DANÇANDO DEBOCHE E TAMBÉM TI-TI-TI

Não posso ter o orgulho de dizer que não fui envolvido pelo axé; axé, não, no início, era deboche e, eu acompanhei o primeiro show dos primórdios do axé foi com Chiclete com Banana e a Banda Salamandra na micareta de jacobina, isso eu tinha 12 anos, em 1983.
Então eu, (inocente garotinho) fui a shows, pulei muro de clubes e casas de show, fui para a rua, balancei atrás do trio na pipoca, dancei deboche (e também tititi, como Luiz Caldas e Paulinho Camaféu primeiramente batizaram. Até os 16 anos, já em Itaberaba, uma cidade mais influenciada pelo que acontecia em Salvador e essa onda era mais forte, mesmo já escutando Cantoria, Raul, A MPB meu pai sempre teve em casa, brega sacava também, e já estava ouvindo rock, com preferência pelas bandas de Metal, Zeppellin, Floyd e, de nacional Legião (1ª disco) e Camisa de Vênus era fã. Mas o som que era forte mesmo, era o deboche, deboche (a maluquete tá querendo),
Os discos de estreias de Luiz Caldas, Sarajane (que veio com 2 reggaes de Edson Gomes que era, então, desconhecido) e Chiclete com Banana agradaram os meus ouvidos, isso em 85. Em 86, Missinho já apareceu em carreira solo e fora do Chiclete e, para mim foi o ápice daquele movimento e, também, a sua morte.
As propostas sonoras apresentadas por Missinho, que começou tocando rock, nesse disco, não vingaram no axé que viria com a supremacia da indústria que foi formada em torno dele. Além daquela mistura que já se praticava no carnaval da Bahia, do forró e do xote, ritmos caribenhos como lambada, merengue, salsa e reggae, não tinha como não gostar e até hoje é o único disco daquela época que toca no meu streaming.
Em 86, estava concluindo o Fundamental no Colégio Estadual, no noturno, já tinha a fama de mau conduta e as famílias de respeito aconselhavam os filhos a não andarem comigo. Também era “liderança estudantil” e tinha uma parceira, colega de sala, inseparável nos rolês pela cidade, Cleide, uma gata, ex miss do carnaval 85, então
 “ Gata como é bom te ver, 
De novo na Bahia, 
Nesse reggae night quero ver você, 
Com toda essa alegria, 
Eu vou te levar no embalo Zulu
Reggae lá do Curuzú
Eu vou te levar para o batuque Ijexá;
Do alto do Gantois”  
Melô do Reggae Night, era nossa música e isto era lindo, ela mais linda ainda, como esquecer? Nem quero! Cantávamos o disco todo, acho que esse som nos uniam de forma que, éramos um grude só. Ela era “chocantemente demais”, Felinaaaaaa. E tinha Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua. O disco foi o maior sucesso do ano na Bahia, em vendas e em execução, teve uns 6, 7 hits. Mas Missinho não “vingou” no mercado depois desse disco, e, enquanto o Chiclete com Banana galgava sucesso, fama e dinheiro ele continuou a carreira no circuito do forró pelo interior que é muito forte na Bahia e, nem sempre consegue colocar um Trio para tocar no Carnaval de Salvador.
No ano seguinte eu já não curtia esse tipo de música,  eu frequentei o Curuzu, a Casa Branca no Gantois e fiz questão de ir na Relojoaria Alfa-Ômega para conhecer um conterrâneo, o radialista e cantor Elias Alves que por muitos anos comandou um programa de 4 às 6 da manhã na Rádio Sociedade chamado Vamos Acordar Com A Sanfona E A Viola (O Verdadeiro Forró Sertanejo é Aqui!) Que vinha a ser o pai de Missinho.Na verdade, ele me disse, Elias havia nascido no distrito  do Serrote, hojea cidade de  Serrolândia.
 No ano seguinte fui assistir um ato do Movimento Negro e está lá Missinho cantando 
´Viva o negão, apartheid não, 
100 anos sem abolição”. 
Entendi porque não houve espaço para ele naquela nascente indústria do axé, ele estava cantando o que não agradava, nem os caras queriam vender. Mas ficou uma admiração pelo seu trabalho, por ele e saudades do seu pai, afinal cresci ouvindo-os.

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