97 DISCOS LANÇADOS EM 1974

Relacionei 97 álbuns  lançados em 1974 que já escutei nessa orelhuda jornada de apreciador sonoro.
O Blues, o jazz, a soul, a música latina e a  africana mereceriam capítulos à parte, falta uma maior incursão no brega,  no forró  e na música  caipira. 
Inda falta destacar a música africana 

Mote e Glosa- Belchior 
A Dama do Nordeste  - Marinês 
Paulo  Diniz - Paulo Diniz
Montanha Russa - Trio Nordestino 
O Fole Roncou - Luiz Gonzaga 
Secos e Molhados  - II
Dracula  O Love You- Tuca
Molhado de Suor - Alceu  Valença 
Fernando  Mendes - Fernando Mendes 
Você  Prometeu  Voltar  - Diana 
On the Border -  Eagles
Snegs - O Som Nosso de Cada Dia
Do Romance ao Galope Nordestino - Quinteto Harmonial 
Tem Fuzuê - Abdias dos 8 Baixos
Isto É Que É Carimbó - Conjunto De Carimbó Canarinho De Marapanim · Mestre Lucindo
Rejuvenation - The  Meters
Too Much Too Soon - New York Dolls
Vanusa - Vanusa 
Rock'n Roll Animal - Lou Red
Casa das Máquinas - Estreia do Grupo 
Ave Sangria - O Disco Icônico 
Autobahn -Kraftwerk
Cangaceiros do Nordeste  -  Ary Coutinho, Joãozinho da Sanfona, Severino Barros e Severino Januário.
Coro dos Tribunais - Zeca Afonso 
Burn - Deed Purple
Borboletta - Santana 
Dominguinhos e Seu  Acordeon - Dominguinhos
Retrato de Um Forró  - Mestre Camarão 
Cartola- Primeiro Disco Solo
Crime of the Century - Supertramp 
Down to Earth - Nektar
Flavíola e Os Filhos do Sol - Flavíola
Volume  2 - Pinduca
Volume 3 - Noca do Acordeon
Fulfillingness' First Finale - Stevie Wonder 
Gita - Raul Seixas
O Rei do Carimbó Volume 2 - Alípio Martins
Lembranças  - Odair  José 
Siriá - Mestre Cupijó e Seu  Ritmo 
Heroes Are Hard to Find - Fleetwood Mac
Hell  - James Brown 
Light Of Love  - T-Rex
Naty Dread - Bob Marley & The Wailers
War Child - Jethro Trull
Waterloo - ABBA 
José Roberto e Seus Sucessos Volume 8 - Zé  Roberto
Volume 8 - Paulo Sérgio  
Segue Teu Caminho  - Waldick Soriano
Nossas Raízes- Jackson do Pandeiro 
Samba Sem Hora Marcada - Noite  Ilustrada  
José Ribeiro  1974 - Zé Ribeiro 
Destellantes - Los Destellos
El Picottero - The Latin Brothers 
Con Sabor a Cuba- Pedro Miguel Y Sus Macaraibos
 É Proibido Cochilar -  Os 3 do Nordeste 
El Poder Verde  - Los Mirlos
Un Pobre No Mas - Los Humildes 
Recuerdos de Una Noche - Los Pasteles Verdes
Lo Máximo  - Hector Rivera e His Orquestra
En Una Nota - Monguito Santamaria 
Pra Que Tristeza  - Os Originais do  Samba
Toma Mi Saxo - Toño Reyes Y Sus Psicodélicos 
Celia e Johnny - Celia Cruz e Johnny Pacheco 
Latin Soul-Rock - Fania All Stars
Heavy Reggae - The Innercircle  
Mi Vida Como Un Carrusel - Los Angeles Negros
In The Dark - Toots & The Maytals
Dub Frpm The Roots - King  Tubby
Rocking Time  - Burming Spears
Skyp Aroy  - The O'Jays 
The Revolution Will Not Be Televised - Gil Scott-Heron
Sweet Exorcist - Curtis Myfield
Body Heat - Quincy Jones
Street Lady - Donald  Byrd
Heady Hunters - Herbie Hancock
Blacks  and Blues - Bobby Humprey
Singels  Billie Holiday  - Nina Simone 
Graham  Central Station - Graham  Central Station
Up For The Down Stroke - Parliament
Truck Turner - Isaac Reyes
Nutbusch City Limits -  Ike & Tina Turner
Black Eyed Blues - Ester Philipps
Friends - B.B. King
I Can't Stand The Rain - Anna Peels
Come A Little Closer - Etta James
Makossa Man - Manu Dibango
Three The Hard Way- The Imoressions
Luiz Gonzaga Jr. - Gonzaguinha
Assim Assado - Assim Assado 
El Arbor Que Tu Olvidaste - Atahualpa Yupanqui
Triângulo  (Volumen V) - Pappo's Blues
She Was Too Good To Me - Chet Baker 
Dois Sujeitos Incrementados - Elino Julião e Messias Holanda
Canta, Canta Minha Gente - Martinho da Villa
Nightlife - Thyn Lyzzy
À Queima-Roupa - Sérgio Godinho
Eu Chego  Já  - Jacinto  Silva



