EU SOU DO COBÉ

Você né Silvano
Nem Zé Burquia que dirá Zé Beté
Por mais que faça seu plano
De Brequedeque num chega nos pé
Até que sabe tirar uma chula
Mais tome cuidado, não bula
Esse batuque só tem no Cobé
Sou neto de seu Hermínio
Valente cabra-da-peste
Se acabou na Leste
Me deixou o designio
De levar o samba adiante
Se quiser colher, primeiro que plante
Assunte com muita atenção
Toda certeza no que vai dizer
O verso revela sua intenção
Uma vez feito num vai desfazer
Oi foi lá, oi foi lá
Na vez derradeira, lembrei da primeira
Pra torar essa choradeira
Lajedão da Palmeira
Um dia pretendo voltar.
Pois, foi lá, pois foi lá
Que ficou quem era eu
Um minino que se perdeu
Hoje vivo a procurar
Esperança inda num faleceu
Espero d'agora indiante um dia encontrar .
Diola, diola, diola, diolá
Da terra de onde vim
O corpo já nasce bamba
E tem um ditado que fala insansim:
A criança primeiro samba
Pra só depois caminhar
Oi diola, diola, diola, diolá
Aprendeno uma vez
Posso garantir a vocês
Não vão esquecer como é
A chula corre na veia
O corpo bambeia
Eu sou do Cobé

ZABÉ CEGA E O MENINO SE FOSSE GUIA DE CEGO

 

Zabé foi uma cega pedinte de profissão, pois outra opção na vida nunca lhe apareceu e no sertão daquele tempo, que nem hoje, viver é, antes de tudo, não morrer de fome. Quando minha mãe Isabel era criança, Zabé já tava na lida era do tempo da minha vó solteira. Eu não lembro do trem porque o Ramal da Grota (Sr do Bomfim- Iaçuvis) foi desativado em 76 quando a queda do vão do meio do pontilhão do Paraguaçu na boca dofinal de linha do ramal despencou pra dentro do rio. Eu vi uns 2, 3 trens passando oir esses trilhos mas eram da manutenção da Leste.
Sim, Zabé fazia o percurso da linha do trem, ficava reversão as feiras do trecho e fazendo ponto no comércio e pedia nos corredores do trem e mesmo depois de desativada a linha ela continuou no roteiro pois já fazia a combinação do seu deslocamento com o transporte rodoviário que ampliava sei raio de ação e ela chegava a lugares onde o trem não passava.

Acabou o trem, tinha o ôndibus lembro dela pela última vez por volta de 1984, Jacobina era a principal praça do seu labor, então cresci a vendo pela cidade e pela região. Lembro de já tê-la visto em Itaberaba, Migué Camon (morei nas 2), Caén, Capim Grosso, Várzea Nova, Junco, França, Ruy Barbosa..;1989 quando por um tempo voltei a morar na cidade não mais a vi, me nuticiaro que havia falecido.
Zabé era uma cega criada na brutalidade da aridez sertaneja, no carrancismo do lajedo, seco, teve que se virar sozinha quase sempre viajava sozinha, poucas vezes a vi com guia.
Eu sempre ficava imaginando o que uma pessoa que se deslocava constantemente pelo mundo já tinha passado sem ter visto; nunca soube aonde era a sua casa, nem da sua parentagem, ela morava embaixo de um capacete de alumínio que sempre estava usando.
Se fosse pra ter sido guia de cego, queria que tivesse sido dela.
O outro cego que tive mais proximidade foi seu Nelson, um negro alto que tinha uma padaria e ele mesmo despachada e passava o troco; contava os pães, pegava o pacote de bolacha, tateava as notas e as moedas e passava o troco; era dono da casa que morava e da padaria, tinha 2 filhas que enxergavam, 1 que não lembrei o nome jogava futebol com as meninas no colégio e sempre me chamava pra pegar no gol. Com seu Nelson, com certeza não teria emprego de guia, só pra entregar pão.

