHECE

O poeta hoje bebe
Porque perdeu a medida
Sua mina querida
A paixão da sua vida 
Que no seu coração mora
Resolveu ir embora
Por isso ele bebe
Todo tipo de bebida
E chegou a hora
Hoje se despede  
Bebe porque tá sofrendo 
Dentro do peito doendo 
Ele não vai  desistir
Beberá até  cair
Visto seu amor partir
Pode acabar morrendo 
E deixar de existir. 
Nem sei como tô vivendo 
Todo mundo tá sabendo
A coisa mais dificil
É  fazer o sacrifício 
De arrancar  o que  mora dentro  de si
Tive no precipício 
Inda subi no edifício 
A boca da morte eu vi
Desse mal também já sofri
O Pião  é resistente 
Teimoso e valente 
Que nem os versos do seu repente 
Sujeito ligeiro 
Se previne primeiro 
Caba direito 
O que fez tá feito
Nunca que deixa faltar 
Mas hoje não tem jeito 
O limbo lhe servirá de leito 
Cairá de tanto chorar
O que acontece
O poeta padece 
Seja como for
Ele não esquece
Um poeta sem amor 
É aranha que não tece
O próprio se desconhece

TANINO DO ADEUS

Hoje é  vesperal do dia  Vou te esquecer 
Amanhã não lembrarei 
Nem quererei saber
Exagerarei
Até entorpecer
Lisergicamente adormecido
Moinhos triturarão lembranças, 
Terás ido
Diques conterão esperanças,
Terás sido.
Alheio 
Apago sua imagem
Nem mando nem leio
Qualquer Mensagem
Não  sinto o sentimento  
Absorto  no momento  
No sabor  do esquecimento 
Ficará da língua a nódoa  amarga
Tanino do arrependimento

LUGAR DE FALA

Quem vai falar do pião
Quando ele, desempregado
Tiver fome de pão?
E o camponês
Em meio a guerra
Quem cuidará do trigo,
Lavrará a terra?
As crianças
Que crescem com o futuro traçado
Pra muitas faltará de tudo
Pra poucas o montante acumulado
Nas relações do capital
Que dominam a sociedade
A raiz de todo mal.
E nesta eleição
A perspectiva ilusória
De uma proposta vazia 
Que canta vitória 
E viva a democracia
Enquadra o descontentamento
No que o Estado julga o direito
Se grita fica sem jeito 
Entrega pro parlamento
Alguém pra engavetar seu lamento

SIMPLÓRIA HISTORIA DE UM AMOR QUE ACABOU ( Desgamou)

Um amor que não deu certo
Bem melhor sair de perto 
Já que tudo deu errado 
Cada qual vai pro seu lado 
Ela quem quis separar
Lhe restou só lamentar 
Ela sempre  encontra alguém 
Ele não quer   mais ninguém 
Ela se esbalda no forró
Ele fica sempre só 
Domingo  marca bingo 
Ela na praia mais o gringo 
Ele enterte na  cachaça 
Ela de love com uma loiraça 
Seu  streaming rola Sting 
Mas ela é fã de swing
Ele sempre se dá mal 
Ela forma até trisal 
Ele não aceita não 
Ela faz dupla penetração.
Bebeu demais, caiu, rodou 
Ela gravando pornô
Desgamou, desgamou
Tchau, tchau, tchau 
Tchau para o amor 

MESTRE NILO AMARO E OS ESQUECIDOS CANTORES DE ÉBANO.

ANJOS QUE CANTAM- Um disco seminal 

Moisés Cardoso Neves adotava o nome artístico de Nilo Amaro era Maestro de Arranjo e Regência autodidata que fazia música negra religiosa  mas experimentava peças do cancioneiro nacional e os "spirituals:, música religiosa americana. Nilo era Tenor e formou um  coro de 9 vozes negras femininas e masculinas:  um soprano, um mezzo soprano, um contralto, dois baixos, um tenor e três barítonos. Gravaram 2 LP's pela Odeon em 61 e 63, fizeram vários shows pelo Brasil e no exterior. Douglas Júnior contava que nos EUA o empresário sumiu com a grana e eles só voltaram ao Brasil com ajuda da Embaixada. 

