Mil vezes tivéssemos permanecido
selvagens. Parafraseando: não sou homem,
bicho é o que sou!
A epígrafe foi escrita por um
desempregado que sente a miséria rondando,
trazendo consigo a ameaça de torná-lo, como milhares, mais um bicho selvagem; que
nem aquele à suas retinas.
- Avenida Faria Lima, endereço
nobre da capital paulista: Um cara tinha um saco de lixo na mão e comia restos
de comida que, na noite anterior foram jogados no lixo de um restaurante
luxuoso e estavam dentro daquele saco
que ele sacou da lixeira; eram sobras de
um banquete burguês qualquer. Alguém, comovido, compra um sanduíche e lhe
entrega; aquele homem emite alguns sons guturais, olha rapidamente para a mão
estendida com o lanche e, com um olhar
furioso e num movimento rápido pega o sanduíche e coloca no saco de lixo à sua
mão junto aos outros detritos alimentares e continua a sua refeição sem se
importar com a civilização que o rodeia .
Esses "selvagens" não
(ainda não) são a barbárie; eis que senão subprodutos da civilização e do
desenvolvimento capitalista, chagas que perpassam conjunturas e períodos
históricos. Humanos que são e, enquanto grupo social, quais seriam as suas aspirações políticas e
de organização? O estado de semi selvageria não os deixa alternativa,
aprofundar esse modo de vida torna-se o curso natural dessa correnteza ; não
existem sonhos nem perspectivas de “civilizar-se”, o porvir não existe; Mais próximos
da selvageria do que da “civilidade”.
A impotência me envergonhou neste momento como nunca antes e, embora não
esteja disposto a fundar ou aderir a nenhuma organização de bichos selvagens,
literariamente, essa, epígrafe, foi a máxima coisa que minha ineficácia conjuntural revolucionária (espero
que temporária) pode produzir. E naquele homem vi um irmão de classe, um
trabalhador, como tantos outros que, perdendo a serventia como produtor de
mais-valia, foi descartando pelo
sistema, rebaixado à condição de
sub humano, pré selvagem.
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