OFERECIDOS

Chupo-te
Tal que uma manga suculenta
Bebo-te
Quero esse sumo
Minha sede é sedenta
Provo-te
Prato bem quente
Com ardência de pimenta

E tu me repete
Eu sou teu prato
Oferecida, me ofereço
E te amando
Eu agradeço



PISANDO INCERTO

Nosso último sexo foi oral
Mas não foi legal
Tava de cólica
Despedida melancólica
Foste minha vida e aquele momento
Hoje é lamento
Pedaço de mim separado
Um pra cada lado
E eu me perdi
A caminhada não deu tão certo
Nos atalhos aprendi
Pisando em piso incerto
Quem já  teve aqui por perto
Longe em sua jornada
Nem pode saber de nada
Caminhando seu caminho
Nem sabe que fiquei sozinho

CAMINHO DOS TABULEIROS (Moda pra Viola)

Era no Caminho dos Tabuleiros
Chapada dos Oitizeiros
Minina pra onde eu ia
Logo que amanhecesse o dia
Chorando por te deixar
Contando as horas para voltar
Quando eu ia ia sem querer
Voltava na correria não tinha tempo a perder
No Entroncamento tu lá estava
Bonita e perfumada
Sabia que me esperava
Oi lá.......
Eu desmontava ligeiro
Faminto eu lhe beijava
Caminho dos Tabuleiros
Chapada dos Oitizeiros

NA MUNGANGA

Arregaça esse zabumba 
Faz derreter esse ganzá
Mais quente que esse forró
Quem souber diga onde há
Arregaça esse zabumba 
Faz derreter esse ganzá
Mais quente que esse forró
Quem souber diga onde há

Só falta você neguinha
Quem souber diga onde tá
Estou lhe esperando
Espero que venha cá
A tempos que te paquero
Não encontro colher de chá
Hoje tiro o atraso
No forró do seu Vavá

Arregaça esse zabumba 
Faz derreter esse ganzá
Mais quente que esse forró
Quem souber diga onde há
Arregaça esse zabumba 
Faz derreter esse ganzá
Mais quente que esse forró
Quem souber diga onde há

RIO DO PEIXE - A LUTA CONTINUA

Um açude que, quando cheio, tem 3 léguas de lâmina d’água, obra do governo federal nas ações contra a seca. No tempo em que foi construído ficava entre os municípios de Jacobina e Queimadas, hoje Capim Grosso emancipado de Jacobina absorveu a maior parte da área. Nós anos 60 no maior dos povoados, o Rio do Peixe, na Cabeceira da Ponte da beira do Açude tinha uma grande feira na Vila que contava mais de 300 casas.

Nas proximidades do lago terra boa para o plantio e pra criação também, nas margens tomate, pimentão, melancia, hortaliças, pequenas irrigações. Peixe pra dar de pau! Enquanto os ribeirinhos prosperaram em minifúndios e áreas comuns pras criações, pelas bandas de Queimadas avançou com imensa violência e usura um empresário e deputado estadual, um tal de Theócrito, proprietário de uma fábrica de colchões com incentivos governamentais lá pras bandas da capital. Anexando posses e expulsando as pessoas auxiliado pela rede de poder local, estadual e federal, a força do seu mandato e as relações políticas de um partidário da ditadura militar, o dinheiro que comprou escrivães, juízes, delegados, a jagunçagem particular e policial, a engrenagem opressiva sufocou a resistência camponesa. A posse não foi retirada passivamente, homens valentes tombaram, ignoraram os perigos e a desvantagem e peitaram mas a luta sempre foi desigual, era o mundo contra aquele povo

Estive lá pela primeira vez no ano de 2000 numa reunião pra discutir a desapropriação da área, tinha mais de 500 pessoas interessadas: remanescentes que moravam próximo em Capim Grosso mas gente de Caen, Jacobina, Capela do Alto Alegre, Nova Fátima, São José, Gavião e Quixabeira. Na assembleia a minha proposta de ocupação imediata foi derrotada, a proposição da CPT através de um padre era que o certo seria seguir os caminhos legais, encaminhar documentação pro Incra e esperar o decreto.

O tempo mostrou o erro dessa decisão, nessa demora surgiram coisas escabrosas no processo, inclusive o recebimento de notificação pelo finado, certidões suspeitas e corpo mole do governo.

