ORAÇÃO PRA TIRAR DE TEMPO (Louvando Bezerra da Silva)

Baculejo no buteco

Isso é um mal sinal

Enquadrando todo mundo

Esculacho é geral

Vamos puxar uma reza

O tambor no contratempo

Malandragem que se preza

Sabe quando dar um tempo

Essa fita já foi dada

Tem uma pá de intrujão

Aqui ninguém dá 2 em nada

Vou te ensinar uma oração

Pra quebranto, mau olhado

Dor nos quartos e proteção

O que te deixa amargurado

Sou Pái Veio eu te curo

Garrafada de agrião

Tira o que for do munturo

Terá carro, namorada

Assegure seu futuro

Só não salva tua vida

Se tu for um dedo-duro

Porque aí suja de vez

O nome do peixe é pinote, vaza vacilão

Nem cá fora na  Favela nem lá dentro no xadrez

Cagueta tem perdão

O JONGO DO PALÍNDROMO AO COCO COA

Ao coco coa

Se apertar sai um cordel

Meu repente não perdoa

Hoje faço um escaçéu

Faço uma loa

Pro meu tempo de bordel

A palha voa

Vento sopra pelo céu

Rema a canoa

Atacado e granel

Não ensaboa

Nem amassa meu chapéu

Que não destoa

Separe o doce do fel

Batuque entoa

Quebradas do Mundaréu

A gente zoa

Porque tá muito pinel

Barro queimado coa

Pingando de déu em déu

Pamonha boa

Cheira a conhaque e mel

CERTEZA DE ESTAR CERTO

Estou muito certo

do que vou dizer

De peito aberto

Que é pra você saber

Se não te contemplar

Esse  pobre cantar

Desculpe a timidez

Mire meu olhar

Procuro palavras pra te definir

Esgoto o dicionário

Tentando conseguir

Boca pra provar

Língua a te sentir

Na hora perco a hora

Jamais quis eu partir

Que nunca que termine

O nosso existir

Não haveria  porquê

A gente não tá perto

Enamorado por você

Certeza de estar certo

Vivendo essa paixão

Que seja desse jeito

É o que diz um coração

Batendo no meu peito

OFF-LOVE

Providenciei envelope

Até selo comprei

De coração ferido

2 linhas mal tracei

Se você não se entregou

Eu, de todo, me dei

 Já é muito tarde

Mas só agora que sei

Arrenegada seja a hora

Que contigo trombei

Comprado briga com o mundo

Vida de fora da lei

Sempre arriscano

O que tinha apostei

Nessa de tentar a sorte

Iludido joguei

Mirei alvo errado

Em nada acertei

Não lhe faria rainha

Pois eu nunca quis ser rei

Tá na vez de parar

Mágoas não carregarei

Foi tanta dificulidade

Já me desinteressei

Só lamento que a pressa

Que nessa empreita me lancei

3 dias demora uma carta

Porquê não telegrafei ?

NÃO POSSO VIVER DE ARTE

É por isso que eu não vivo de arte

Meu escrevinhar não faz parte

Posso fazer minha obra

Com o meu tempo que sobra

Pago o que o boleto  cobra

Me viro pião de obra

Do salário  não sobra

A sociedade me cobra

O meu som não faz parte

Não posso viver de arte

Não registrei minha obra

Vivo comendo o que sobra

Meu sonho não se dobra

Tento fazer minha parte

Dizem que vivo em Marte

Não vendo a minha arte 

No show não tomo parte

Sou um pião de obra 

Sem cachê sou quem sobra

Por tudo que o mundo  cobra 

Tudo veneno de cobra

Posso juntar o que sobra

Reconstruir  minha obra




BOM DIA CARISTIA

O aumento da meia libra de café
Foi demais, foi demais, foi demais
Aqui na minha rua passa apuros 
Os vizinhos e os demais
Tá voltano o tempo d'eu minino
Na venda de seu Alvino
De Cirico e de Lorico
Comprar óleo pela dose
Que nem fosse cachaça
Meia cuia de farinha
Pra encher meia cabaça
Uma bucha de Bombril
Meio quilo de açúcar
Uma pedra de anil
Arrochando nesse povo
Do país varonil
Não consigo mais dormir
Acossado raia o dia
Ameaça logo cedo
Manda para correria
Sempre correndo atrás
Perdendo pra caristia.
O aumento da meia libra de café
Foi demais, foi demais, foi demais
Aqui na minha rua passa apuros 
Os vizinhos e os demais




