A LITERATURA ME FEZ ESCREVEDOR

     O  uso intenso da capacidade de enxergar que tive ao longo de longos  45 anos de leitura interpretativa me remeteram ao uso do auxílio luxuoso de óculos; diei uns 6 anos pra me resignar ao fato e já tem 2 meses da adquerência do bólido ótico e ainda não acostumei.
   A leitura foi um dos grandes prazeres que desfrutei e na tentativa de acostumar-me com a careta nessa cara que já é feia, vou revisitar os livros mais impactantes que li nessa sofrida vida de leituras 
Vidas Secas, de Graciliano Ramos , abrirá a lista pelo impacto de ver no livro o que eu menino via na realidade  do meio pobre desse sertão do qual eu descendia e fazia parte. A escrita concisa, estilo árido e único de um homem mais que cético, um desacreditador, um incrédulo na bondade e  na fraternidade humana, ele previa que o  triunfo da usura e da avareza seria duradouro; não haveria amor. De lá até hoje o tempo mostra que havia razão pra angústia do escriba alagoano de Quebrângulo; aliás, Angústia é outra magistral obra dele assim como Insônia, São Bernardo, Memórias do Cárcere, Alexandre e Outros Heróis é o realismo fantástico do escritor; a parte lúdica assim como Terra dos Meninos Pelados fantástico conto surreal de quem domina a ciência da transmissão pela linguagem da imensidão imaginativa .
Pra mim, Graça tá entre os maiores da literatura universal .
Clara dos Anjos do outro monstro universal, Lima Barreto que tem obras da estatura de Recordações do Escrivão Isaías Caminha,  Triste Fim de Policarpo Quaresma; sua coleção de contos é insuperável, consciente da sua classe, da sua cor e do destino reservado à gente da sua cor, combateu com a escrita, corroendo-se no álcool, a morfina dos sonhadores do impossível e,  cientes disso, caminham corajosamente para o fim. Ele deixa esse recado através do consciente delírio final do poeta Leonardo Flores .
     0s Irmãos Karamazov de Dostoievsky e Guerra e Paz também é incrível, O Cortiço de Aluízio Azevedo, Terra e Paz de Tolstói, Germinal de Émile Zola, A Mãe de Gorki,  O Romance Histórico de Luckacs, Crônica de Uma Morte Anunciarada de Garcia Márquez, A Montanha é Muito Mais Que Uma Imensa Estepe Verde de Tómas Borges, 
Feliz Ano Velho de Marcelo Rubens Paiva, 10 Dias Que Abalaram o Mundo de John Reed, Enterrem Meu Coração na Curva De Um Rio  de Dan Brown...
Já dobrei a esquina da vida e sei que não revisitarei todos até porquê tem dezenas de outros que não li e... quem sabe?
Hamilton Britto

A PALAVRA É FERRAMENTA

Colega você não canta
A chula porque não tenta 
Não lhe custa nada
Cabeça desocupada 
Deus ou o Diabo  atenta
O sol não atenua 
Não tem sombra na rua
A temperatura esquenta 
O  vento faz a poeira 
Carregano a bagaceira 
Numa agonia lenta
Morre tudo que se  planta 
Colega você não canta
A chula porque não tenta

Colega você não canta
A chula porque não tenta
O verso paira no ar
Capta-se ao respirar 
Do luar se alimenta
Um quarto de cada fase 
Na métrica faz a base
A inspiração fomenta  
Sextilhas,  martelos, sonetos
A soma do quadrado dos catetos
A palavra é ferramenta 
Divulgada pela garganta  
Colega você não canta
A chula porque não tenta

CORAÇÃO INSANO (UM DISCO DE WALDICK SORIANO)

Um disco de Waldick Soriano 
Expõe meu peito à dor
Desilusão, desengano 
Sofro tal qual o  cantor 
Que  fala da flor. 
Ferido pelo espinho 
Perdido na estrada da vida
Não sabe  de volta o caminho
Desacertou na bebida 
Tristeza virou  alegria 
Sem  esquecer do dia
Voltou,   ela  partiu
A fenda no peito abriu
Sangra sem cicatrizar 
Quem já perdeu alguém 
Aprende que é  inútil chorar
Quando sabe que  não vem
Não adianta esperar 
Irreversível é  o dano
Nunca mais vai curar
Coração insano 
Agora não há mais plano 
Só resta o embriagar
Ligar a radiola e escutar
Um disco de Waldick Soriano 

DO CORDEL

Eu sou do cordel 
De déu em déu
Registro meu versejar 
A base do meu repente 
Qualquer glosa que eu tente
No meu coco de embolar 
Guarde eu na minha mente 
Dígite no celular 
Ou escreva no papel 
De déu em déu
Janela do horizonte 
Minha lavra bebe na Fonte 
Dos romances de cordel