Depois de certo tempo o pessoal organizou um acampamento na Cabeceira da Ponte por um tempo, houve uma curta ocupação mas o resultado final foi a desmobilização.

Mas, o caso nunca foi esquecido, para algumas pessoas é questão de vida, resgatar a luta dia seus antigos e vez por outra, tem umas conversas sobre o assunto.

Estou sempre a apoiar, uma luta que também é minha.

 

 

 

 

 

 

 

 

FICANDO DE BOA

Não vou mais acreditar
Na sua promessa
Não me interessa
Nem queira falar
Não venha com essa
Estou fora dessa
Não quero escutar
Não vou mais acreditar
Na sua promessa
Não me interessa
Nem queira falar
Não venha com essa
Estou fora dessa
Nem quero escutar

Estou muito bem sem a sua pessoa
Arranjei alguém que me quer
Me faz bem essa outra mulher
Deixei dessa vida de atoa
Cansei de quem não me quer
Só quero agora quem me quiser
Se não, vou ficando de boa
Estou muito bem sem a sua pessoa
Arranjei alguém que me quer
Me faz bem essa outra mulher
Deixei dessa vida de atoa
Cansei de quem não me quer
Só quero agora quem me quiser
Se não, vou ficando de boa

Não vou mais acreditar
Na sua promessa
Não me interessa
Nem queira falar
Não venha com essa
Estou fora dessa
Não quero escutar
Não vou mais acreditar
Na sua promessa
Nem queira falar
Não venha com essa
Estou fora dessa
Nem quero escutar

QUILOMBOLAS

Um negro reaça
É um traidor
Envergonha sua raça
Renega sua cor
Esquece que um dia
Chicote estralou
Trabalho forçado
Que o branco forçou
Em nome de Deus
Papa abençoou
Em cruéis senzalas
Meu povo chorou
Fugiu pros Quilombos
Com bravura lutou

Um negro reaça
É um traidor
Envergonha sua raça
Renega sua cor
Em nenhum Quilombo
Pode morar
Mata dos Crioulos, Vargem do Inhaí
Mucambo dos Nego, Mangau, Mata Verde, Ilha do Paty
Coqueiro, Cinzento, Cabula e Dandá
Rio dos Macacos, Parateca, Iguape e Jatobá
Salamina Putumuju, Lagedo dos Nego e Tijuaçu
Bananeiras, Praia Grande, Porto dos Cavalos, Martelo e Ponta Grossa na Ilha de Maré
Guarany, Burnil Chifre do Bode e Sapé
Trindade dos Pretos, Maruanun, Ilha Redonda, Macacoari
Mel da Pedreira, Igarapé do Lago, Todo Matapi
Jibóia, Gaioso,  Jurema, Juá
Capão da Areia, Batalha,  Caimbongo e no Carobá

Um negro reaça
É um traidor
Envergonha sua raça
Renega sua cor
Esquece que um dia
Chicote estralou
Trabalho forçado
Que o branco forçou
Em nome de Deus
Papa abençoou
Em cruéis senzalas
Meu povo chorou
Fugiu pros Quilombos
Com bravura lutou

DARK GIRL'S

Ontem saí com umas garotas góticas
Coisas eróticas
Sexo sombrio
Garoto vadio
Carlito Gomes na voz de Ronnie James Dio
Elas estavam eufóricas
Teses exóticas
Qual desafio
Uma galera no cio
Querendo mudar esse mundo vazio

NUNCA MORREU

Quando você me telegrafou 
pedindo pra lhe fazer  uns versos de amor
Sem nenhum pudor
Me pego fazendo o que você  demandou
Confesso quão surpreso fiquei
Meu projeto era esquecer que te amei
Maldita seja essa hora
Lembrar que você foi embora 
Queria esquecer aquele dia
O estrago que fez na minha poesia
Impossível que  saias de mim
Mesmo querendo não poderia
Diga que sim, diga que sim!
Diga que não me esqueceu
Inda posso ser, inda sou todo seu
Apesar de toda  essa dor
Posso dizer que aquele amor
Nunca morreu, nunca morreu
Eu e você, você e eu
Na rua, na praça, na cachoeira
Daquela maneira
Roçando seus pelos por cima da saia
Na Beira da praia
Na Beira do mar
Te amar, te amar, te amar
Em meus versos, na cama em qualquer lugar
Te amar, te amar, te amar

