FIGURA INTERADA

Trampando naquela construção, liguei a caixinha e mandei uns reggaes. Peter começou os trabalhos atirando logo as pedras, engatei The Vibrators, Bob e, quando rolou Alpha Blondy, a mina do Bar encostou, trocou umas ideia do reggae e voltou com uma latinha de cerveja pra mim.
Mandei César Nascimento, Manguinha do Sá Viana e O Radinho ela não conhecia e gostou demais. Quando joguei Roberto e Banda, o Reggae Nordestino, logo na primeira, do primeiro disco, ela me intimou:
- Aí, Moral, tem um fino pra presentiá a mente de Umaziôta?

RIBEIRINHO, BAIXO RIO DAS CONTAS

Ouço barulhos à beira da estrada
No meio da mata a caminhada
Sob trilhos onde não passam trens
E ninguém vai dar parabéns
Pra minha diária luta
Triturando minha força bruta, massa bruta
E intelectual, intelectual
Intelectualmente falando
Minha força quase esgotando
Apesar do meu esforço
Me derrubam pro fundo do poço
Clac, clac, clac
Bandeirei cacau
Mas não adoçou meu chocolate
É o gato que mia
O cachorro que late
O cigarro que apaga
A saudade que bate
Machuca sem dó
Corta de biscó
Pra jaracuçu não chegar prós pés
Empurrar a canoa
Pescar tucunaré
Segurar as pontas
Ribeirinho, Baixo Rio das Contas

TÁ FOGO

Mamãe ligou disse meu filho, tô no Roçado; me ver,  venha
Não posso ficar mas se pudesse eu ia levar mainha
Essa machado e esse fogão de lenha
Pra botar na minha cozinha
Pra queimar gravetos, sobras de construção
Pra passar o café,  fritar uma passarinha
Fazer um cozinhado e amolecer o feijão
Tá tudo caro, já sobra pra pagar a água,  comprar o café, a farinha
Se não gastar com botijão

FRASES SOLTAS, FATOS E ACONTECIMENTOS

Guardadas de dentro de mim

Não irão silenciar

Mesmo quando poucos  queiram escutar

Quando se tornam difíceis de explicar

De um jeito, não sei dizer,  assim

Da forma que lhe é costumaz

Como quem vive querendo

Fazer o que não faz

Rabisco pra me fazer  entender

Me ponho a escrevinhar

Aquilo que penso em dizer

Mas a caneta não consegue acompanhar

A velocidade dos meus pensamentos

Onde se misturam frases soltas

Sobre fatos e acontecimentos

FAISQUEIRA

 

Dormiste lá em casa

Fizeste o fogo queimar

Deixaste madeira  em brasa

Consumisso de incendiar

Labareda que arrasa

Não deixa apagar

A labareda faz brasa

Se a lenha queimar

Destrói e arrasa

É só atiçar

Esse pavio no peito

Que serve pra alumiar

Bateno, esquenta no jeito

Virano uma brasa

A se consumir

Deixano o fogo que apaga

Quando tu for sair

Queimo sozinho em casa

Sem ter quem atiçar

Venha, sou lenha

Ponta pra queimar

Se é que mereço

Pra palavrear

Passa lá em casa

Sabe o endereço

Ainda sou brasa 

E o recomeço

É só assoprar 

Reacender a Chama

Que ainda tem lenha

Pra gente queimar





 

 

 

PAISAGEM CILIAR

 Veno na beira do rio

Garranchos de algarobas, esturricados

No lugar da mata nativa

Um rio morto, esburacado

Onde o povo pega água de motor

Em poços perfurados, no areião

E as valetas feitas de trator

Os passarinhos tem que pousar no chão

As garças catam carrapatos na criação

Um cavalo preso num pasto que não tem capim

Terra nua resultado da devastação

Triste pra mim

Vendo isso acontecer em pleno sertão

 

 

ADEUS JACOBINA

O Vei Jacobina, pseudônimo de Valdemar Ramos Oliveira que faleceu essa semana no sertão da Bahia dend'os 93 anos que ia interar em julho...