CARONA DA IMAGINAÇÃO

De carona na imaginação
Irei viajar
Na ponta da sua orelha
Pra ficar perto do seu pensar
Do lado do que você  olhar
Sentindo o respirar
Querendo contigo falar
Digo e repito
Meu amor é infinito
E que você sendo a razão
Desse meu grito
De paixão fico aflito
Nem sei o que fazer
Essa canção pra lhe dizer
Que meu amor é tão bonito
Cultivo-o e acredito
E é para o seu saber
Sempre no meu pensamento
Eu viajo com você

FORROBODÓ (em dó maió)


Siridó, Tororó, Sanharó
Moxotó, Igapó, Chorrochó , Soropó, Mossoró e Bodó
Jericó, Bororó, Caximbó
Piancó, Bodocó e Icó
Cabrobó, Cajapió e Codó
Itororó, Massarandupió, Caicó 

Nos caminho das Quebradas desse sertão
Andei e sem você só me sentia só
Procurei, por tudo, encontrar sua pessoa
Pra dizer que queria um xodó
Eu de por mim nem queria saber
Mas resolvi escutar a minha vó
Que me viu pelos cantos
Só queria saber de tomar goró
Andava triste 
Chega fazia dó
Mandei recado
Te espero pra dançar esse forrobodó
Botar pra moer moer no salão
Panavueiro vai ser de levantar pó
Nosso caso anda muito enrolado
Chegou a hora de desatar o nó

Siridó, Tororó, Sanharó
Moxotó, Igapó, Chorrochó , Soropó, Mossoró e Bodó
Jericó, Bororó, Caximbó
Piancó, Bodocó e Icó
Cabrobó, Cajapió e Codó
Itororó, Massarandupió, Caicó 

TERRA DE NINGUÉM

Eu vou entrar nessa chula  
Que tá  é muito animada
Confesso me empolguei
Vou registrar a palavra
Num quero amar mais ninguém
Pois coração de outrem
É terra que ninguém lavra
Tentei e me estrepei
No tempo da  sequidão
A malva tomou de conta
Lavoura num criou não
Só quem sofre é quem sente
Solidão é uma semente
Largada em cima do chão 
Quem planta o tempo sombrio
Vai passar muito fastio
Alegria não colhe não
No lugar desse roçado
É dor e devastação 
Se for pra plantar nessa roça
Que fique o capoeirão

COCO E BAIÃO

Vivo por essa vida
Cantano coco e baião
Cantano coco e baião
Mesmo com desaforos
Num me aperreio não
Pego o pandeiro
Tiro coco e baião
Tiro coco e baião
A rima sai da titela
Nem sei a explicação
Pediram pra fazer rock
Isso não consigo não
Pois da minha melodia
Só sai coco e baião
Só sai coco e baião
Vendi os meu discos
Tem uns que vendi não
Jacinto, Tororó, Manezinho
Jackson, Marinês, Gonzagão
Esses não tem negócio
Nem outros de coco e baião
Agora pode faltar o dinheiro
Posso passar precisão
Minha sobrevivência
Faço de coco e baião
Pedem pra cantar outra coisa 
Mas isso eu  não sei fazer não
Porquê da minha cachola
Só escapa coco e baião
Só escapa coco e baião