GUARAPIRANGA LOVERS

Na beira da Represa
A chama acesa
Ando desnorteado
Acendo um baseado
E nesse momento
Invade meu pensamento
A lembrança em nós
Deu saudades 
De estarmos a sós
Pra conversar, fazer amor e sonhar
E querer mais
Viver mais
Tudo que a gente sonhou
E tragando aqui eu estou
Já nem sei mais quem sou
Só não sabe a dor da partida
A pessoa que nunca amou
E com seu love
Um baseado fumou




JORGIALTINIANA n°2

Meu coração já foi laçado por alguém
Ela já sabe e não contamos pra ninguém
Ao lado dela é tudo que me convém
Estamos juntos, não abrimos nem pro trem
Dessa vez eu acertei
Eu acho que nunca amei 
Uma pessoa assim
Me traz desejo 
Inda cuida de mim
O amor na cama
Parece nunca ter fim
Meu coração coração foi laçado por alguém
Ela já sabe e não contamos pra ninguém
Ao lado dela é tudo que me convém
Estamos juntos, não abrimos nem pro trem

ASSIM CAMINHA O PROLETARIADO

Sábado de meiã
O dinheiro da feira tá no bolso
Mas não posso esquecer, seu moço
Daqueles que não tem
Pois eu não tenho garantido
Na semana que vem
Não sei se vou ter
Semana passada eu não tive
Sei como sobrevive
Quem num tem o que comer
Nem onde comprar fiado
Fora do mercado de trabalho
Carta fora do baralho
Assim caminha o proletariado
De cabeça baixa
Vivendo na caixa
Pisando em brasa
Tem que pôr a mesa em casa
Procurar trabalho fora
Aguentar a opressão da rua
E ter que ficar na sua
Nunca que faz sua hora
Oferece o seu pescoço
Para quem lhe alugue o passe
Age como indivíduo
Padece por ser da classe

A FERRO E CHIP

Vai shipar ou chupar?
Vão te chipar!
Dizem que é pra georreferenciar
Uma argola no  cangote
Na cabeça bota um pote
Para produzir o dote
Sem dormir, só no virote
Outra dose de Corote
Pra num esquecer o mote
Não me cabe nada a ver
Ou, talvez, possa ser
Aparenta aparecer
Procurando se esconder
Sem que ninguém queira saber
E já não há nada a perder
Necessita esquecer
Mas já sendo procurado
Facilmente pode ser localizado
Sem tempo de saber o resultado
As razões de ter sido condenado
Um grito silenciado
Pelo espeto quente que fora marcado
Em ferro frio temperado
Em ferro frio foi temperado
É o pirão
É um pião revoltado


ZÓI DE GATA

Não me leve a mal

Vou dizer na real

Algo pra mim importante

É que de hoje em diante

Meu olhar evitará seu olhar

Pois não sei ver sem me admirar

Nunca me são estranhos

Esse par de olhos castanhos

Que um dia eu mirei

E como se existisse feitiço,

Me enfeiticei

Pra mim é a definição da beleza

Agora que tenho a certeza

De que não temos nada a ver

Sendo sincero

Tudo que eu quero

É poder esquecer

Me libertar

Da atração desse olhar

E quando te olho no fundo

 Me vendo capturado

Mal olhado

Que deixa o meu molhado

Vista ingrata

Zói de gata

 

TÃO LONGE, ADEUS

Hum ano que ela se foi
Foi pro além mar
Que fora fazer por lá?
De certo foi pra ficar
Daqui canto a saudade 
Da sua falta que ficou por cá
Já tenho quase certeza 
O que provoca tristeza
Parece que  não vai voltar
Preciso me convencer
Que ao meu lado
Não é seu lugar

DE POUCA CONFIANÇA ( Um sambinha dor de cotovelo)