MANO CRIS (EU DISSE QUE IA)

Trabalhei de 6 da noite

Até 6 horas do dia 

Serviço de manutenção 

Horário de vigia

Só quem trampa no ABCD

E tem que voltar pra Osasco 

Pode mensurar a dificuldade  da jornada 

Que eu enfrentaria 

Ia na Quebrada do Cris 

Achando que o surpreenderia

Com certeza ele duvidara 

Quando disse que seu convite 

Eu atenderia 

Marquei que na sua Quebrada 

No domingo eu iria 

A logística do transporte 

Obra de Engenharia 

No ponto da Anchieta 

6 e meia  embarcaria

8 e meia em Osasco 

Do trem  eu desceria 

Dali em diante ficou certo 

Ele orientaria

Qual ônibus que pegava

Em qual ponto desceria 

Depois do cemitério 

Do farol eu voltaria 

De logo encontrei uma treta

Na porta da bicicletaria

Vagabundo vai pro chão 

Mecânico providencia

Noia não dorme de noite 

Pra atrapalhar o dia

E agora o que faço 

Entrei na mercearia

Bom dia Dona Menina

15  balas de banana 

Da sua mercadoria 

Cadê Cris que demora 

De subir a Escadaria 

Mas logo ele chegou

Fez valer a correria

Uma volta na Quebrada

Gastamos uma micharia 

Ficamos muito loucos 

Domingão só alegria



ESTILO NEGO DITO (Nas Quebradas do Itamar )

Vem Neném,
Neném Venha 
Caso objeção não tenha
Ou não precise de senha 
Venha !
Caso não lhe seja vilte
Aeh o convite,
Pastel na Vila Matilde,
Como !
Como não ?
E se fosse na Penha?
Então venha!
É como se fosse na Penha. 
Ficamos de bobeira 
Debaixo da figueira 
Sem eira nem beira
Feito pastel desfeito 
Caldo de cana na Feira

OUTRA VEZ O AMOR

Na beira do Maracaçumé

Assobiando  e fazendo canções 

Adelino fez sua profissão de fé 

A sina de confortar corações

Cantando as peças que o amor prega 

Com suas  tristezas e desilusões 

Sucessos  inesquecíveis da música brega 

Cantados por um passarinho 

Aninhado no Maranhão 

Estava triste por ter  amado

A quem só lhe devolveu  a ingratidão 

Uma dor alojada em seu coração

Movia e comovia o embriagado 

Cantor apaixonado do povão


Bebia, bebia porque sofria

Bebia assim como eu

Quem nunca bebeu algum dia

Nem amou nem tampouco sofreu

Bebe chora  feito  menino

Quem lembra é  porquê  não esqueceu 

Quando lembrou doeu

Tava escutando  Adelino


Quando  conheci Madalena 

Ouvindo Adelino eu estava

O passado hoje condena

Bebia cachaça e chorava

Inda choro pois ainda  sei

Que quem tanto amei

Na verdade não me amava.


