O TIIÚ DA LAGOA SOTERRADA

Percurano uma sombra pra bater o bandeco e tirar uma boresta encontro amigo Tiiú que de tão zangado  se retirou sem me cumprimentar esse seu velho admirador 
Bicho valente, enfrenta e vence árduas batalhas com  cascavéis pois é mandingueiro e conhece uma batata na mata que anula o veneno da peçonhenta quando ferido; no mais o cabo vira um potente chicote que vai golpeano, do chucaio pra venta não perde um açoite.
Mas, dessa vez o amigo Tiú divia de tá infezado pur causa do aterramento final da lagoa, bateram laje de entulhos, gravilhão, cascalho e pedras transformando o que já foi um  riacho que entrava e saia da lagoa rumo pra desaguar no, hoje também morto e soterrado,  Itapicuru Mirim. Só restará um canal de esgoto coberto  de concreto em cima do lago. Farão uma obra que vai dar dinheiro pros empreiteiros, cartaz pro prefeito, renda pros permissionarios e o povo da cidade acha que vai ser bom por causa que vai ter uma arena pra jogos, festas, eventos e assaltos .
Talvez nesta cidade só eu o o Tiiú achemos que sepultar a lagoa não é bom pra ninguém, em nenhuma hipótese enterram peixes, cágados d'água, girinos e tabuas.
Volto pra jornada de pião desconfiado, quase na certeza, que o réptil caatingueiro não conseguirá escapar pra algum lugar seguro pois a lagoa já tava rodeada de civilização por todos os  lados e não há corredor seguro pra ele se refugiar se mandando lá pras bandas da Pingadeira.

COCADE DE LICURI

É coco, coquinho, cocada
Licuri, licurizeiro 
É coco, coquinho, cocada
Licuri, licurizeiro 
O doce mais gostoso
De todos que eu já vi
Não foi goiabada nem marmelada
Não foi de banana nem se murici
Não foi de cajá nem de jaca
Não foi de amora nem de kiwi
Nao foi de lima  nem de limão 
Não foi de pitanga nem de caqui
Não foi de manga, nem de mamão
Não foi de cacau nem de açai
Não foi de jabuticaba nem de sapoti
Não foi de batata doce
O doce mais doce que eu comi 
Foi o doce que fez na cocada
Do coco de licuri 
É coco, coquinho, cocada
Licuri, licurizeiro 
É coco, coquinho, cocada
Licuri, licurizeiro 

Pedro Sertanejo

 
Nascido em 26/04/1927, no município de Euclides da Cunha/BA, região onde sertanejos cristãos se rebelaram em obediência do beato contra a autoridade republicana. Pedro de Almeida e Silva, o Pedro Sertanejo, uma lenda do forró!

Grande tocador de fole de botão, ótimo compositor, afinador de sanfonas, produtor de discos e radialista, foi dono da gravadora Cantagalo e de uma casa de forró: Forró de Pedro Sertanejo.

Em 1966 fundou o forró que levava seu nome, ali no Brás, na Rua Catumbi, 183, passagem obrigatória da nação forrozeira em SP. Fundou a gravadora para dar voz aos nordestinos talentosos que não tinham vez nas grandes gravadoras. Dominguinhos, Camarão, Zé Gonzaga, Geraldo Correia, Clemilda, Zenilton, Ary Lobo e Anastácia também fizeram discos com Pedro e, mesmo, Jackson do Pandeiro gravaram sob o selo da Cantagalo, dos nomes mais conhecidos, somente Gonzagão e Marinês não fizeram parte do casting.

Compôs mais de quinhentas músicas, dentre essas Rato Molhado e Roseira do Norte (parceria com Zé Gonzaga) figuram entre as instrumentais mais tocadas pelos sanfoneiros e gravou mais de 100 discos.

Faleceu aos 69 anos em 1997

 

Abdias, Sanfoneiro Derna de Menino.