Foi uma grande bobeira
Um erro, grande vacilação
Mal eu te conheci
Me rendi, me entreguei por inteiro
Entreguei as chaves do meu coração 
(E em troca?)
Em troca desprezo, frieza
Foi o que você me deu
Quando perguntam por min
Faz questão de afirmar que já me esqueceu
As lembranças daqueles momentos 
Perderam a graça, viraram lamentos
E agora quem não quer mais saber
Justamente sou eu!
Se alguém me perguntar de você
É melhor nem imaginar o que vou responder
Sem titubear respondo na lata
Nunca mais quero saber dessa pessoa ingrata
Insensata, de  pouca confiança
É de pouca confiança
Finge que ama, dá esperança
Pra depois abandonar
Tá aí uma pessoa
Que nunca mais quero encontrar

Seguirei o meu caminho
Melhor que seja sozinho
Mesmo que seja sozinho
Seguirei o meu caminho
Quebrada, beco, viela
Qualquer lugar sem ela
Nunca mais quero saber
Obrigado por me esquecer

BELA ERA ELA

Vou contar num release
Um lance forte do meu coração
Essa mina  fazia streap-tease
Nas boates da Augusta e da São João
Voltava por volta das 5 da matina
Com a sua dopamina
Tinha largado um ladrão de carros
Me dava dinheiro pra comprar cigarros
Trazer pra ela se destruir com pedrinhas
Que  chamava de lindinhas.
Mas linda era ela, linda era ela
Quando me lembro, que mulher foi aquela.
No princípio tratou de amigo
Depois quis um love comigo
Loira, bonita e vistosa
Na cama mó gostosa
Eu nem acreditei
Tão fácil me apaixonei
Porteiro noturno do seu edifício
Resistir me foi difícil
Eu fazia o que ela queria
Mais drogas que ousadia
Pra ela só importava o agora
Cansei, pedi as contas, fui embora
Linda era ela, tão louca, tão bela, linda era ela
Depois que fui embora
Nunca mais eu soube dela
Linda era ela
O nome já rimava com beleza
O nome daquela beleza,  tão belo quanto ela, era Andreza
Louca era ela, bela era ela

CARNE DO SOL, BIBELÔS, FEITICHES, DESEJOS E MERCADORIAS

 Nunca fui de chancelar as datas comemorativas que os niguciantes fazem pressão pra tomar o pouco dinheiro do cristão e do ateu; são muitas datas pra inventar motivo de vender mercadorias em firmas de presentes. Em alguma sofro pressão maior porque envolve com a filhos e destruir fantasias de criança é complicado, internet, a televisão, os parentes, a escola, a galera,  o modismo... São muitos os aliados que  o mercado tem nessa hora. Então, aniversários, páscoa, natal e dia das crianças me corta o coração cumprir o dolorido dever de dizer não; em alguns eu me calo e faço de alguma necessidade um motivo pra escanear a discussão e "presenteio".
Hoje, meu Tingulinho pediu farofa de ovo com toicinho no café da manhã e, no mal costume de comer falando, confessou estar com saudades daquelas farofas refogadas de carne do sol  com toicinho. Expliquei sobre o exorbitante e proibitivo preço da carne do sol, amo passado, a muito custo, comíamos de R$ 22,00 o quilo, hoje está de R$ 40,00 e que por isso eu havia parado de comprar pois hoje eu ganho menos dinheiro do que quando a carne custava menos.
Ele foi indagando e mudou o papo pro dia das crianças, expliquei que  a situação difícil da classe trabalhadora, a qual nós pertencemos não possibilita presentear com mimos w bibelôs nesse momento e que, também, eu, o pai, enquanto sujeito, não sigo essa correia de transmissão capitalista de vender mercadorias aproveitando fetiches que ela cria para se parecem tradição inquestionável. Debate de lá, debate de cá, determinei um consenso:
- Tá bom! Esse ano vou te presentear com 01 kg de carne do sol, 2 pelos, chã de dentro, oficial e ligítima; um pedaço cortado de uma manta traseira, daquelas que toma sereno e foi abanada com palha de licuri pras moscas não sentarem e mais meia libra de toicinho de porco
Aí, eu pego o presente e frito, no capricho, refogo nis temperos pra gente comer com uma farofa d'água.
E viva as crianças, viva o direito de comer carne do sol.