Vou deixar este bar

Sair pela rua, vou caminhar

Me iludi novamente 

Vou me apaixonar 

Sempre na minha mente 

A ideia é  quente 

Um dia a gente 

Vai se encontrar 

Seja por onde for

Quero ver o desejo se realizar 

Ao som do considerado cantor

Aprecio a sua  beleza 

Esqueço a  tristeza 

Outra vez o  amor 

BATUQUE NO MEU CORAÇÃO

Frevo, galope, merengue, baião
Frevo, galope, merengue, baião
Tum, tum, tum, tum
Tum,  tum por você 
Batuque no meu coração 

Na Estação do Metrô 
Fingiu desconhecer
Nem me viu entristecer
Esqueci onde vou
Desembarcou no caminho 
Trecho sigo sozinho 
Faz frio onde estou 
Vazio  é  o ambiente 
Passado, futuro, presente 
Parece que se acabou 

Frevo, galope, merengue, baião
Frevo, galope, merengue, baião
Tum, tum, tum, tum
Tum,  tum por você 
Batuque no meu coração

RAPIDINHA ( A Crônica do Dia Seguinte)

Bom dia mina bela
Esse cheiro  de tabela 
Me deixou instigado  
Vamos bolar  outro  baseado
Só  porque  tu quer que tu se vai 
De por mim você não sai
Me causaria  ciúmes
Se tivesse nos perfumes 
Passeando por aí 
Imbecada e cheirosa 
Altiva e gostosa 
Enquanto eu aqui
Lavando louças  e talheres 
E a mais bela das mulheres 
Me deixando louco 
Uma noite foi, é,   pouco 
Vou dar um talento na cozinha 
Deixa o chão pra limpar depois
Inda dá  tempo nós 2
Dá  uma rapidinha 
Aproveitar a hora 
Antes que voce vá embora

ONDE NENA ESTÁ ?

A casa onde ela morou 
Ainda está lá 
Lá no mesmo lugar
A casa onde ela morou 
Ainda está lá 
Lá no mesmo lugar.
Nena não mais mora lá 

De cima do   morro
Deu  pra avistar 
Naquele mesmo lugar
Reparei  em certa casa
Pra que fui  me lembrar ?
Uma certa tristeza 
Tempo não vai voltar 
Mas o passado tá lá 
Lá no mesmo lugar 
Fui me apaixonar 
Danei a recordar 
Dicidi no rompante 
Eu vou é lá 
Onde Nena morou
Quem sabe ela tá  lá 
Lá no mesmo lugar
Onde a casa está 
Porta  fechada 
Casa distiorada
Sem ninguém pra informar 
O que iria perguntar 
Que foi que aconteceu?
Onde Nena está ?
Pr'eu poder encontrar 
Isso me entristeceu 
Serviu pra confirmar 
Parte de mim que morreu 
Não quis acreditar
No tempo já se perdeu 
E eu a procurar 
Esquecer não dá 
É difícil aceitar
Nena não mais mora lá 

A casa onde ela morou 
Ainda está lá 
Lá no mesmo lugar
A casa onde ela morou 
Ainda está lá 
Lá no mesmo lugar.
Nena não mais mora lá