      Nascido em Taperoá em 13 de dezembro de 1933 e batizado por José Abdias de Farias, filho de Alípio Maria da conceição e Cecília Maria de Farias, Abdias foi sanfoneiro, compositor e produtor musical borboremense, nordestino, brasileiro e latinoamericano.
Seu pai era um dos mais afamados sanfoneiros do sertão paraibano que também era mecânico e afinador de sanfonas, foi dele que o primogênito Abdias recebeu os primeiros ensinamentos musicais pra pilotar a sanfona.
Aos  12 anos já era um craque no acordeon fazendo vez de solista na Radio Difusora de Alagoas; ele fora descoberto por um radialista da capital em  Palmeira dos Índios para onde fugira correndo da seca e da fome na Borborema. Ganhando um concurso nesta Rádio escolheu como premio uma viagem à sua terra natal recebendo em troca a obrigação de se apresentar na coirmã radiofônica em Campina Grande aonde veio a conhecer Marinês, então uma garota de 14 anos que cantava escondida do pai em programas de calouros. Ela, então, tornou-se companheira e parceira de vida e música por mais de 20 anos. Estando a dupla em Propriá, Sergipe, Luiz Gonzaga assistiu e se agradou do casal os convidando para se juntarem a sua comitiva, Abdias passou a dar “descanso” na sanfona pra seu Luiz. Por muito insistir Marinês, Abdias seguiu carreira solo tocando 8 Baixos e a diva continuou como estrela do Marinês e sua Gente. Sussuanil, ritmista e irmão de Marinês, completava o trio.
Em 1960 lançou seu primeiro disco pela Columbia gravando Quadrilha do Arraiá, de sua autoria e Roedeira do Amor de Ari Monteiro e ainda gravaria mais 3 naquele ano.
     Teve grande atuação como diretor da CBS por 28 anos, produzindo muitos dos artistas nordestinos no sul maravilha como : Jacinto Silva, Oswaldo Oliveira, João do Pife, Banda de Pífano Zabumba Caruaru, Trio Nordestino, Os 3 do Nordeste, Coronel Ludugero, Jacinto Limeira, Messias Holanda, Elino Julião, Jackson do Pandeiro, Genário do Acordeon, Edson Duarte, Marlene Vidal, Dominguinhos  e tantos outros, foi responsável por muitas inovações nas técnicas de gravações em estúdios buscando sempre uma melhor qualidade dos registros musicais, muitas até hoje utilizadas. Foi demitido a pedido da SonyMusic que extinguiu o seu Departamento.
   Como artista solo gravou muitos discos entre compactos, LP’s em 33, 45 e 78 rpm’s, ao sais  da ingrata CBS gravou entre 78 e 88 8  discos nas Gravadoras Uirapuru (4), Copacabana (3) e Chantecler (1). Também produziu outros artistas nessas gravadoras. Gravou samba, choro, xote baião, coco, merengue e vários outros ritmos, sendo constantes as experimentações em seus trabalhos, sempre regidos e arranjados pelo inseparável sanfoneiro gaúcho Maestro Chiquinho do Acordeon.
Faleceu 7 meses antes de completar os 60 anos de idade em 1991

60 ANOS DO FORRÓ PÉ-DE-SERRA

      Tentam ocultar a importância do forró na música brasileira.

A historiografia oficial registra que foram os tropicalistas que abriram o caminho para a geração setentista do pessoal do Ceará, Pernambuco e Paraíba, sobretudo, divulgar a música nordestina.

O movimento forrozeiro que começou com Zé do Norte, Manezinho Araújo, Jararaca e Ratinho nos anos 40; a década de 50 teve na primeira metade Gonzagão, Gordurinha, Venâncio e Corumba e Jackson do Pandeiro e na segunda veio de mangote: Gerson Filho, Abdias, Marinês, João do Vale, Zé Calixto, Trio Nordestino, Antônio Barros, Zito da Borborema, Dominguinhos, Onildo Barbosa e outros que reforçaram ainda mais o terreno pra vida de Noca do Acordeon, Jacinto Silva, Elino Julião, Messias Holanda, Toinho da Sanfona, Pedro Sertanejo, Tororó do Rojão, Zé Paraíba, Luiz Vieira, Trio Mossoró. Esses que citei são todos de antes da onda Tropicalistas.

Aliás, Carcará que deve ter sido a primeira gravação da turma na voz de Maria Bethânia é composição nordestina e sobre os nordestinos de João do Vale e José Cândido que teve no Trio Mossoró seu primeiro registro e os irmãos Oséas Lopes, Hermelina e João Mossoró gravaram também, de Luiz Vieira, com temática nordestina Carcará de Botina e Chapelão.

Só pra ilustrar dizendo que existia uma cena musical nordestina antes do som universitário, muitos artistas e um grande público formado por imigrantes, trabalhadores longe da sua terra natal, muitos salões e muitas festas onde o pessoal se apresentava. Mas era som de pobre, gente sem estudo, sem o glamour pequeno burguês da MPB.

Era o pé-de-serra

Considera-se 1962 como a data de nascimento do forró pé-de-serra. Foi o ano que Pedro Sertanejo, afamado tocador, concertador e afinador de sanfonas rumou de Euclides da Cunha no alto sertão baiano para São Paulo de matulão, família e sanfona e lá se estabeleceu formando um polo de aglutinação do forró nordestino em torno dos sanfoneiros e músicos estabelecidos, principalmente, na Grande São Paulo. Pedro Sertanejo formou conjunto, abriu casas de show, produziu e empresariou músicos, gravou discos e abriu até gravadora para poder registrar a produção desse pessoal.

A PÉ-DE-BODE – Do pé da Muralha ao pé-de-serra

 

Primeiro veio a sanfona e, muito tempo depois veio o forró.

Um instrumento de sopro que gerava som a partir da vibração de palhetas foi inventado pelos chineses três mil anos antes de J.C. É dele que surgiu o acordeon que no ano Em 1829, na teve a primeira patente registrada na Europa iniciando sua produção artesanalmente enquanto ia sendo aperfeiçoado a cada unidade até que no ano de 1872 surge na Itália a primeira fábrica que industrializou a produção.

A partir do início do século XX as sanfonas começaram a se espalhar pelo mundo e apareceram no Brasil através dos imigrantes alemães e italianos e devido a sua versatilidade, rapidamente se popularizou e foi incorporada aos ritmos musicais aqui já existentes. Após o final da 2ª Guerra Mundial, em 1947, foi fundada a primeira fábrica no país.