MACHUCAR FEIJÃO NESSA VIDA JÁ TÃO MACHUCADA

Este utensílio se chama machucador de feijão feito de madeira lavrada e pode também ser improvisado com uma garrafa de vidro. Esta ferramenta voltou a ter grande serventia na casa do pobre pois feijão duro é mais barato e também demora mais de cozinhar, mesmo na pressão. E com o preço do gás proibitivo pra maioria, o negócio é carvão ou lenha pra amolecer a caroceira de legumes.
Quando o feijão tiver começado a amolecer é a hora em que o machucador entra em cena. Sem tirar a panela do fogo, vai macerando e girando o cabo do trem. Dar, meio, uma esbagaçada no cozinhado para ajudar no cozimento pra pegar o tempero e engrossar o caldo.
Se aparecer feijão mais duro, o negócio é usar um parente mais radical do machucador, o cortador de feijão que pode ser feito adaptando esse tipo de machucador com a colocação de pregos. Existem modelos já prontos feitos com pedaços de zinco recortados e tem o tradicional aqui da região, feito de hélices de madeira de umburana de cambão ou pau de leite fixadas numa gaste de madeira.
Bom mesmo é feijão novo, orgânico que chega a derreter na boca e vira papa se demorar no fogo mas, o corpo padece de sustança e o feijão é uma fonte fundamental de energia calórica, seu ferro nos fortalece; aí lado do arroz, da farinha formam o trio mais requisitado nas cozinhas desse sertão da Bahia. Meu preferido é o de arranca, não o catioca mas bage roxa, mulatinho, rosinha, casimira sai mais saborosos. Meu Tingulinho parece sertanejo mais de cima, adora o feijão de corda; eu gosto de troperar, mas, todo dia no almoço  pra mim é castigo. A não ser se for no baião de 2, minha janta preferida .

FIGURA INTERADA

Trampando naquela construção, liguei a caixinha e mandei uns reggaes. Peter começou os trabalhos atirando logo as pedras, engatei The Vibrators, Bob e, quando rolou Alpha Blondy, a mina do Bar encostou, trocou umas ideia do reggae e voltou com uma latinha de cerveja pra mim.
Mandei César Nascimento, Manguinha do Sá Viana e O Radinho ela não conhecia e gostou demais. Quando joguei Roberto e Banda, o Reggae Nordestino, logo na primeira, do primeiro disco, ela me intimou:
- Aí, Moral, tem um fino pra presentiá a mente de Umaziôta?

RIBEIRINHO, BAIXO RIO DAS CONTAS

Ouço barulhos à beira da estrada
No meio da mata a caminhada
Sob trilhos onde não passam trens
E ninguém vai dar parabéns
Pra minha diária luta
Triturando minha força bruta, massa bruta
E intelectual, intelectual
Intelectualmente falando
Minha força quase esgotando
Apesar do meu esforço
Me derrubam pro fundo do poço
Clac, clac, clac
Bandeirei cacau
Mas não adoçou meu chocolate
É o gato que mia
O cachorro que late
O cigarro que apaga
A saudade que bate
Machuca sem dó
Corta de biscó
Pra jaracuçu não chegar prós pés
Empurrar a canoa
Pescar tucunaré
Segurar as pontas
Ribeirinho, Baixo Rio das Contas

TÁ FOGO

Mamãe ligou disse meu filho, tô no Roçado; me ver,  venha
Não posso ficar mas se pudesse eu ia levar mainha
Essa machado e esse fogão de lenha
Pra botar na minha cozinha
Pra queimar gravetos, sobras de construção
Pra passar o café,  fritar uma passarinha
Fazer um cozinhado e amolecer o feijão
Tá tudo caro, já sobra pra pagar a água,  comprar o café, a farinha
Se não gastar com botijão

FRASES SOLTAS, FATOS E ACONTECIMENTOS

Guardadas de dentro de mim

Não irão silenciar

Mesmo quando poucos  queiram escutar

Quando se tornam difíceis de explicar

De um jeito, não sei dizer,  assim

Da forma que lhe é costumaz

Como quem vive querendo

Fazer o que não faz

Rabisco pra me fazer  entender

Me ponho a escrevinhar

Aquilo que penso em dizer

Mas a caneta não consegue acompanhar

A velocidade dos meus pensamentos

Onde se misturam frases soltas

Sobre fatos e acontecimentos

FAISQUEIRA

 