OLHAR DE PÁSSARO LUNAR

Os pássaros da lua (Les oiseaux de lune) é uma peça do dramaturgo francês Marcel Aymé, estreada em 1955 por André Barack no Théâtre de l'Atelier em Paris.

Um mundo humano miserável e sem alegria, egoísmo,  malícia, ganância, avareza, prazer, instinto descontrolado, mentira e ciúme caracterizam uma vida desagradável pontuada pela rebeldia, estupidez e instinto cruel e vida dissoluta.

Nessa semi existência semi a tentativa de  transformar a humanidade em pássaros numa "operação espiritual", sem truques, que não sujeita quem se transforma a uma maldição maligna e os libera à felicidade e, na lua nova, os pássaros,  lunares, se tornam, novamente humanos, testemunhas do estágio  superior  pois, enxergando com o olhar  de pássaro , do alto, podem ver o essencial .

 

A CAVERNA, A ALEGORIA, O MITO E A GNOSE

No livro “A REPÚBLICA” uma das passagens  mais conhecidas é a “Alegoria da Caverna” também conhecida como “O Mito da Caverna”, nesta metáfora Platão discute a gnoseologia, como é possível captar o existir através dos sentidos e da razão, adentar-se no mundo sensível e no inteligível. Muito mais Alegoria do que Mito, esta é uma das passagens mais importantes da Filosofia
Desde o nascimento, pessoas vivem acorrentadas dentro de uma caverna iluminada pela luz de uma fogueira, olhando para a parede do fundo onde sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia a dia são projetadas. Esses prisioneiros nomeiam as imagens (sombras), analisam e julgam as ocorrências
   Platão discute que, caso algum dos prisioneiros saísse das correntes e explorasse a caverna e o mundo exterior, o contato com o real o mostraria ter passado a vida julgando e analisando sombras de estátuas. Então ficaria deslumbrado com as coisas de verdade e, ao voltar para a caverna, tentaria passar pros companheiros de cárcere, seu aprendizado liberto das correntes.
   Isso, provavelmente, o faria ridículo frente aos seus pares que, somente acreditariam na realidade da parede iluminada, na caverna; seria tido como louco, e ameaçado à morte caso continuasses com aquelas ideias esquisitas.
Os humanos enxergam o mundo de forma distorcida, são os prisioneiros do Mito, presos à vida que levam. O mundo é a caverna, apresenta o que não representa o real. Sem libertar-se das correntes, sem sair dela (a caverna), permanecem alheios à realidade

BELEZA MANO VEGANO

O cabra nascido em Catolé do Rocha

Hoje, se vê uma buchada de bode

Faz beicinho e brocha

O apetite se encerra

Rifuna pois não pode

Se for uma galinha

 Terra

Vai contra sua fé

Embrulha o bucho

E berra

E, caso seja uma saqué?

Béeee

 

NORTHERN SOUL - A dança e o som black na Inglaterra

O movimento northern soul surgiu no norte da Inglaterra na década de 60 e envolvia dança e na influência da batida bem pesada da black soul da América do Norte  que gravitava fora da órbita e da influência da Motown que dominavam as paradas. Geralmente, os sons menos conhecidos, de tiragem limitadas lançadas por selos de abrangência regional como   o Ric-Tic e o Golden World  de Detroit;  o Mirwood  de Los Angeles e o Shout e Okeh  de Nova Iorque / Chicago. O termo foi criado para diferenciar as músicas de funk mais modernas, do soul influenciado pela Motown de alguns anos antes. Guitarra elétrica, baixo, órgão, vocais e metais fazendo soul, rhytm and blues e gospel  num frenesi mais uptempo que nos anos 70 se tornou algo parecido com o break e o disco com   giros, pulos e caídas para trás  inspirados nas apresentações  de artistas do soul americano como Little Anthony & The Imperials e Jackie Wilson que frequentemente visitavam o solo inglês. O movimento que começou a partir de Manchester e se espalhou pela ilha do norte, entre os anos 60 e o início dos 70  os sons mais tocados eram gravações mais antigas  dos anos 60 garimpadas por DJ’s que aos poucos acrescentaram lançamentos mais contemporâneos

