Projetado como capítulo inicial de um romance com 4 capítulos que Graciliano Ramos tencionava publicar no final da década de 30, “A Prisão de J. Carmo Gomes” relata a instabilidade emocional de D. Aurora, uma integralista que não se conformava com o fato do seu mano J. Carmo Gomes ser um comunista.
Num realismo longe de ser espontâneo ou, até, orgânico, mas, antes de
tudo, crítico e na sua habitual ironia mordaz, Mestre Graça desnuda as nuances
do discurso integralista em sua caracterização do que seriam “comunistas”,
gente disfarçada dentro da sociedade, agentes pagos por Moscou para prejudicar
o país, a família, a sociedade, a propriedade e a moral cristã. Não bastasse,
estariam dentro do próprio partido pagos para criar distenção interna inimigos
dentro do próprio partido que pregavam o diálogo.
A ideologia racial fascistas foi incorporada pelo integralismo, o
comunista era associado ao indígena: estampas horrorizavam imagens de índios
pelados, com orifícios nos lábios, roubavam. Pilhavam, destruíam os valores da
civilização cristã, ordeira e pacífica de um Brasil verde, da cor da esperança,
como nossas florestas
O conto desenvolve a melancolia de D. Aurora, sua frustração em não ver
o comunismo extirpado de uma vez por todas pela raiz e sua tristeza é
potencializada pela constatação da contaminação dentro da sua própria casa, na
pessoa do seu irmão J. Carmo que fora “corrompido” e militava na divulgação do
vermelhismo. Decidida a não ser acusada de esconder o inimigo dividindo o teto
com ele, ela entrega o irmão à polícia.
Nesse curto texto, Graciliano discute agitação política e suas tensões
no Brasil dos anos 30 que ilustrariam muito bem a “família” brasileira hoje em
dia
*"A
prisão de J. Carmo Gomes", apareceu como conto, numa tradução para o espanhol
em La nación, de Buenos Aires, em janeiro de 1940, e em português na revista do
brasil, ano III, n.24, do Rio de Janeiro, em junho de 1940, em 1947 foi
adicionado a Insônia como Primeiro Capítulo
*“A Prisão de
J. Carmo Gomes” foi adaptado para o cinema em 1980 por, Luiz Paulino dos Santos
como segmento ao filme homônimo ao livro, Insônia. Emmanuel Cavalcanti
(segmento “Dois Dedos“) e Nelson Pereira dos Santos (segmento “Um
Ladrão”) completam a película.
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