Dormiste lá em casa

Fizeste o fogo queimar

Deixaste madeira  em brasa

Consumisso de incendiar

Labareda que arrasa

Não deixa apagar

A labareda faz brasa

Se a lenha queimar

Destrói e arrasa

É só atiçar

Esse pavio no peito

Que serve pra alumiar

Bateno, esquenta no jeito

Virano uma brasa

A se consumir

Deixano o fogo que apaga

Quando tu for sair

Queimo sozinho em casa

Sem ter quem atiçar

Venha, sou lenha

Ponta pra queimar

Se é que mereço

Pra palavrear

Passa lá em casa

Sabe o endereço

Ainda sou brasa 

E o recomeço

É só assoprar 

Reacender a Chama

Que ainda tem lenha

Pra gente queimar





 

 

 

PAISAGEM CILIAR

 Veno na beira do rio

Garranchos de algarobas, esturricados

No lugar da mata nativa

Um rio morto, esburacado

Onde o povo pega água de motor

Em poços perfurados, no areião

E as valetas feitas de trator

Os passarinhos tem que pousar no chão

As garças catam carrapatos na criação

Um cavalo preso num pasto que não tem capim

Terra nua resultado da devastação

Triste pra mim

Vendo isso acontecer em pleno sertão

 

 

ORAÇÃO PRA TIRAR DE TEMPO (Louvando Bezerra da Silva)

Baculejo no buteco

Isso é um mal sinal

Enquadrando todo mundo

Esculacho é geral

Vamos puxar uma reza

O tambor no contratempo

Malandragem que se preza

Sabe quando dar um tempo

Essa fita já foi dada

Tem uma pá de intrujão

Aqui ninguém dá 2 em nada

Vou te ensinar uma oração

Pra quebranto, mau olhado

Dor nos quartos e proteção

O que te deixa amargurado

Sou Pái Veio eu te curo

Garrafada de agrião

Tira o que for do munturo

Terá carro, namorada

Assegure seu futuro

Só não salva tua vida

Se tu for um dedo-duro

Porque aí suja de vez

O nome do peixe é pinote, vaza vacilão

Nem cá fora na  Favela nem lá dentro no xadrez

Cagueta tem perdão

O JONGO DO PALÍNDROMO AO COCO COA

Ao coco coa

Se apertar sai um cordel

Meu repente não perdoa

Hoje faço um escaçéu

Faço uma loa

Pro meu tempo de bordel

A palha voa

Vento sopra pelo céu

Rema a canoa

Atacado e granel

Não ensaboa

Nem amassa meu chapéu

Que não destoa

Separe o doce do fel

Batuque entoa

Quebradas do Mundaréu

A gente zoa

Porque tá muito pinel

Barro queimado coa

Pingando de déu em déu

Pamonha boa

Cheira a conhaque e mel

CERTEZA DE ESTAR CERTO

Estou muito certo

do que vou dizer

De peito aberto

Que é pra você saber

Se não te contemplar

Esse  pobre cantar

Desculpe a timidez

Mire meu olhar

Procuro palavras pra te definir

Esgoto o dicionário

Tentando conseguir

Boca pra provar

Língua a te sentir

Na hora perco a hora

Jamais quis eu partir

Que nunca que termine

O nosso existir

Não haveria  porquê

A gente não tá perto

Enamorado por você

Certeza de estar certo

Vivendo essa paixão

Que seja desse jeito

É o que diz um coração

Batendo no meu peito

OFF-LOVE

Providenciei envelope

Até selo comprei

De coração ferido

2 linhas mal tracei

Se você não se entregou

Eu, de todo, me dei

 Já é muito tarde

Mas só agora que sei

Arrenegada seja a hora

Que contigo trombei

Comprado briga com o mundo

Vida de fora da lei

Sempre arriscano

O que tinha apostei

Nessa de tentar a sorte

Iludido joguei

Mirei alvo errado

Em nada acertei

Não lhe faria rainha

Pois eu nunca quis ser rei

Tá na vez de parar

Mágoas não carregarei

Foi tanta dificulidade

Já me desinteressei

Só lamento que a pressa

Que nessa empreita me lancei

3 dias demora uma carta

Porquê não telegrafei ?