POSSO SER SEU LOVE

De tanto olhar

Corri  o risco de me apaixonar

De tanto ver

Não consigo mais esquecer

Suas fotos fico vendo admirado

Invejando esse cara premiado

Que toda noite contigo dorme

Se largar dele, peço que me informe

Estou disposto a deixar tudo

Pra viver esse desejo ainda mudo

Que por decência nunca pude anunciar

Respeito o mano mas não posso apagar

Da minha mente esse louco querer

Eu bem tentei mais não consigo esquecer

Se por acaso ele fizer a loucura em te deixar

Te dou meu ombro para que possas chorar

Se ficar triste eu bem sei que me comovo

Sempre estarei por perto caso resolva amar de novo

A única fé desse romântico ateu

E que um dia ele possa ser mais que somente um amigo seu

Caso a sorte me traga a oportunidade

Me entregaria de verdade

Vem, se quiser que eu prove

Posso ser seu love

Posso ser seu love

NAS QUEBRADAS DO AMOR

Foi um sonho, se não era foi o que pareceu

Fui te buscar e na escada apareceu

Chegava linda, tava na minha Quebrada

Uma saudade sinto daquela madrugada

Simplesmente foi somente para visitar

Fazendo meus olhos fixarem teu olhar

Sua ausência me faz enorme diferença

Tudo eu daria para ter a sua presença

Pego o dichavador pra mais um apertar

Dai-me outra chance sei que vou me declarar

Outra cerveja, vamos completar os copos

Entre abraços o calor dos nossos corpos

Te falarei do bem querer que me domina

Que bom seria que você fosse minha mina

Por mais que fujas e que tente encontrar

Nesse planeta não haverá outro lugar

Onde exista um amor assim tamanho

E por mais que te possa parecer estranho

Caso quiseres ser a minha namorada

Te ofereço todo amor dessa Quebrada


RAP PÉ DE SELVA

Ô mundo cão, Jão

O mundo é cão. Jão

Não dá mancada, não

O sistema não perdoa

Fica ligado, fica de boa

Vacilou, se perde atoa

Se perde não, Jão

Que o mundo é cão, Jão

O mundo é cão, Jão

Isquece não

 

 

Na Quebrada tudo tenso

Filma o movimento

Digo o que penso

É cruel e violento

Comum se torna o senso

Normaliza o sofrimento

Abismo imenso

A toda hora e momento

O perigo é extenso

Não vale o argumento

 

Ô mundo cão, Jão

O mundo é cão. Jão

Não dá mancada, não

O sistema não perdoa

Fica ligado, fica de boa

Vacilou, se perde atoa

Se perde não, Jão

Que o mundo é cão, Jão

O mundo é cão, Jão

Isquece não

BAIÃO DA PROXIMIDADE (Juntim de Mim, Pertim de Mim)

Juntim de mim, pertim de mim

Juntim de mim, pertim de mim

Chega mais perto, neguinha

Tô na tua, tu na minha

Juntim de mim, pertim de mim

Juntim de mim, pertim de mim

Eu não sabia que seria

Tão bom assim

 

Juntim de mim, pertim de mim

Juntim de mim, pertim de mim

Tô na tua, tu na minha

Sempre por perto, neguinha

Juntim de mim, pertim de mim

Juntim de mim, pertim de mim

Pra sempre seja assim

No que depender de mim

 