QUERO ATÉ ESQUECER QUE VOCÊ EXISTE

A certeza que jamais tive
Que se deixar de te amar
Meu coração, coitado, ele sobrevive
Uma grande ilusão 
De todas, a maior que tive
E este é o instante, o momento de acabar
Nada mais vai restar
Mesmo que agora deixe-me triste
Quero até esquecer que você existe
Pra não ter que lembrar
Pensar não ser permitido
Nada vai significar
Esse tempo que foi perdido
Idealizado uma paixão 
Ter sonhado iludido
Coisas da imaginação 





PINGADEIRA


Com muita ternura eu venho te informar 
Que você é muito importante 
Nessa vidinha tão desimportante
Que a gente vive por aqui
Esqueço de tudo
Menos de ti
Que em mim estás
A todo instante
As lágrimas que choras
Sofro por cada uma, por horas
Até que cesse a derradeira 
Os meus olhos se transformam em pingadeira
É só água que desce
Mundo vai desabar
Não tem jeito que cesse
Enquanto você não parar (de chorar)
Nossos abraços 
Te tenho entre meus braços
Sempre prontos a lhe receber
O aperto é o conforto 
Que esse seu poeta torto
Tem pra te acolher
Se fica no seu coração o lugar aonde moro
Toda vez que ficar triste 
Se você chorar eu choro
Não espero pra depois
Sou a outra parte triste que existe
Pois quando sofres, sofremos os dois
[

NO TEMPO DO BISCÓ

Subia pelos ares

Fedia na cidade Baixa, Largo dos Mares

Barraco na beira do rio

Curtino fastio

Segurei as pontas

Morei ás margens

Beira do Rio das Contas

Tenho aquelas imagens

Na lavoura cacaueira

Sustentou uma oligarquia inteira

Regando uma flor murcha

Parasita brasileira

Veio a vassoura-de-bruxa

A conta chegou

Galinha dos ovos secou

O sonho dourado daquela burguesia

Que vivia que nem lesma

Mudou da noite pro dia

A coisa ficou séria

trabalhador ficou na mesma

Já vivia na miséria.


Eu já lavrei cacau

Mas me dei mal

Plantação do coronel

Mel com gosto de fel

Tinha que catar cajá

Gomo de Jaca pra chupar

O povo que empunha o biscó

Sempre levou a pior


A AMIGA DELA

Não tens dimensão
Do estrago que causaste
Em meu pobre coração
Quando vais numa viagem
Fica sem mandar mensagem
De mim não queres saber mais não
Porque cê foi embora?
Te perdi na multidão
Volta, venha logo sem demora
Fosse eu vinha agora
Quero tanto  botar pra fora
Essa cruel solidão

E, findando, tenho algo a dizer
Quero que fique sabeno
Tem um coração sofreno
Com saudades de você


Inda ontem tava nois aqui de boa
Apareceu outra pessoa
começaste a flertar
Então eu fiquei a toa
Foram as 2 passear
Sabe lá que fizeram além do passeio
Eu levei foi um vareio
Com certeza estavam a namorar
Dizes que é só uma amiga
Não quero fazer intriga
Mas me custa acreditar

E, findano, tenho algo a  dizer

Quero que fique sabeno

Aqui tem um coração sofreno

Com saudades de você





VALTER VELHO DE GUERRA

Esculpiu sua arte nas sobras da caatinga destruída
fez chinelo pra garantir sua comida
Um artesão de arte, de trabalho
de produção
ganhador do pão
artista pião.
Um homem brabo
Sem conchavo
Um nativo Operário
Fazedor de percata
Rebeldia nata 
Daqueles amigos que não mais se acha
Pensava fora da caixa
o mundo lhe pertubava
Ele se revoltava
Na justa rebeldia
Vida livre
O rebelde queria
sonhou um outro mundo
Viveu o desgosto profundo
Dos inquietos
Era do couro, da madeira
do chá e da bebedeira
O mais talentoso artesão
dos que sonharam na minha geração
Disposição pra labuta
Sem medo de topar a luta
Hoje embaixo da terra
Saudades para sempre
Valter Velho de guerra 
Um  artista  
que não abaixou a crista

BAGANA (Terça-feira no Parque Santo Antônio)

Vários dias que não comia
Vivia do wi-fi emprestado  pela vizinha 
Que chamava de tia
E há dias  não via 
Será que também padece? 
(Taí alguém que não merece)
Na net a gente  esquece
Espairece o sofrimento 
Virtualmente  as coisas são boas
Se ao menos o INSS desse Deferimento
Ao seu pedido de LOAS
Vendia o ferro de passar roupa, o dvd 
Prancheta, escova de fazer o black 
(Já dava pra comprar um back)
Vendia o som 3 em 1
(disco nenhum)
Tinha outro celular na fita, tela trincada
As cartelas de remédios acabando
Os cara da biqueira avisando
Tá foda Djhow
A fatura chegou
O futuro acabou
No desespero
Apontando a marmita fria de comida sem tempero
Ofereceu, meu, o violão 
Já não bastava não ter o que comer 
Ter fogão 
E não poder acender
Depois que acaba o gás 
Do botijão
O isqueiro tá só a pedra,  também dem gás
Nem uma bagana perdida pelo chão 
Caso ache (de praxe) não vai poder acender maisss