Amaro foi o primeiro a trazer pra nossa música os "spirituals", que eram os cantos dos negros escravizados no Sul dos EUA. Estas cantigas  evocavam a  religiosidade,os costumes  tradicionais ou davam a letra de revoltas  e rotas de fuga, os spirituals foram super importantes para a preservação da cultura e da identidade do povo negro na América do Norte. Toda black music veio daí: gospel,  jazz, soul, blues, R&B, Be Bob…

Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano em referência a árvore  nobre, densa e escura africana. Eles  foram inovadores misturando o  jazz e a música brasileira tradicional ou moderna. 

Lançaram três compactos, em 78 rotações, um pela Dó Ré Mi e dois  Odeon, no terceiro "A Noiva" e "Greenfields", e "Leva Eu Sodade", fizeram sucesso que possibilitou gravar este L, Anjos Que Cantam, um disco fundamental pra história da música brasileira e, mais ainda, da música negra neste país 

 Após o término do grupo Nilo Amaro se virou dando aulas de canto (Jair Rodrigues e Wando estudaram com ele) e formando corais até que em 2004 veio a falecer aos 76 anos em Goiânia onde residia desde 1998.

Douglas Junior, radialista  que morreu em 2010 aos 74 anos, Darci Gonçalves era cantor evangélico e foi o único a comparecer ao enterro do Mestre onde declarou que além de Noriel, uma das vozes femininas também falecera . Noriel, com extensão  vocal de baixo profundo ,  a voz de mais destaque no grupo, morreu ainda jovem aos 38 anos em 1975;  seu disco Eis o Homem, lançado em 1969  vendeu 200 mil cópias. Outro integrante do grupo foi Noel, que formou o Trio Melodia ao lado de Fredson e Nilton, trio muito popular entre 63/73. Meu conterrâneo Jacobina, compositor de algumas músicas gravadas oelo grupo como Uirapuru (com Murilo Latini) tem uns 20 anos que voltou pra terrinha s, pelo que sei, inda tá vivo pra testemunhar.

Nada mais pude apurar sobre estes negros pioneiros da nossa música e me sinto envergonhado pela memória deles; suas histórias eram pra serem conhecidas, seus feitos glorificados, cantados e ensinados como exemplo da altivez da música negra brasileira. 

ANJOS QUE CANTAM é o primeiro dos 2 discos lançados pelo grupo é pelo contexto um disco seminal. Quando lançado não havia nada igual na música brasileira  


01. Leva Eu Sodade (Tito Neto & Alventino Cavalcante)

02. Boa-Noite (Francisco J. Silva & Isa M. Da Silva)

03. Fiz a Cama na Varanda (Dilu Mello & Ovidio Chaves)

04. Canção de Ninar Meu Bem (Bidu Reis & Gracindo Junior)

05. Down By The Riverside (Dazz Jordan)

06. Greenfields (Terry Gilkson, Richard Deher, Frank Miller & Romeo Nunes)

07. A Lenda do Abaeté (Dorival Caymmi)

08. Azulão (Jayme Ovalle & Manuel Bandeira)

09. Eu e Você (Roberto Muniz & Jairo Aguiar)

10. Minha Graúna (Tito Neto & Avarese)

11. Dorinha (Tito Neto & Ary Monteiro)

12. A Noiva (La Novia) (Joaquim Prieto & Fred Jorge)

13. Uirapuru [Bonus] (Murillo Latini & Jacobina)

SUJEITO HISTÓRICO

Tenho pensado na vida

Sem compromisso com nada

Olhando pela janela 

Pensando em cair na estrada 

Pronto pra caminhada 

Voltar por onde passei

Descobrir o que não conheço 

O que vivi eu já sei 

Me servirá de começo 

Tesouros não encontrarei 

Não buscarei por riqueza

Não parto em busca de glória 

Do futuro não tenho certeza 

Sou  parte da história 

O QUE SERÁ DE NÓS

Em qualquer dia
Solteiros na pista
Soltos na buraqueira 
Sem eira nem beira 
Com a sua anuência 
Sendo da sua querência 
Embora já seje da minha preferência 
Os 2 de bobeira 
Danasse a se beijar 
Cansados de estarmos sós
Depois da festa partir 
Algum lugar pra ficar 
Um ao outro se entregar
Num tesão navegar
Juntinhos vamos dormir 
E só depois decidir 
O que será de nós 