Ante à fartura, grãozinho

Na profundeza, rasinho

Sob o sol quente, o espinho

Frente à fera, mansinho

Na caminhado, o caminho

Na descansada, sozinho

Na solidão, um carinho

Na revoada, o ninho

 

Juntim de mim, pertim de mim

Juntim de mim, pertim de mim

Tô na tua, tu na minha

Chega mais perto, neguinha

Juntim de mim, pertim de mim

Juntim de mim, pertim de mim

Eu não sabia que seria

Tão bom assim

 

Juntim de mim, pertim de mim

Juntim de mim, pertim de mim

Sempre por perto, neguinha

Tô na tua, tu na minha

Juntim de mim, pertim de mim

Juntim de mim, pertim de mim

Pra sempre seja assim

No que depender de mim

CIRANDA DOS MACONHEIROS

Na roda dos maconheiros

Fazendo ciranda, ciranda

Enrola a seda

Acende e manda, acende e manda

Na roda dos maconheiros

Fica ligado se vier uzómi

Entoca a paranga

Debaixo do pé da rosa manga 

E aproveita a sombra, aproveita a sombra

Todo mundo de bobeira

E curtindo a lombra, curtindo a lombra

Na roda dos maconheiros

Só moleque Zica, moleque Zica

Batendo a maior fome

E matando a larica, matando a larica

Na roda dos maconheiros

Só mina decente, mina decente

Esbanjando charme

E erva na mente, erva na mente

Na roda dos maconheiros

Só bagúi do bom, bagúi do bom

A galera faz batuque

E vai tirando um som, tirando um som

Na roda dos maconheiros só

 bagúi do bom, bagúi do bom

A turma canta

E vai fazendo um som, vai

 fazendo um som

 

 

CANÇÃO DA SAUDADE (À lá Bartô Galeno)

A gente poderia ter se dado bem

Entre nós não haveria mais ninguém

Você estando aqui perto

Essa noite não seria um deserto

Jamais estaríamos sós.

Sem a imensidão desse oceano entre nós

Aconteceu de verdade

Você é minha maior necessidade

Pra combater essa dor covarde

Que me deixa triste agora

Ver você morando fora

Distante do coração

E toda vez 

Que tocar essa canção

Saiba que eu esqueço não

Todo bem que tu me fez.


 Sempre que estiver triste

Onde quer que você for

Lembre que existe

O meu amor, meu amor 

Versos feitos pra dizer

O prazer sentido

Nunca poderá ser esquecido

O sincero sentimento

Intenso a cada momento

No meu peito para sempre vai viver

Na certeza nunca mais vou esquecer

Mesmo a gente separado

Continuo por você apaixonado

Nesses versos eu declamo

Reafirmo que te amo.

Te amo, te amo.


Lá ra ra iê

Lá ra ra iê

Se por acaso você me escutar

Saiba que não deixei de te gostar

Lá ra ra iê

Lá ra ra iê

A alegria da minha vida

É você

Só você...