COCO DE DESAFIO - A DIVISÃO SILÁBICA

Têmpera, tempero, temperatura

Amargo, amargor, amargura

Letra, letreiro, literatura

Figo, figueira, figura

Desenvolto, desenvolvido, desenvoltura

Tinta, tinteiro, tintura

Rapa, rapado, rapadura 

Assim, assado, assadura

Gasto, gastado, gastura

Cinto, cintado, cintura

Dente, dentado, dentadura 

Rasgo, rasgada, rasgura

Raso, rasante, rasura

Cara, careta, caricatura

Cantador não me acompanha

Se tiver a língua dura

Seu diploma de embolada 

Falta minha assinatura

Se não desenrolar ligero

Cancelo sua formatura 


Canto, cantor, cantoria

Tem que ter a língua mole

Se não não me desafia

Porque num aguenta um gole

Embolar embolando a embolada

Isso faço todo dia

Se você não me acompanha

Peça licença a moçada

Venha outro cantador

Pois você não canta nada

Manda outro preparado

Mesmo que seja arisco
Vai virar cisco 

O risco é arriscado

Se embolo as palavras

O coco está lavrado

Preste atenção a ele

Se não você está lascado

Pois se não embolar o coco

É você o embolado

Espinhos, espinha, espinheira

Se tiver muito difícil
Fuja do sacrifício

É só tu marcar carreira

Vá pra caatinga e se esconda 

Na moita de Quixabeira

Que é pra quando cantar coco

Voismicê num dá bobeira

Três tragos foram tragados

Traga o trigo e triture

Mistamente misturado

Se a língua não destravar

Não estava preparado

Toste um tostão tostado

Fure o furo do bolso furado

Mude sua matemática 

E também a sua tática 

Entre numa livraria

E pergunte pra chefia

Fale de maneira enfática 

Diga que quer uma gramática

Pois vai ter que treinar muito

Pra melhorar sua prática
Vai ter que praticar

Se quiser acompanhar

Minha divisão silábica


NAS HORAS DA SOLIDÃO

Nas horas de solidão
Alguns pensam em alguém para lembrar
Uma recordação ou foto
Que, por acaso, outrem achou de achar
Nas horas da solidão
Outros refugiam-se na bebida
Pra esconder cicatrizes
Ou aliviar a dor que dói na ferida
Tem sempre uma coisa, ou algo
Que traz um motivo
Ou razão pra recordar
Uma camisa, um anel
Uma carta, um cartã-postal
Um storie, um recorte de jornal
Sei que há, mas não conheço situações
Em que recordar deva ser bom
Mais isso deve ser quando não causa mal
Há outras situações
Que é o meu caso
E quando é assim
O melhor a fazer
É passar a borracha
Ponhar uma pedra em cima
De todo o caso, esquecer
Que seja assim
Para não sofrer

Vou imbolano meu coco
Assim não me sinto só
O meu coco é meu remédio
Combate o amargo gosto do giló

NINÁ PRA BIRITA NANÁ NENÉM

Ele é bonito
Que tão bonito
O mais bonito pra mim
Desde que nasceu
Sempre foi assim
Ele é bonito
De tão bonito
Desde que o senti
Sempre fui afim
Ele é bonito
Mais que bonito
Minha própria vida
Pois saiu de mim
É meu bebê
Que tão bonito
Muito bonito
O mais bonito
Pois saiu de mim
Ele é bonito
Que tão bonito
Desde que nasceu
Sempre foi assim 

CERTO E ERRADO

Eu estou certo
E ao mesmo tempo errado
Acerto, quando insisto em dizer
Que não te quero
Mas, cá pra nós,
Sendo sincero:
Eu quero!
Por isso erro,
Erro como erra um apaixonado;
O certo era ter fugido
Mas tudo errado
O certo não fez sentido
E decidi ter ficado
No erro.
Eu erro,
Erro como erra um apaixonado;
O certo era ter fugido
Mas, todo errado
O certo não fez sentido
E decidi ter ficado 
No erro.

Eu estou certo
E ao mesmo tempo errado
Acerto, quando insisto em dizer
Que não te quero
Mas, cá pra nós,
Sendo sincero:
Eu quero!
Erro,
Erro como erra um apaixonado;
O certo era ter fugido
Mas, todo errado
O certo não fez sentido
E decidi ter ficado 
No erro

RUA DA AMARGURA

Ando sossegado
Com essas coisas do amor
Que só me lembro disso
Quando alguém fala de você 
Aí, a coisa muda de figura
Se ouço falar de voismicê
Lembro da  rua da  amargura
Lá onde você  me abandonou
Deixou sozinho, chorando
Fiquei tão triste nem se importou 
E continua não se importando. 