SONHO COLORIDO

A  janela fica aberta 
O pé de manga abana o vento 
Que sopra em cima da cama 
Embaixo da janela 
Só faltava quem tá no meu sonho
Ao meu lado dormindo nela
Eu me transformaria em brisa 
Ao mar num barco à vela 
O vento que vem das monções 
Percorreno os pelos dela
Em delírio eu pinto
A palavra mais bela
Balbucio seu nome 
A mais colorida tela

MINA DANÇADEIRA

Moça dancadeira 
Desimpedida e solteira
Quando entra no samba 
É  covardia 
É como sonhar acordado
Até raiar o dia

No tempo dos antigo 
Os mais velho condenava 
Era muita ousadia 
As mais nova iscutava 
Mas o conselho não seguia 
Entrava por uma zoreia 
Na mesma  hora pela ota saía 
Era o barulho do batuque 
Por quem desobedecia
Pela sua silhueta 
Esse toque  se  cadencia 
Conheço muita mina formosa 
Mas que nem você não conhecia 
Até mesmo pensava 
Que a mulher da minha vida
Jamais existiria 
Mas eis que era você  
Que nos meus sonhos  aparecia 
Agora pode ser real
O que era fantasia 
És  a tentação 
Que meu coração 
Jamais resistiria  

Moça dancadeira 
Desimpedida e solteira
Quando entra no samba 
É  covardia 
É como sonhar acordado
Até raiar o dia

    

SEGUNDA OPÇÃO

Pronunciaste que vai me abandonar 

Sente-se  ainda  comigo 

Tanto que eu me dedico 

Indignado fico 

Contigo 

Dói ouvir você me chamar de simplesmente de amigo.

Mas se queres ir,

Vá!

Se pra ti  nesse momento 

É tudo que importa

Estou ciente

Que mais dia menos dia

Retornarás por aquela porta Estará sempre  aberta 

Pois é a estrada certa 

Se der errado a tua caminhada 

A cama ficará sempre  arrumada

Terás sempre seu lugar

E se por acaso,

Saibas coração, 

Se acaso  outra estiver, temporariamente,    

Enquanto estiveres fora,

Com meu corpo e  o meu tesão 

Na hora 

Peço que vá embora 

Avisada estará de antemão 

Que por mais que diga que me adora

Será sempre......

...... a segunda opçãoooooo

http://prosiado.blogspot.com/2023/04/segunda-opcao.html

VALEU TONHÃO

Quando morre um sambador 
O batuque  não se acaba
Nem emudece a dor 
A chula é homenagem 
Da batida do tambor 
Reconhecendo a história 
Do valoroso lutador 
Valeu Tonhão, valeu Tonhão !
Você sempre será lembrado 
Na nossa recordação.
Essa chula é redigida
E vai ficar de decreto
Da saudade que deixou 
Antonio Aniceto.
Seu amigo muito  sente 
Valeu Tonhão 
Estarás sempre presente!

AS SINFONIAS DE BEETHOVEN

Vocês ouvem 

Em que e com qual frequência 

As Sinfonias de    Ludwig van Beethoven?


O que tá mais pro classicismo 

Rigidez racional 

Propriamente pro romantismo

Mais harmônica e estrutural

Com drama, tensão, exploração. 

É visto que se trata 

De uma obra de transição 

Parece absurdo  

O cara da peça musical  mais famosa

Compôs e ao finalizar estava surdo  

O seu segredo 

Era que tinha medo 

Medo do que aconteceu

Não teve remédio

A trompa de Eustáquio rompeu 

Encheu de líquidos o ouvido médio 


Vocês ouvem 

Em que e com qual frequência 

As Sinfonias de    Ludwig van Beethoven?