MARTELO DE FOGO AGALOPADO

Escundido no munturo

Taxado na covardia

Pela luz que alumia

O verso não fica no escuro

Passa por cima do muro

Continua a ser cantado

Não deixa ser apagado

Com ou sem alarde

A chama sempre arde

É martelo de fogo agalopado


Um fogo não destrói

O que tem dentro do peito

Assanhando o sujeito

Naquilo que o corrói

Labareda que não dói

Mas que deixa o cinzaréu

Tomando conta do céu

Que logo fica nublado

Tornano o tempo fechado

Toma conta o nivueiro

Vale mais que teu dinheiro

Meu martelo de fogo agalopado


O dinheiro compra casa

Pode escolher a merenda

Garantindo fama e renda

Sensação de que arrasa

Mas a lenha vira brasa

Da cadeia ser livrado

Ser juiz ou delegado

Mandar prender e soltar

Se não puder labutar

No martelo de fogo agalopado


Pra se livrar da prisão

Pode tentar outro embargo

Ganhar um outro cargo

Mediante comissão

Mesmo alegando comunhão

Difícil ser liberado

Pelo fogo ateado

Terá que responder

Quando tudo acender

No martelo de fogo agalopado


A pira sempre acesa

Consome inteiro pavio

Traga água de navio

Trafegado em alto mar

A lagoa vai secar

E o chão esturricar

Deixano tudo rachado

De tanto ter esquentado

Tano seco o açude

Não vai ter quem te ajude

No martelo de fogo agalopado


Começano de faísca

Logo tudo se clareia

O combustível incendeia

Quem tá perto se arrisca

Quando o fogo trisca

Deixa tudo queimado

Destruído, devastado

Exalando o bafo quente

Este é o comburente

Do martelo de fogo agalopado

LIÇÕES DA REZADEIRA

Se um remédio pra verme e piolho derrotasse o corona, D. Maria Rezadeira disse que pra verme, caroço de abóbora girimun e pílula de babosa é melhor que qualquer um que teha na farmácia e, pra pioho, o  sumo de quarana ou do melão verdoso, não tem igual.
A diferença é que a D. Maria, que já tem 90 anos de sabedoria Quilombola que lhe passou sua mãe, não recebe propina da indústria farmaceutica que nem os ivermectineers e só receita suas indicações pra quem tem verme ou piolho, com o covid, ela se previne usando máscara, lavando as mãos, mantendo distância dos outros e ficando em casa.
Ela diz que reza, pra pessoa não perder a fé mas não é cientista e, os caboclos dela, quando inventaram os remédios do mato, não existia nem essa doença  nem as pesquisas científicas.

MEMORIAS DO FUTEBOL CALMONENSE

Fui morar lá em 76 (Miguel Calmon - BA) e naquele ano mesmo  meu pai colocou um time no campeonato local, chamado Mississipi, pena que no campeonato seguinte o time já havia encerrado as atividades. Mas, os  maiores talentos futebolísticos da cidade no final dos 70 foram revelações do Mississipi: Galego de seu Dentinho do Correio;  Anjo Grilo, Geo Pelé, Gilmar Goleiro, Fabuá, Tonho do Rato, Messias. 
A seleção local fez uma histórica campanha no Intermunicipal de 1968, sendo vice-campeã e muitos atletas daquela geração ainda jogavam:Canarinho, Neguinho, os 2 do Mucambo dos Negros que jogavam pelo Farense de lá; Aliiomar, craque que era centroavante do Mississipi; Canoa, um goleiro que tinha uma perna arqueada;   Binha, meu vizinho um volante qque era parecido fisicamente com Falcão e jogava com elegância;  Jaracaca, um ponta ultra rápido de quem fui seu auxiliar de rádio técnico em 81.
Seu Miguel marcava o campo todo domingo às 5 da manhã; eu morando perto do campo quando não ia pra feira do França eu ajudava-o em troca de entrada grátis nos jogos com entrada pelo portão dos atletas; inda fazia uma gandulagem e batia uma bolinha na beira do campo durante o intervalo.
Hasb

LUIZ WAGNER - GUITARREAR

Aqui na Serrinha, no início do século, eu frequentava 3 points onde rolava a intera pra maconha e pro Corote, o Castelo de Greisco, o Big Bródi e o coió do Jovem.
O Jovem arranjou um 3 em 1 mas não tinha discos e eu, vendo aquela barreira de cachaceiros jogando conversa fora sem escutar um som e tendo  radiola de bobeira, resolvi emprestar uns discos que ficaram por lá uns 5 anos e, quando precisei pegar o trecho os recebi todos de volta, não faltava um. E tudo conservado.
Neste lote tinha  Flor do Xique Xique, Temucorda,   João Lopes, César Barreto, Camisa de Vênus, Alceu e Geraldinho, Marcelo Nova, Raízes do Oelô, Tomalira, Edson Gomes, Raízes do Pelô, Alceu Valença,  Papete, dentre outros que não lembro agora.
Mas, o disco preferido da galera era O Som Da Negadinha, Não Negai de Luiz Wagner, um disco de reggae e Olhos Vermelhos era a trilha daquele lote de vagas que, muito loucos saiam à rua cantando:
- Hey ô Marijuana, Hey ô Marijuana/ esses olhos vermelhos essa boca tão louca, muito louca....
Daquela turma uns 8 já morreram, 6 deles de cirrose; não perdemos nenhum pro corona. Uns 3 não bebem mais hoje em dia, nas a maioria tá na ativa ainda.. 
Eu também escapei e dei a triste notícia da morte de Luiz Wagner pra galera, o  cara daquele disco e daquela música, maior tristeza.
Aqui na minha Quebrada o guitarreiro era considerado pela galera, foi conhecido e cantado