Aqui no nordeste, a sanfona se tornou sinônimo de forró, embora fosse muito utilizada para execução de choros e boleros. Uma versão das mais simples, de menor preço, porém complexa, a de oito Baixos, também conhecida pelo nome de pé-de-bode se espalhou que nem rastio de pólvora pelo sertão nordestino, principalmente nos enclaves da Borborema e no Pajeú onde encontrou com o samba de coco.

O teclado, com até quatro oitavas, e o campo de registros para timbres de diferentes instrumentos fica do lado direito; o fole responde pela dinâmica da interpretação através da sua abertura e fechamento, e do lado esquerdo ficam os botões, os baixos distribuídos de acordo com o círculo das quintas. O intervalo entre o baixo e o contrabaixo é de uma terça maior. Na diagonal os acordes apresentam-se nessa ordem: maior, menor, sétima e diminuta.

Existem dois tipos o diatônico ou piano e o cromático apresentando botões dos dois lados, sendo que no lado direito a disposição dos botões segue a ordem das escalas cromáticas.

Pra tocar 8 Baixos não existe escola, Luizinho Calixto há poucos anos publicou um Método de Aprendizado, mas os tocadores em quase sua totalidade aprendem “de ouvido”, vendo os Mestres tocarem.


A PARENTAIA DA PAIA

De cantador e poeta
Me arvoro um pouco
Embolar coco é o remédio
Pra que eu não fique louco

Licuri na caatinga
É coco miúdo 
Catolé 
Licuri graúdo 
                        É 
E o ariri
É o mirim licuri
Babaçu é coco açu
Babaçu é coco açu

O GENRO SEM SORTE

(uma toadinha de Vaquejada lembrando de Kara Véia)

Gostaria de chamar de meu sogro
Zeca de Sinobilino 
Me conhece derna de minino
Lá da Várzea das Forquilhas
Ele tem é 4 filhas
Belos tipos de mulher
Me casaria com qualquer uma
Mas nenhuma me quer

A mais nova é Severina
Negra da  boca carnuda 
E o gênio bem tinhoso 
Imagino aquele beijo
Deve ser muito gostoso.
Catarina joga bola
Estudou na minha escola
Marquei em cima do lance 
Cavalinho sai da chuva
Ali tu num vai ter chance
Roquilina é avançada 
Muito louca eu pirada 
Ia pro rio comigo 
Queixei ela em namoro 
Mas me quer só como amigo.
Roquilina é avançada
Não come reagge de nada
Compromisso ela tá fora
Se falar em casamento 
Tá mandando ela embora.

Gostaria de chamar de meu sogro
Zeca de Sinobilino 
Me conhece derna de minino
Lá da Várzea das Forquilhas
Ele tem é 4 filhas
Belos tipos de mulher
Me casaria com qualquer uma
Mas nenhuma me quer

NUNCAMENTE

Sei que existem
Paixões
Que resistem 
A separações
Sem que nunca mais voltem a ser vividas 
E não fiquem parecidas
Com taras ou obsessões
Embora nunca sejam esquecidas

Tampouco a distância 
 Ou o tempo conseguiram
Fazer esquecer
Então vivo sonhando
Com o que nunca vai ser
O verbo que rima com a gente 
Nunca vai acontecer 
Eu e você, juntos novamente
Que nem antigamente
No indicativo do futuro 
Conjungamos nuncamente

Trancei uma esteira  
Com palhas de licurizeiro
Pensando em você nela deitada
Caprichei o mês inteiro
No outro mês foi desmanchada
Pode parecer besteira 
Sem você qualquer esteira
Terá sempre o valor de nada

Tampouco a distância 
 o tempo conseguiram
Fazer esquecer
Então vivo sonhando
Com o que nunca vai ser
O verbo que rima com a gente 
Nunca vai acontecer 
Eu e você, juntos novamente
Que nem antigamente
No indicativo do futuro 
Conjungamos nuncamente

DAS 30 LEIS DO CANGAÇO

Resquícios da violência
Das 30 leis do cangaço
Lajedos do Caldeirão
Debaixo da pedra um degredo 
A foice afia na dúvida 
No açoite seco do ingaço
Despenca de lá cima
Se plante tenha medo
A dor por cima do ombro
Enverga o espinhaço
Não vá desistir agora
Ainda é muito cedo
A carne cortada quente
Na ponta do estilhaço
Antes de perder o anel
Conserve inteiro o dedo
Moendo e remoendo
Cuspino fora o bagaço
Aquilo que se ripuna
Sempre tem gosto azedo 
Se acaba a munição
Retalha na ponta do aço 
Chega de enrolação
Quebre logo esse segredo
Desamarre o nó nas pontas 
Libere o aperto do laço
Nos carrascais desse sertão
Quem espera tempo ruim
É lajedo, é lajedo 

ADEUS JACOBINA

O Vei Jacobina, pseudônimo de Valdemar Ramos Oliveira que faleceu essa semana no sertão da Bahia dend'os 93 anos que ia interar em julho...