Antes a sinfonia 

Era tudo instrumental 

Na  harmonia 

Veio o  Bethoven  valorizou  o vocal

Trincou Solista e coro

Germe revolucionário

Falta de decoro 

Portador da transgressão 

Ouvido imaginário

Destruidor da tradição 


Vocês ouvem 

Em que e com qual frequência 

As Sinfonias de    Ludwig van Beethoven?

Moleque Calabar

Reumatol com fitopó

Guaraná do Amazonas 

Pomada do peixe elétrico

Castanha do Pará 

Ponta de zagaia 

Mingau de tapioca 

Farinha de copioba

Chifre de  marruá

Ferrão de arraia

Jundiá de loca 

Folha de maniçoba

Água de gravatá 

Cera de mandassaia

Paçoca, milho de pipoca 

Salada de taioba

Arroz doce, mugunzá 

Melancia da praia 

Vara de taboca

Óleo de andiroba

Bico de carcará

Bago de Sapucaia

Mocotó de vaca

Leite de mangaba

Caroço de ingá

Pena de anun

Batata de teiu

Doce de goiaba 

Alcalóide de pitiá

Semente de girimun

Flor de mandacaru

Chá  de jabuticaba  

Raiz de dandá

Mel de jataí

Raspa do pau do quati

Ponta de faca 

Unha de tamanduá 

Casca de catuaba

Visgo de jaca

Maria do grito

Apronte seu patuá 

Que deu no Cabrito 

Moleque calabar

Carrega na mente

O que não vai no caçuá.

“Caveira My Friend” (1970), de Álvaro Guimarães. P&B/B&W 35mm 86

As aventuras de um grupo de ladrões e assassinos liderada violentamente por Caveirinha, talvez influenciados pelo manifesto  de Hélio Oiticica em Cara de Cavalo  (Seja Marginal, Seja Herói), a ação do grupo serve de fio condutor  em sequências que exaltam ao jeto fora-da-lei de ser; regras e tabus são ignorados com deboche pra ilustrar o descontentamento daquela geração com  o ambiente  repressor  da ditadura militar. A liberdade narrativa representava um radicalismo dispostos a romper os enunciados do Cinema Novo e trazia a periferia soteropolitana à cena

Álvaro Guimarães, falecido há 15 anos (2008) assina  "Caveira, my Friend" mas  é  um filme colerivo, no espirito comunitário , coisa comum à época. Contam que  Álvaro queimou  uma cópia do filne na Praça dos Três Poderes em Brasília pra marcar seu protesto contra a Censura Federal. Inda bem que não era a única película existiam outras para que pudéssemos embarcar nessa vuagem telúrica 

A Lauper Filmes, de Luiz Sérgio Person e Glauco Mirko Laurelli, co-produziu “Caveira My Friend” com Joaquim Guimarães e Orlando Senna. Parceria entre Bahia e São Paulo (sede da Lauper), que possibilitou a Glauko assinar a montagem. 

Produção, Zé Américo; fotografia, Sérgio Maciel; montagem, Luiz Martins e Jovita Pereira Dias.

Elenco

Caveirinha, Baby Consuelo, Manoel Costa, Orlando Sena, Conceição Sena, Sônia Dias, Gessy Gessi, Nilda Spencer, Nonato Freire, 