http://prosiado.blogspot.com/2023/12/onde-nena-esta.html

DE SANFONA E SANFONEIROS


Fui vizinho de 2 sanfoneiros, um deles, Zé  inda vivo, diz que foi Luiz Gonzaga o maior sanfoneiro de todos,  Zé Paraíba, o segundo ; pro outro , Manoel, era Zé Paraíba (o que mais vendeu discos) e pronto! Pra mim que já devo ter ouvido mais de mil discos de forró, foi Noca do Acordeon, mas Luiz  Gonzaga dizia qie 0 Rei da Sanfona, era  Mário  Zan. Dominguinhos tá no time dos craques, modernizou o modo de ser tocador, agregava, era humilde e tocava e trabalhava muito. Mas tem a trinca dos 8 Baixos,  Gerson Filho, Zé Calixto e Abdias que além de fazer seus discos ajudou quase todos nos primeiros 30 anos do forró fonográfico . Outros como Camarão, o visionário que montou a primeira banda pra  forró, Arlindo dos 8 Baixos,  Manoel Maurício, Geraldo Correia são menos conhecidos do público mas muito respeitados por seus pares que o tratavam em pé de igualdade. Cesar do Acordeon  o Abianto, foi fantástico; Duda da Passira gravou ne mais de 3 mil fonogramas 3 também um disco só Tocano Noca, que nem fez Chico Justino, o talento rústico da sanfona cearense. Voninho no rasqueado araguaia-pantaneiro é outro tocador  de lascar. Lili Meio, uma alagoana muito retada que gravou alguns discos tocando sanfona  se vestia dw cangaceira
A Casa de Januário é um caso à parte, a família chegou a ter um programa semanal de rádio, Chiquinha, a caçula era danada e no xaxado num perdia pra ninguém; Zé Gonzaga era retado e tirava onda quando queria tocar só nos baixos, era o mais moderno, autor de Baião Psicodélico e Baile da Tartaruga. Severino Januário era o dono das 8 Baixos e tocava o baião bem batucado. Na casa de Dideus, pai de Zé  Calixto, ainda  saiu Luizinho Calixto e Bastinho, figura importante na popularização do brega ao lado da companheira,  Hermelinda e seu cunhado Oseas, também sanfoneiro do Trio Mossoró que virou  Carlos André  um dos maiores vendedores de disco do gênero 
Lindu além dw grande voz era excelente o instrumentista e arranjador do Trio Nordestino. O gaúcho Chiquinho do Acordeon era maestro arranjador  e foi parceiro de Abdias durante seu tempo de CBS fazendo a direção musical 
Pedro Sertanejo é o pai do pé de serra e ainda trouxe o seu filho Oswaldinho, talvez o mais completo sanfoneiro da história ao lado de Sivuca.  Ao lado desses 2 últimos, Dominguinhos formou a fabulosa trinca que gravou  discos pra Zé Ramalho, Genival Lacerda e pra Gonzagão; também gravaram Cada Um  Belisca Um Pouco,  ápice do imstrumental sanfônico.
Certa feita, fazendo um show em Jequié, terra de Noca, Dominguinhos disse que certa feita fez uma música e deu a fita pra Noca gravar mas ele ninca respondeu. Noca tinha um temperamento difícil e era meio retraído do "mundo artístico " preferia se enfrentar em temporadas pelo sertão onde ia curtindo a vida e fazendo os shows que apareciam e em todo lugar queriam show de Noca.
Boto na conta de Sivuca e Dominguinhos de na marcha modernizatica pra ampliar o mercado do forró  eles acabaram acelerando a derrocada de uma cena muito popular, arraigada no Nordeste e entre os imigrantes no sul; muita mesa focou sem comida  enquanto os  artistas da classe média foram tomando o lugar da turma forrozeira com ajuda da televisão e das fm's.
Oswaldinho eu acho um grande produtor desde o primeiro de Tororó do Rojão e depois o de Jacinto Silva onde o piano entrou no coco de embolada, os discos de Raimundo Sodré e até desenvolvimento da primeira sanfona eletrônica contou com a sua consultoria pois os anos de sanfona castigaram sua coluna e p peso  dela a tornou dolorosa pra ele. 

AS COISAS DAS ALAGOAS

Há 60 anos o Trio Nordestino lançou, do baiano Gordurinha Carta a Maceió  falando sobre o deslumbramento de um alagoano com a então capital federal.  Maceió que ganhou outro hino quando Carlos Moura escreveu Minha Sereia, que fez grande sucesso na Bahia  onde toca  até  hoje.  

Pode reparar que muitos ritmos  e modalidades têm sua variante alagoana: xaxado, martelo, pagode, baião, galope, pife, maxixe, samba, coco de roda, folguedos, reisado , chegança, coco-ciranda  .... e está por lá um dos nossos berços musicais. Baião das Alagoas gravado ppr Paulo Diniz gravou, de uma parceria com Juhareiz Correya, el Baião das Alagoas em 76 eu acho um dos baiões mais bem arranjados que já  ouvi . Gonzaga  e Clara  Nunes gravaram Viola de Penedo  de Luiz Bandeira, lindo   baião de viola. Alceu,  no ápice do udigrudi fez Espelho Cristalino que batizou o disco e a mina da história era uma baiana que morava em Maceió  Alceu também gravou Martelo Alagoano no disco Cavalo de Pau; Zé Ramalho também tem uma música batizada de Martelo Alagoano.   Tororó do Rojão, o Manoel  Apolinário, craque de bola e do ritmo, alagoano que viveu e faleceu em Maceió, Sigura Minino