Inda era um minino
Comprava na mão de Dollino 
Sobrenome Ferreira Aragão 
Poeta de convicção
Sábio da inspiração 
Rimas de caso pensado 
Sem medo de coroné 
Num plantou capim guiné
Pra boi abanar rabo
Intimidado não se calou
Foi à Brasília Dizer 
Na cara do ditador 
Seu cara de viado que viu cachimguelê

A VANGUARDA COMBATE A REAÇÃO

Adversidades
Vivo conectado 
Às últimas novidades
Coisas   do passado 
Requentadas na estufa do planeta
Do produto não sobrará  
Nem o  QR Code da etiqueta
É muito carbono no ar
A chapa ainda mais vai esquentar!
Muitos gases aquecem a atmosfera
Fermentam poluição 
O homem é a fera
O capitalismo a ferramenta 
Vamos ver até onde o planeta aguenta 
Tanta agressão 
Desde que um irmão escravizou outro irmão  
Evolução decadente 
Pautada na exploração 
Pela  posse do excedente 
Poder e glória 
Gerando impasses
Conflitos  da história 
Luta de classes
Vanguarda combate  a reação 
Revolução e contra-revolução 
Pião versus patrão 
Tomar o ferrão da mão 
De quem fustiga e ferra 
Conflito que nunca se encerra
De antemão 
Haverá  sempre guerra na terra

LEVADA PRA LIA

Faz isso comigo não
Lia 
não maltrata o meu coração 
sem você, sem alegria 
só tristeza e  solidão 

Desde o primeiro dia
que ti vi no meu sertão 
o olhar que me  atraía 
despertou  uma paixão 
diga que me quer de novo Fia
que te faço uma canção 

Faz isso comigo não
Lia 
não maltrata o meu coração 
sem você, sem alegria 
só tristeza e  solidão 

Desde o primeiro dia
que ti vi no meu sertão 
o olhar que me  atraía 
despertou  uma paixão 
diga que me quer de novo Fia
que te faço uma canção

A PETIÇÃO DE GAPON

Um abaixo-assinado digital 
Pra gente deixar de ser escravo
Piedade  Ó patrões 
Pedimos em dedagravo
Nos libertem desses grilhões 
Renuncien à tirania
Do luxo das suas mansões 
Deixen de ser burguesia 
Retirem as algemas das nossas mãos 
Do pescoço tirem o laço 
Já que somos irmãos 
Vamos nos dar um abraço 
De tudo faremos pelo perdão 
Alimentarmos a sua riqueza
Zero de sublevação 
Viveremos a beleza da pobreza 
Acreditamos na sua piedade 
E na benevolência dos seus
Necessitamos dessa caridade 
Pois somos todos filhos de Deus
Nas suas mãos o nosso bem
Amém 

ABC SULETRADO

Fê, guê,  lê, mê, nê, rê, si......

Oh! faltou o ji

Depois do guê

Antes do lê


            A,  bê, cê, dê, é, fê,  

Guê, agá, i, ji, lê, mê, 

Nê, ó, pê, quê, rê, si, 

Tê, u(vis), vê, xís, zê

Dáblio,  cá e psilone


Fê, guê, ji, lê, mê, nê, rê, si

Meu alfabeto eu canto assim

Sotaque gravado em mim

Insansin, issassim, isso assim 

Ansim, insansin, ansim


Pê rê ó, pró;  fê é  si, fés; si ó sô, rê a rá

Professora 

É  lê é,  lé;  fê a nê;  fan,  tê e,  té

Elefante 

A, rê a, ra, rê a, rá

Arara 

Cê agá o,  chó; cê o có, lê e, jé  tê e i,  tei; rê a, rá

Chocolateira

Chaco-chaco, laco-laco, teé-tei, rê-ará

Rê e, ré; pê e nê, pen; tê i si, tis; tê a, ta


Repentista  alfabetizado 

Gosta de soletrar  Quadrão 

Lá no meu sertão 

Tinha que aprender 

O caboco só lia 

Quando  sabia

Ôto ABC

DERRADEIRO ATO, DERRADEIRA HORA

Não precisa fugir de mim
Estou caindo fora 
A tristeza  que sinto 
Toda vez que me ignora 
Percebo que procuras 
Jeito que eu vá embora
Existem outros lugares 
Longe de onde você mora
Morreu parte de mim
Aquela que te adora
Derradeiro ato
Derradeira hora
Esta é a última vez 
Que que meu coração chora

ADEUS JACOBINA

O Vei Jacobina, pseudônimo de Valdemar Ramos Oliveira que faleceu essa semana no sertão da Bahia dend'os 93 anos que ia interar em julho...