O MOLEQUE VEM COM TUDO

Sou um dos maiores jogadores de dama que conheci, a modéstia não me impede de dizer. Aprendi a jogar dama em casa, meu pai me ensinou e com 11 anos "peguei a mão" do jogo dele e no dia que ganhei a primeira, ganhei várias, algumas foram até fáceis mas né faltou modéstia; ele não tinha facilitado e eu também não entendia que nas correrias de pai ele podia não tá num bom dia; desdenhei do Velho e ele, nervoso, quebrou a dama traçada com pincel atômico num isopor de uns  40X60 cm.
Mas eu não jogava só em casa, vários colegas também jogavam e tinham dama em casa e na Barbearia de Seu Nelson, pertinho de casa, tinha vários jogos de tabuleiro onde ele deixava a gente jogar mesmo quando não ia cortar o cabelo. Além de dama, tinha ranzinza, dominó, ludo e um totoxinho onde os jogadores eram pregos na madeira e a bola era uma nica (moeda) de CR$ 0,01 ( 1 centavo de cruzeiro) .
Já rapaz dos seus 18 anos quando fui morar em Salvador, aos poucos fui perdendo a timidez e  andei disputando partidas no ninho das cobras dos dameiros no Relógio de São Pedro; eu já não me concentrava no jogo como antes mas não fazia feio não, quando virava na riúna fazia a banca. Na hora do rango na firma demore tinha uma daminha também.
Em São Paulo fiquei afastado da dama, acho que nem joguei; muitos anos depois no Sul da Bahia, fui numa ocupação do Sem Terra e lá tinha um Maro muito afamado na dama, reinava e brincava com a galera, não perdia uma. Aí, eu na minha nem intenção de jogar tava e o povo no Barracão jogando na melhor de 3; quem perde, sai. Maro era 2X0 direto até que ele disse que tava cansado de tanta facilidade, ficou tatuando e me chamou pra jogar uma rodada, topei. Facilidade quem encontrou fui eu, 2X0; vamos outra? Fui, 2X0 novamente, jogamos uma 15 partidas, ganhei todas. Maro ficou meio envergonhado e o povo danou a zuar ele.
Nesses tempos de internet antes eu jogava online nas várias regras, nivel Mestre, gostava na não é a mesma coisa. Esse ano fizemos uma dama na casa da minha mãe lá no Roçado mas meus sobrinhos não conseguiram me ganhar uma, André também não. 
Ontem ele chegou com uma dama e me desfiou na hora di almoço, só dei pra jogar 1 rodada pois tinha que voltar pro trabalho, 2X0 e lhe disse que estava sempre 3  jogadas à frente dele.  À noite, outra rodada e logo na primeira o moleque me ganhou, o menino copiou meu jogo, veio com 3 jogadas â frente também, manteve a primeira linha sem mudanças e partiu pra cima com 6 pedras agrupadas em 3 duplas e consegui fazer um corredor pra que uma sétima virasse dama; ele perderá as 6 mas ficou com a dama por trás do meu jogo, me empurrando pro paredão intacto; fui perdendo pedras no avanço até que o moleque destruiu meu jogo e ganhou. Analisando fui perceber que ele utilizará sei conhecimento de jogador de xadrez, um bloco 3 pedras ele fez tipo de pião enviesado, a pedra que virou dama ele fez um caminho de cavalo Estupefato e orgulhosao fiquei, reconheci, elogiei e descrevi o que ele haverá feito. Acelerei pra 5 jogadas na frente e ganhei as 2 partidas seguintes e virei a rodada porque o coroa aqui agora tá esperto mas sei que em poucos dias estarei passando o posto, a diferença neuronal é grande, ele é obstinado e eu sempre fui um jogador indisciplinado, sempre fui um improvisador no tabuleiro, só que sempre tive velocidade de jogo (por isso, dama melhor que xadrez) e essa é, ainda, a minha vantagem no jogo mas já estou preparado pra passar o bastão. Mas o pulo do gato inda é meu.

ADEUS JACOBINA

O Vei Jacobina, pseudônimo de Valdemar Ramos Oliveira que faleceu essa semana no sertão da Bahia dend'os 93 anos que ia interar em julho...