NÃO POSSO VIVER DE ARTE

É por isso que eu não vivo de arte

Meu escrevinhar não faz parte

Posso fazer minha obra

Com o meu tempo que sobra

Pago o que o boleto  cobra

Me viro pião de obra

Do salário  não sobra

A sociedade me cobra

O meu som não faz parte

Não posso viver de arte

Não registrei minha obra

Vivo comendo o que sobra

Meu sonho não se dobra

Tento fazer minha parte

Dizem que vivo em Marte

Não vendo a minha arte 

No show não tomo parte

Sou um pião de obra 

Sem cachê sou quem sobra

Por tudo que o mundo  cobra 

Tudo veneno de cobra

Posso juntar o que sobra

Reconstruir  minha obra




BOM DIA CARISTIA

O aumento da meia libra de café
Foi demais, foi demais, foi demais
Aqui na minha rua passa apuros 
Os vizinhos e os demais
Tá voltano o tempo d'eu minino
Na venda de seu Alvino
De Cirico e de Lorico
Comprar óleo pela dose
Que nem fosse cachaça
Meia cuia de farinha
Pra encher meia cabaça
Uma bucha de Bombril
Meio quilo de açúcar
Uma pedra de anil
Arrochando nesse povo
Do país varonil
Não consigo mais dormir
Acossado raia o dia
Ameaça logo cedo
Manda para correria
Sempre correndo atrás
Perdendo pra caristia.
O aumento da meia libra de café
Foi demais, foi demais, foi demais
Aqui na minha rua passa apuros 
Os vizinhos e os demais




OLHAR DE PÁSSARO LUNAR

Os pássaros da lua (Les oiseaux de lune) é uma peça do dramaturgo francês Marcel Aymé, estreada em 1955 por André Barack no Théâtre de l'Atelier em Paris.

Um mundo humano miserável e sem alegria, egoísmo,  malícia, ganância, avareza, prazer, instinto descontrolado, mentira e ciúme caracterizam uma vida desagradável pontuada pela rebeldia, estupidez e instinto cruel e vida dissoluta.

Nessa semi existência semi a tentativa de  transformar a humanidade em pássaros numa "operação espiritual", sem truques, que não sujeita quem se transforma a uma maldição maligna e os libera à felicidade e, na lua nova, os pássaros,  lunares, se tornam, novamente humanos, testemunhas do estágio  superior  pois, enxergando com o olhar  de pássaro , do alto, podem ver o essencial .

 

A CAVERNA, A ALEGORIA, O MITO E A GNOSE

No livro “A REPÚBLICA” uma das passagens  mais conhecidas é a “Alegoria da Caverna” também conhecida como “O Mito da Caverna”, nesta metáfora Platão discute a gnoseologia, como é possível captar o existir através dos sentidos e da razão, adentar-se no mundo sensível e no inteligível. Muito mais Alegoria do que Mito, esta é uma das passagens mais importantes da Filosofia
Desde o nascimento, pessoas vivem acorrentadas dentro de uma caverna iluminada pela luz de uma fogueira, olhando para a parede do fundo onde sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia a dia são projetadas. Esses prisioneiros nomeiam as imagens (sombras), analisam e julgam as ocorrências
   Platão discute que, caso algum dos prisioneiros saísse das correntes e explorasse a caverna e o mundo exterior, o contato com o real o mostraria ter passado a vida julgando e analisando sombras de estátuas. Então ficaria deslumbrado com as coisas de verdade e, ao voltar para a caverna, tentaria passar pros companheiros de cárcere, seu aprendizado liberto das correntes.
   Isso, provavelmente, o faria ridículo frente aos seus pares que, somente acreditariam na realidade da parede iluminada, na caverna; seria tido como louco, e ameaçado à morte caso continuasses com aquelas ideias esquisitas.
Os humanos enxergam o mundo de forma distorcida, são os prisioneiros do Mito, presos à vida que levam. O mundo é a caverna, apresenta o que não representa o real. Sem libertar-se das correntes, sem sair dela (a caverna), permanecem alheios à realidade

BELEZA MANO VEGANO

O cabra nascido em Catolé do Rocha

Hoje, se vê uma buchada de bode

Faz beicinho e brocha

O apetite se encerra

Rifuna pois não pode

Se for uma galinha

 Terra

Vai contra sua fé

Embrulha o bucho

E berra

E, caso seja uma saqué?