Trilha Sonora

Novos Baianos





LIRA DOS 17 ANOS

No final dos anos 90 o pixador mais articulado da Z/S era Tief, então garoto de 16, 17 anos, desenrolado e que nunca quis ter nada com escola e trabalho, pedia nos faróis pra comprar sprays e se drogar.  Certa feita saiu numa matéria da Folha de São Paulo sobre pixação,  citado  como referência, o moleque falou demais e revelou o prefixo para procurar maconha  "ver o nelson"  e outras gírias da comunidade.
Pezão tava sempre colado. Jovens da minha Quebrada, moravam na minha rua, batíamos  o baba juntos no Caveirinha  mas me achavam coroa porque eu dizia: - ser ladrão tá por fora Jão, pense que sua vida pode ser longa pra viver arriscando perder de bobeira somente por grana. Eles retrucavam dizendo que naquela periferia sempre foi assim, os de  mais apetite se estabelecem e eu depois de velho tava medroso; eu tinha 26, 27 anos.
Uns 17 anos depois encontrei com o pai de Pezão, nordestino que nos seus 70 de vida, 50 de São Paulo, se confessava cansado e amargurado pelo único dos seus filhos que não tomou tinência  na vida; havia puxado 12 anos e tinha uns  5 que não dava  notícias.
Mais um truta forte que trampa de manobra no Centro  me disse que tanto Pezão quanto  Tief viviam pela região da República, São João, Anhangabaú; moravam na rua e de vez em quando servia  um baseado quando trombava  com algum num farol. 
O desejo de ser ladrão mal saiu do papel, só fita pequena; foi o crack, a maior praga dos anos 90 que destruiu essas 2 vidas ainda jovens, sequer tiveram outra oportunidade, segunda chance.
A crueldade mundana. Teteu e Alex também 2 irmãos, mesmo pai, mesma mãe, no intervalo de menos de 01 ano Tetéu morreu assaltando um ônibus com arma falsa e levou um tiro no olho; Alex foi assassinado quase na porta de casa numa tarde de domingo provavelmente por queima de arquivo, ele era ganso, caguetava biqueira pros polícia em troca de pedra e dinheiro. Acho que ainda nem tinham entrado na casa dos 20 anos 

A MATA DE GUARDA-ORVALHOS

Eu conheço um lugar daqueles que são únicos; nunca ouvi falar de um outro igual. Trata-se de uma pequena mata, 2, 3 hectares, no máximo, de árvores chamadas de guarda-orvalho; uruvaio, como pronuncia o povo da região. 
Uma madeira linheira, aimbro branco, fraca pra chão e esse nome não foi dado à toa, para enfrentar aos longos períodos de estiagem a que é submetida a vegetação da mata branca caatingueira, esse pé de pau acumula água e libera finas gotículas da sua copa, refrescando quem estiver embaixo e contrastando com a espinhosa vegetação que lhe faz  divisa.

JAMAICANA

Ska, ka, ka, caatinga iscá

Ska, ka, ka, caatinga iscá


Arbórea,:arbustiva e herbácea 

Ê caatinga, ê mata que seca

Teu nego vai te cantar 

As cascas são grossas 

pra tempo seco secar  

As folhas sempre pequenas 

Para ligeiro murchar 

As hastes espinhosas pode o vivente furar

Raízes com capacidade 

Reter água e acumular 


Ska, ka, ka, caatinga iscá

Ska, ka, ka, caatinga iscá


Umbuzeiro, arueira

Pau d'arco, quebra-facão

Umburana, amargoso

Quiabento, quixabeira 

Malva, fedegoso

Jitirana, gravatá

Calumbi, cansanção

Jurubeba, mandacaru 

Unha-de-gato, embira, 

Juá-mirim, jatobá 

Barriguda, bastião

Jurubeba, itapicuru 

Malva , macambira

Catuaba, jequitibá 

Catanha, vilão

Angico, mulungu

Maniçoba, quipá


Arbórea,:arbustiva e herbácea 

Ê caatinga, ê mata que seca

Teu nego vai te cantar 

As cascas são grossas 

pra tempo seco secar  

As folhas sempre pequenas 

Para ligeiro murchar 

As hastes espinhosas pode o vivente furar

Raízes com capacidade 

Reter água e acumular 


Ska, ka, ka, caatinga iscá

Ska, ka, ka, caatinga iscá



ADEUS JACOBINA

O Vei Jacobina, pseudônimo de Valdemar Ramos Oliveira que faleceu essa semana no sertão da Bahia dend'os 93 anos que ia interar em julho...