BALADA DO ANDRÉ

Um filho é um passarinho
Um filhote que a gente cria
Protegendo seu ninho
Dando comida no bico
Vendo crescer o bichinho
Dói quando tem que botar de castigo
Mas não  pode jogar pedra no amiguinho!
                            (papai hasb)❤️

BICO DOCE

Os lábios  dela são como néctar 
Da mais pura e bela  flor
Menina do  bico doce 
Já provei sou sabedor
Lavandeira, curió 
Passarim beliscador
Vivo em busca do seu mel
Jaçanã ou beija flor 
Eis que sou uma abelha 
Dando voltas sem parar 
Procurando o melhor pouso 
Para minha flor provar

MADRUGAL

Eis que  Invadem minh'alma
No momemto de  você  partir
Me ressta, ainda um verso
E o que dooooooói faz machucar
Não quer dormir 
Só  quer regresso 
Não vai deixar 
Que desapareça 
Então, te peço 
Fiques aqui
Não vás 
Depois que amanheça  
Sinta-se querida, amada
Cantarole esse 
fado  na madrugada
Entre o choro e a alegria
Pra  despertar
Caso amanheça  o dia

DITO DO PEITO

Dentro de um peito aflito 
Pulsavam as frases
Que a voz  não ousara dizer
Silenciadas, as  pronúncias
Corriam pelas artérias 
Nas diluídas renúncias 
Que foram silenciadas
Nos labirintos das veias
As mensagens cifradas
Perecem quando não  faladas
Podem sangrar  as palavras
Quando não pronunciadas

Depois de Enxaguar os Pratos ( ouvindo Clodô, Climério e Clésio)

Preste atenção 
Depois de enxaguar pratos 
Eu vou me calar 
Uma mentira bem longuinha
Difícil de acreditar
Não tenho dúvida 
Difere de não viver 
Diferente de lembrar
Que a morte não tem 
Emoção. 
Esse andar ligeiro
Muita gente aprendeu
Saiu do caminho 
Veio o golpe do inimigo
Me fez em pedacinho
Me desligou daquele jeito
Deixou sem tensão

Ah! Mais como é bela
Essa nossa vida de pião 
Antes de não ter grana pro cigarro 
Faltou a intera  do feijão..

COMPANHEIRO SOPA

Nascido e criado no sertão baiano, parte norte  da Chapada Diamantina, nunca fui o que se pode considerar como  um folião; meu pai e meus tios eram, animados foliões dos carnavais das antigas daqueles que usavam mortalha no meio da multidão e frequentavam os bailes de salão nas madrugadas momescas dos clubes.

Até os 11 morei numa pequenina cidadezinha que tinha carnaval de salão no único clube da cidade, o 15 de Novembro com matinal e matiné para as crianças   no sábado e no domingo e os bailes da gente crescida nas noites carnavalesca. Trio elétrico fui ver ao vivo aos 12 anos quando se iniciava a movimentação  que deu na Axé music e até os 15 ia atrás dos trios e pulava os muros dos clubes para ver os shows .