Béeee

 

NORTHERN SOUL - A dança e o som black na Inglaterra

O movimento northern soul surgiu no norte da Inglaterra na década de 60 e envolvia dança e na influência da batida bem pesada da black soul da América do Norte  que gravitava fora da órbita e da influência da Motown que dominavam as paradas. Geralmente, os sons menos conhecidos, de tiragem limitadas lançadas por selos de abrangência regional como   o Ric-Tic e o Golden World  de Detroit;  o Mirwood  de Los Angeles e o Shout e Okeh  de Nova Iorque / Chicago. O termo foi criado para diferenciar as músicas de funk mais modernas, do soul influenciado pela Motown de alguns anos antes. Guitarra elétrica, baixo, órgão, vocais e metais fazendo soul, rhytm and blues e gospel  num frenesi mais uptempo que nos anos 70 se tornou algo parecido com o break e o disco com   giros, pulos e caídas para trás  inspirados nas apresentações  de artistas do soul americano como Little Anthony & The Imperials e Jackie Wilson que frequentemente visitavam o solo inglês. O movimento que começou a partir de Manchester e se espalhou pela ilha do norte, entre os anos 60 e o início dos 70  os sons mais tocados eram gravações mais antigas  dos anos 60 garimpadas por DJ’s que aos poucos acrescentaram lançamentos mais contemporâneos

POSSO SER SEU LOVE

De tanto olhar

Corri  o risco de me apaixonar

De tanto ver

Não consigo mais esquecer

Suas fotos fico vendo admirado

Invejando esse cara premiado

Que toda noite contigo dorme

Se largar dele, peço que me informe

Estou disposto a deixar tudo

Pra viver esse desejo ainda mudo

Que por decência nunca pude anunciar

Respeito o mano mas não posso apagar

Da minha mente esse louco querer

Eu bem tentei mais não consigo esquecer

Se por acaso ele fizer a loucura em te deixar

Te dou meu ombro para que possas chorar

Se ficar triste eu bem sei que me comovo

Sempre estarei por perto caso resolva amar de novo

A única fé desse romântico ateu

E que um dia ele possa ser mais que somente um amigo seu

Caso a sorte me traga a oportunidade

Me entregaria de verdade

Vem, se quiser que eu prove

Posso ser seu love

Posso ser seu love

NAS QUEBRADAS DO AMOR

Foi um sonho, se não era foi o que pareceu

Fui te buscar e na escada apareceu

Chegava linda, tava na minha Quebrada

Uma saudade sinto daquela madrugada

Simplesmente foi somente para visitar

Fazendo meus olhos fixarem teu olhar

Sua ausência me faz enorme diferença

Tudo eu daria para ter a sua presença

Pego o dichavador pra mais um apertar

Dai-me outra chance sei que vou me declarar

Outra cerveja, vamos completar os copos

Entre abraços o calor dos nossos corpos

Te falarei do bem querer que me domina

Que bom seria que você fosse minha mina

Por mais que fujas e que tente encontrar

Nesse planeta não haverá outro lugar

Onde exista um amor assim tamanho

E por mais que te possa parecer estranho

Caso quiseres ser a minha namorada

Te ofereço todo amor dessa Quebrada


RAP PÉ DE SELVA

Ô mundo cão, Jão

O mundo é cão. Jão

Não dá mancada, não

O sistema não perdoa

Fica ligado, fica de boa

Vacilou, se perde atoa

Se perde não, Jão

Que o mundo é cão, Jão

O mundo é cão, Jão

Isquece não

 

 

Na Quebrada tudo tenso

Filma o movimento

Digo o que penso

É cruel e violento

Comum se torna o senso

Normaliza o sofrimento

Abismo imenso

A toda hora e momento

O perigo é extenso

Não vale o argumento

 

Ô mundo cão, Jão

O mundo é cão. Jão

Não dá mancada, não

O sistema não perdoa

Fica ligado, fica de boa

Vacilou, se perde atoa

Se perde não, Jão

Que o mundo é cão, Jão

O mundo é cão, Jão

Isquece não

ADEUS JACOBINA

O Vei Jacobina, pseudônimo de Valdemar Ramos Oliveira que faleceu essa semana no sertão da Bahia dend'os 93 anos que ia interar em julho...