Foi nas Alagoas que Manoel Biano há 100 anos iniciou  o Zabumba Cabaçal que ainda hoje vive no Zabumba Caruaru. Chiquinha Gonzaga gravou Xaxadinho  das Alagoas com seu irmão Zé Gonzaga;  Lili Melo  gravou Xote Alagoano; Pedro Sertanejo gravou Forro. Alagoano e seu filho Oswaldinho o imitou  

No  célebre disco de Waldete e Seus Cometas, Adeus Jacobina  tem samba de zabumba e isto é coisa do sertão baiano na divisa alagoana. Joana Flor das Alagoas  acho uma das mais belas de Elomar 

Das Alagoas vem o batuque de Palmares, tronco raiz da insubordinação negra e esse é  um capítulo muito grande pra fazer aqui. O Aboio e a Cantoria de Repente, assim como o  Coco de Embolada, também. Sabido que vem de lá  a literatura universal de Graciliano  de Vidas Secas   São Bernardo. 

A  cultura alagoana chegou até mim através dos imigrantes que vieram pra região trabalhar nas monoculturas do algodão nos anos 30/40 do século passado; depois vieram o feijão, a mamona e o sisal. Muitos acabaram ficando  por aqui e a proximidade do Rio São Francisco  tornava não tão longe esse o intercâmbio.  Atraves desse povo nas visitas, conversas, convivência muito aprendi sobre lá.

Tanto ainda teria pra dizer o quanto me influenciou as coisas da terra alagoana 

https://youtu.be/jBgT4_qQMog?si=rFH5T8hJg2hCMf3q


A LITERATURA ME FEZ ESCREVEDOR

     O  uso intenso da capacidade de enxergar que tive ao longo de longos  45 anos de leitura interpretativa me remeteram ao uso do auxílio luxuoso de óculos; diei uns 6 anos pra me resignar ao fato e já tem 2 meses da adquerência do bólido ótico e ainda não acostumei.
   A leitura foi um dos grandes prazeres que desfrutei e na tentativa de acostumar-me com a careta nessa cara que já é feia, vou revisitar os livros mais impactantes que li nessa sofrida vida de leituras 
Vidas Secas, de Graciliano Ramos , abrirá a lista pelo impacto de ver no livro o que eu menino via na realidade  do meio pobre desse sertão do qual eu descendia e fazia parte. A escrita concisa, estilo árido e único de um homem mais que cético, um desacreditador, um incrédulo na bondade e  na fraternidade humana, ele previa que o  triunfo da usura e da avareza seria duradouro; não haveria amor. De lá até hoje o tempo mostra que havia razão pra angústia do escriba alagoano de Quebrângulo; aliás, Angústia é outra magistral obra dele assim como Insônia, São Bernardo, Memórias do Cárcere, Alexandre e Outros Heróis é o realismo fantástico do escritor; a parte lúdica assim como Terra dos Meninos Pelados fantástico conto surreal de quem domina a ciência da transmissão pela linguagem da imensidão imaginativa .
Pra mim, Graça tá entre os maiores da literatura universal .
Clara dos Anjos do outro monstro universal, Lima Barreto que tem obras da estatura de Recordações do Escrivão Isaías Caminha,  Triste Fim de Policarpo Quaresma; sua coleção de contos é insuperável, consciente da sua classe, da sua cor e do destino reservado à gente da sua cor, combateu com a escrita, corroendo-se no álcool, a morfina dos sonhadores do impossível e,  cientes disso, caminham corajosamente para o fim. Ele deixa esse recado através do consciente delírio final do poeta Leonardo Flores .
     0s Irmãos Karamazov de Dostoievsky e Guerra e Paz também é incrível, O Cortiço de Aluízio Azevedo, Terra e Paz de Tolstói, Germinal de Émile Zola, A Mãe de Gorki,  O Romance Histórico de Luckacs, Crônica de Uma Morte Anunciarada de Garcia Márquez, A Montanha é Muito Mais Que Uma Imensa Estepe Verde de Tómas Borges, 
Feliz Ano Velho de Marcelo Rubens Paiva, 10 Dias Que Abalaram o Mundo de John Reed, Enterrem Meu Coração na Curva De Um Rio  de Dan Brown...
Já dobrei a esquina da vida e sei que não revisitarei todos até porquê tem dezenas de outros que não li e... quem sabe?
Hamilton Britto