Apartir  de 1986, já morando em Itaberaba conheci  Salvador,  a capital  do estado. Passei a ir pra lá com frequência  e em 88 fui tentar a vida por lá  e este período de seu justamente na época que o Olodum e a música afro assumiram o destaque no Carnaval baiano. Neste primeiro ano, quase todos os domingos no final da tarde, lá estava eu no Largo do Pelourinho acompanhando os ensaios do Olodum; frequentei alguns eventos no Ylê Auê,  Malê de Balê e do Muzenza; estive no Carnaval de rua, meu começo se deu pelo antigo reduto de concentração da “esquerda festiva “, no Clube de Engenharia e nos becos e vielas do 2 de Julho.

No meu segundo ano em Salvador,  como torcedor  do Bahia e encantado com o calor da sua torcida,  eu morava numa República estudantil a menos 15 de  minutos de caminhada da Fonte Nova e trabalhava na Ladeira da Fonte em frente ao estádio, foi tudo intenso e,   enjoado das farras no início de 89, resolvi passar o período carnavalesco no interior,  em Jacobina.

Ao voltar  fiquei sabendo de um fato que muito me impactou e me deixaria registrado um desgosto com relação ao carnaval. Quando fui morar em Salvador, fui estimulado e apoiado por amigos pequeno burgueses,  gente com faculdade pronta sem inserção  na periferia e eu  já tinha construído  conhecimento com soteropolitanos, principalmente entre a juventude que militava em torno da oposição gráfica e, nessa turma tinha o companheiro Sérgio, Serginho, o Sopa, militante  do Movimento de Defesa dos Favelados   e morador de Nova Alagados;  foi ele quem me mostrou a Salvador Suburbana, o povoado  das palafitas que eu sabia através dos relatos do meu pai de quando elemorou com a minha vó  nas invasões do Uruguai entre o final dos anos 50 e início dos 60. Sopa era um   jovem sonhador, parceiro, amigo, gente boa,  um grande coração. Tínhamos a militância e conversávamos muito, criticamente, sobre os rumos daquela luta,  as posturas vacilantes das “direções “,  falávamos de músicas, coisas, lugares, marcavam  presença nas festas de largo, pinotar nos ônibus, pular o muro da estação de trem e tomar muita cachaça juntos.

Num dia do Carnaval de 1989, Sopa com seus 20 e pouquíssimos anos, descendo na Pipoca da Castro Alves, rolou uma confusão e ele é  empurrado sobre a caixa de isopor de um vendedor de cervejas estúpido que, ante sua impossibilidade de arcar com aquele prejuízo financeiro, lhe desferiu uma garrafa, quebrada  na jugular. Fatal, morte instantânea,  seu corpo, recolhido ao IML, passou uns 3 dias como indigente até ser encontrado e identificado pelos amigos da Quebrada.

Uma morte banal numa madrugada de Carnaval ceifou uma vida de sonhos, um futuro foi negado  aquele menino nascido na insalubridade das palafitas, criado na necessidade e na falta das coisas, que contrariou as estatísticas aprendeu a ler, escrever e tomou consciência  da vida. Era sabedor de que pra melhorar sua comunidade seria preciso mudar a cidade, o estado, o país  e o mundo. Morreu sabendo que essas mudanças passavam pela cabeça das pessoas,  combatia a estupidez e por ela foi morto.

Desde então,  Carnaval me lembra estupidez, eu próprio, quando frequentava, muitas vezes  briguei atrás do trio, sozinho  ou de galera; sair na mão  com “puliça” desarmado, já me foi prazeroso mas, desde aquele carnaval de 89, a folia momesca me é  indiferente a, perdeu a graça

Lembro da última  vez que nos vimos, rapidamente, na estação  da Lapa, eu subindo as escadarias do Central e ele descendo as mesmas escadarias vindo da Barroquinha pra pegar um ônibus  pra Plataforma  no seu suburbio Ferroviário.

Aquele ultimo e efusivo sorriso de alegria visto pela ultima vez, ficou retido na minha lembrança.

COMPANHEIRO  SOPA, PRESENTE!!!!

SEMPRE

 

ADEUS JACOBINA

O Vei Jacobina, pseudônimo de Valdemar Ramos Oliveira que faleceu essa semana no sertão da Bahia dend'os 93 anos que ia interar em julho...