ESTRADA DO DESAGUAR

Seguino a estrada do desaguar
Não adiantam mais as semanas
Se quem já não mais vai chegar
Deixou seus passos na areia da  água 
Represada de tanta mágoa
Carrancismo por pirraça
O que não foi forjado na raça
Se evaporou, virou fumaça
A bordo de um comboio de cometas
Combo que  explode pedras
Com a força de 77 mil marretas
Estridentes que nem as trombetas
da Serra do Tombador
Vento assovia na ribanceira
Zanza na Macaqueira
E o som da carranca na raiz do maracujá
Enramado na sombra do Jatobá
Casca na cana caiana
Colher-de-pau, pilão de umburana
Mandacarú de facho
Cascável de rodilha na toiceira
Desceno rio abaixo
Na curva do Roncador
Lajedão do Riacho
Fazeno currião  e percata
Curtino o couro cru da vida ingrata
Chinelo de dedo
Pisa o espinho da  caatinga
carregano garotos sem medo 
Meu amigo, nunca mais
O mundo lhe foi pesado
A vida não lhe trouxe paz
8, 9 amigos te choram
E ninguém mais

PESCARIA CÓSMICA

 

Quando saio pra pescar
nuca esqueço os anzóis
passei pelo Maciel
eu fiz um corre pra nóis
se fizer frio de noite
abrigo embaixo dos lençóis
outro tipo de devoção
nem santos, tampouco heróis
a mais bonita das flores
num campo de girassóis
por ti viro uma fera
Ghengis, rei dos Mongóis
seus olhos queimam no escuro
são dois potentes faróis
que brilham no universo
o mais potente dos sóis
acendem pela galáxia
explodindo paióis

Una Payada

É oral e espontânea
Essa cantoria sucedânea
De quem, de certo, não morreu
Improvisada a palavra
Imprime a marca de  quem a  lavra
Que, neste caso, por acaso, sou eu
No traço da lida do dia-dia
Frases conduzem  a melodia
O que algum dia, foi dia de glória
Hoje, na parte ocultada da nossa  história
Esconde a  dor da  melancolia
Devastações   viram pastagens
Animais ruminando dores
Seus donos, quantificam valores
Atores recriam imagens
Cenas de ódio pra morrer de amores
Cessam mensagens
Estão mortas as flores!
Recicladas.  são  placas na estrada
Exibem a logo dos patrocinadores
Passo com a seta mirada
Evito os locais indicados
Sigo  porque tenho asas longas
Fui criado sem muitos cuidados
Sem muitas delongas
Sendo mais um da estirpe dos Bardos
Na payada faço  minhas milongas

BIITA

BIITA
Morasse tu nessa poesia
Apaixonado a despertaria
Num amor maior que o dia
Antes dele ter começado 
Numa cama amarrado 
Em você eu ficaria
De teu corpo me alimentaria
Comendo o que de ti me fosse dado
De sopinha, de colher 
Minha dose de mulher
Tanta teia pra destecer
Muito sexo por fazer
Feliz só é quem acredita
A verdade seja dita
Eis que ouso  dizer
És a coisa mais biita 
Que me poderia acontecer

MUITO-MUITO

Uma declaração de amor 
Explícita 
Com uma proposta de cumplicidade 
Implícita 
Muita vontade de ser o seu amor, o seu safado, o seu nego
Habitar seus sonhos, sonhar carinho, colo e chamego
Tudo do bom e do melhor, sossego
Se antes não consegui dizer
Agora dou ciência e conhecer
É como imã esse apego
Estar junto de ti é um prazer
Quero o repouso do teu aconchego 
Tenho muito-muito amor a oferecer
Tive bem perto, nas fiquei paralisado
Não dominei meu querer
Mais dia, menos dia era certo que terias que saber
E me doía o que queria ocultado
Seja lá o que possa acontecer
Confirmo agora que estou apaixonado
E me interesso muito-muito por você.



PERFORMÁTICA

Seu louco requebrado 

Tem a ginga que é só tua

Esse corpo que adoro

Que à libido insinua 

Vou sair de onde moro

E mudar pra sua rua

Nas 4 estações do ano

Nas 4 fases da lua

Todo sonho que tô sonhando 

Sempre com presença sua

Segues  me negando 

Mas o sonho continua

Agressiva e formosa

Por entre o fogo flutua 

De roupa já tá gostosa 

Quem me dera quando nua


EU SOU DO COBÉ

Você né Silvano Nem Zé Burquia que dirá Zé Beté Por mais que faça seu plano De Brequedeque num chega nos pé Até que sabe tirar uma chula Mai...