A PALAVRA É FERRAMENTA

Colega você não canta
A chula porque não tenta 
Não lhe custa nada
Cabeça desocupada 
Deus ou o Diabo  atenta
O sol não atenua 
Não tem sombra na rua
A temperatura esquenta 
O  vento faz a poeira 
Carregano a bagaceira 
Numa agonia lenta
Morre tudo que se  planta 
Colega você não canta
A chula porque não tenta

Colega você não canta
A chula porque não tenta
O verso paira no ar
Capta-se ao respirar 
Do luar se alimenta
Um quarto de cada fase 
Na métrica faz a base
A inspiração fomenta  
Sextilhas,  martelos, sonetos
A soma do quadrado dos catetos
A palavra é ferramenta 
Divulgada pela garganta  
Colega você não canta
A chula porque não tenta

CORAÇÃO INSANO (UM DISCO DE WALDICK SORIANO)

Um disco de Waldick Soriano 
Expõe meu peito à dor
Desilusão, desengano 
Sofro tal qual o  cantor 
Que  fala da flor. 
Ferido pelo espinho 
Perdido na estrada da vida
Não sabe  de volta o caminho
Desacertou na bebida 
Tristeza virou  alegria 
Sem  esquecer do dia
Voltou,   ela  partiu
A fenda no peito abriu
Sangra sem cicatrizar 
Quem já perdeu alguém 
Aprende que é  inútil chorar
Quando sabe que  não vem
Não adianta esperar 
Irreversível é  o dano
Nunca mais vai curar
Coração insano 
Agora não há mais plano 
Só resta o embriagar
Ligar a radiola e escutar
Um disco de Waldick Soriano 

DO CORDEL

Eu sou do cordel 
De déu em déu
Registro meu versejar 
A base do meu repente 
Qualquer glosa que eu tente
No meu coco de embolar 
Guarde eu na minha mente 
Dígite no celular 
Ou escreva no papel 
De déu em déu
Janela do horizonte 
Minha lavra bebe na Fonte 
Dos romances de cordel

Inda era um minino
Comprava na mão de Dollino 
Sobrenome Ferreira Aragão 
Poeta de convicção
Sábio da inspiração 
Rimas de caso pensado 
Sem medo de coroné 
Num plantou capim guiné
Pra boi abanar rabo
Intimidado não se calou
Foi à Brasília Dizer 
Na cara do ditador 
Seu cara de viado que viu cachimguelê

A VANGUARDA COMBATE A REAÇÃO

Adversidades
Vivo conectado 
Às últimas novidades
Coisas   do passado 
Requentadas na estufa do planeta
Do produto não sobrará  
Nem o  QR Code da etiqueta
É muito carbono no ar
A chapa ainda mais vai esquentar!
Muitos gases aquecem a atmosfera
Fermentam poluição 
O homem é a fera
O capitalismo a ferramenta 
Vamos ver até onde o planeta aguenta 
Tanta agressão 
Desde que um irmão escravizou outro irmão  
Evolução decadente 
Pautada na exploração 
Pela  posse do excedente 
Poder e glória 
Gerando impasses
Conflitos  da história 
Luta de classes
Vanguarda combate  a reação 
Revolução e contra-revolução 
Pião versus patrão 
Tomar o ferrão da mão 
De quem fustiga e ferra 
Conflito que nunca se encerra
De antemão 
Haverá  sempre guerra na terra

97 DISCOS LANÇADOS EM 1974

Relacionei 97 álbuns  lançados em 1974 que já escutei nessa orelhuda jornada de apreciador sonoro. O Blues, o jazz, a soul, a música latina ...