Inda me dói a insensatez 
Tudo que eu quero é lhe esquecer de vez
Pra ver se essa dor some
E labareda que queima tudo
Um fogo brabo que tudo  consome
Tudo que eu quero  nunca mais ouvir  o seu nome


CANTO DE LAMENTAÇÃO

É fácil descobrir
Que tem sempre um blues
Martelando minha mente
Pensamentos inquietos 
No absurdo um absorto solo de Fuzz


Chove nas minhas pálpebras
Goteja os pingos de uma mágoa
Jorra do peito o sangue que  corre nas veias
Na cachoeira dos olhos
Desce o sangue em água

À noite recolhidos à senzala
Em qualquer quadra de lua
A música pra acalmar
Exorcizando as  dores 
O que o direito não acha na rua

Tão árdua a jornada
O trago seco da dor
Pisando por sobre os espinhos
Sem esconder a tristeza
Por onde quer que se for

Eu sempre tenho comigo
O canto do meu lamento
Um cabedal de canções
Algumas são das antigas
Outras faço na hora
É blues a todo momento

LIBERTADOR

Se acaso fosse eu da classe dos poetas
Um que pudesse ser
À inspiração submetido
Em desejos viveria submerso
Se pudesse amenizar num verso
Esse meu cantar de sofredor
E  mesmo com o coração ferido
Tivesse a  capacidade de falar de amor 
Exteriorizando essa minha intenção
Pra elevar o triste acima da dor
Se compreendesse essa situação
Talvez eu fosse sabedor
Que amar é sempre uma proposta
E o outro também tem que se propor
E o melhor jeito de gostar de quem se gosta 
É responder se e ser correspondido
Ser egoísta nunca é a melhor resposta
Pra poder querer e ser querido
Amor é permitir sentir sentir-se permitido
Sendo capaz de construir e reconstruir a cada  momento
É  ser bem  mais que o sonho de um só sonhador
Só sei que for livre o sentimento
O amor pode ser chamado de libertador.

PÓS HORROR

O mociho e o bandidos
Fuderam a mocinha
E fizeram a dancinha
Pro povão dançar
Chovia a chuva ácida
Na margem plácida
Da cultura ocidental
Sob a ótica militar 
O mal aponta o mal
E quem construiu o dinheiro
Anda nesse paradeiro
Vive anestesiado
Sem saber que vai perder
Sem ao menos ter tentado.
Tudo é quente e é mais quente seu vapor
De tão horrível é maior que o próprio horror

QUASE MATA O VÉI

Quebrou na chula
Lê, lê, lê, lê, ô
Essa garota
O véin chamou
Caiu no samba
O véi penerou
Mãos nos peitinhos
Já lhe agradou
Foi pras cadeiras
Me enfeitiçou
Dedin no imbigo
Foi que me assanhou
Desceu pra coxas
O véin pirou
E no caminho 
Lê, lê, lê, lê, ô
Mostrou a calcinha
O véin topou
Foram pra moita
Cigarrinho fumou
Foi fazer chamego
O véi infartou 

ROSALVO DE DONA BENTA

Início dos anos oitenta
Rosalvo de Dona Benta
Foi pra São Paulo batalhar
78 choveu bem
79 não molhou ninguém
Rompeu 80  sem sinal de trovoar
Rachou barro, secou tudo
Fome e seca,  absurdo
Pareceno que o sertão ia  acabar
Ele era o zabumbeiro
Seu pai era o sanfoneiro
Do Conjunto do lugar
De noite era canturia
Cabo de foice de dia
Forró era só por diversão
Dona Benta lhe dizia 
larga dessa ilusão
Cabra tu vai trabalhar!

São Paulo pela Rodoviária
Uma vida operária
Zona Sul tô pra chegar!
Trabalhando em Construção
Vida dura de pião
Sempre o sonho de voltar
Tanta dor que já nem sente
Seu barraco na enchente
Viu o morro carregar.

ACALANTO

A aranha  nunca arranha
Sua cadeia é a própria   teia 
Canarinho afinando seu canto
Me serve de acalanto
Uma borboleta suga o sumo
Pra viajar no seu rumo
De um caminho belo
Brotou um cogumelo 
Na galha do umbuzeiro
Acima do formigueiro
Pois cigarra que não seja
Não estevre, pode ser que nunca esteja
No passo de algum tango
Na mira de um calango 
Lá de cima do lajedo
Nunca tive, nunca terei medo
Nem da abelha e nem do fel
Nem de jagunço ou coronel
Nem do Deus  persa, nem dos hebreus
Meu ponto fraco nos olhos teus

ADEUS JACOBINA

O Vei Jacobina, pseudônimo de Valdemar Ramos Oliveira que faleceu essa semana no sertão da Bahia dend'os 93 anos que ia interar em julho...