PALHA DE MILHO
O GENRO SEM SORTE
GLOSA LIGEIRA
Parede-meia pa vó
Da Véia num teve dó
Também num considerou
Parede-meia pa vó
Padim Ozébio negou
Sangue correno na veia
Aranha que tece a teia
Bola de gude ou de meia
Quem puxa carro é a pareia
Tano com fome traz ceia
Se tocar fogo incendeia
A chama acende clareia
Pras bandas do Paraná
Deixou no norte o sentido
Sentindo-se meio perdido
Arresolveste voltar
Se num tivesse ido
Sabia nada de lá
Descamba da ribanceira
No precipício, à beira
Essa é a glosa ligeira
Atenta sem dar bobeira
Assenta na dianteira
Palavra dita certeira
A MORADA DE UM ZÉ NINGUÉM (Ao cronista dos infortúnios Lucas Evangelista)
O reboco ruiu
A furquilha lascada
Parede trincada
O alpendre caiu
A mesa virada
Dispensa escorada
O espelho sumiu
Imagem apagada
A palavra calada
Como que nunca existiu
Já é madrugada, não tem alvorada
Felicidade partiu
Quem ficou que fique sem
Triste do dia que houve alguém
Tudo destruído, nada mais além
Onde não há porque não tem
Nesse fracasso procura por quem
Perdido até o horário do trem
Atordoado também
Não cabe mas, nem porém
Dentro do peito nada contém
O que sobra não convém
Nem pra si nem pra outrem
O que tinha não se tem
Já não há quem lhe queira bem
A casa é morada de um Zé Ninguém
SURREAL SOLITÁRIO
Um casebre no meio do que um dia já foi estrada
Hoje já não é mais nada
O mato virou mata
O velho cemitério ruiu
A tranca do portão sucumbiu
Não há horário nem data
O calendário sumiu
Não há ninguém, não há informações
Nem primeira, nem segundas intenções
O barulho do vento sob os paredões
Rochosas formações
Mas gente, gente mesmo?
Não há
Pouco importa que houve
Ou se haverá
Estrada ou itinerário
Real ou imaginário
Só um surreal diálogo solitário
De mim pra mim
Não digo sim
Não tenho certeza
Um chute na mesa
Estou de bobeira
Cansei da cadeira
Vou sair por aí
Essa ânsia precisa explodir
Preciso dizer, preciso dizer
Preciso você
Cadê, cadê, cadê … você
Tá no pé da garganta, tá pra explodir
Será que alguém vai ouvir.
Me diz, me conta, qual é….?
Saiba que estou aqui
Pode contar comigo
Pra briga pro samba, pro trampo
Que seja tranquilo, que tenha perigo
Que tire o sono, que perturbe a paz
Meu samba termina aqui
Desculpa a todos se falei de mais
PESCA DE FACHO
Taba, taba, taba Tabaroa
Hoje eu vou pescar e já ouvi falar
Que no Liberato tem uma lagoa
Que pra pesca é boa
Massa, massa, massa, Massambão
Taba, taba, taba Tabaroa
De dia pescar piaba
Dá de noite e a pescaria não acaba
Cende a paia faz a pira
Piaba vira isca pra traíra
Hoje eu vou pescar e já ouvi falar
Que no Liberato tem uma lagoa
Que pra pescar é boa
Massa, massa, massa, Massambão
Taba, taba, taba Tabaroa
A ponte de pau é pra atravessar o rio
Vamo pescar de facho
Pra poder fazer clarão
Palha seca acender vira é pavio
A traíra vem na panada do facão
Saracura canta, bate asa mergulhão
Juruti avoa
Massa, massa, massa, Massambão
A CABOCLA DAS ÁGUAS
Foi a Cabocla das Águas que vive em Mariquinha
Que Mariquinha não vê
O recado vai para ela mas serve para você
Tanto faz se acredita, duvida ô num crê
Esteje caducano, pessoa feita ou erê
3 dias sem beber água, 3 dias sem dicumê
Tudo tem um motivo, sempre há o porquê
O recado vai para ela mas serve para você
Foi a Cabocla das Águas que vive em Mariquinha
Que Mariquinha não vê
Cabocla das Águas falou:
Traz alfazema!
Traz alfazema!
Pra te livrar de problema
Tirar dos espinhos
Perfumar o poema
Abrir os caminhos
Traz alfazema!
Traz alfazema!
Isso é catimbó, é catimbó
Batuque antigo, quilombola
No Terreiro de vovó.
Bate o Curimbá, bate o Curimbá
È jongo, é jongo, é jongo!
Moçambique, Angola e Congo
É pra Batucar
TUDO TÃO
Sangrando pelo caminho
Promessas de amores falsos
Cravejaram seus espinhos
A carne quer carinhos
Chega de selvageria
Coração tá machucado
Essa pele áspera já foi macia
Uma flecha atravessada
De veneno preparada
Acertou o alvo errado
Tudo, sempre, sempre tão, tão complicado entender
Que fazer? Que fazer?
O que sobrou dos estilhaços
Esbagaçados, quase que perto do fim
O que restou de mim
Solicita teus abraços
Pra no teu colo deitar
E te fazer cafuné
Na cama levar-te café
Antes de virares comida
Eis que és tu, minha vida
Vou dizer no seu ouvido
Já não estou mais dividido
Tudo que quero é você
Tudo, sempre, sempre tão, tão complicado entender
BATUQUE DO COBÉ
ZABÉ CEGA E O MENINO SE FOSSE GUIA DE CEGO
Zabé foi uma cega pedinte de profissão, pois outra
opção na vida nunca lhe apareceu e no sertão daquele tempo, que
nem hoje, viver é, antes de tudo, não morrer de fome. Quando minha
mãe Isabel era criança, Zabé já tava na lida era do tempo da
minha vó solteira. Eu não lembro do trem porque o Ramal da Grota
(Sr do Bomfim- Iaçuvis) foi desativado em 76 quando a queda do vão
do meio do pontilhão do Paraguaçu na boca dofinal de linha do ramal
despencou pra dentro do rio. Eu vi uns 2, 3 trens passando oir esses
trilhos mas eram da manutenção da Leste.
Sim, Zabé fazia o
percurso da linha do trem, ficava reversão as feiras do trecho e
fazendo ponto no comércio e pedia nos corredores do trem e mesmo
depois de desativada a linha ela continuou no roteiro pois já fazia
a combinação do seu deslocamento com o transporte rodoviário que
ampliava sei raio de ação e ela chegava a lugares onde o trem não
passava.
Acabou o trem, tinha o ôndibus lembro dela pela
última vez por volta de 1984, Jacobina era a principal praça do
seu labor, então cresci a vendo pela cidade e pela região. Lembro
de já tê-la visto em Itaberaba, Migué Camon (morei nas 2), Caén,
Capim Grosso, Várzea Nova, Junco, França, Ruy Barbosa..;1989 quando
por um tempo voltei a morar na cidade não mais a vi, me nuticiaro
que havia falecido.
Zabé era uma cega criada na brutalidade da
aridez sertaneja, no carrancismo do lajedo, seco, teve que se virar
sozinha quase sempre viajava sozinha, poucas vezes a vi com guia.
Eu
sempre ficava imaginando o que uma pessoa que se deslocava
constantemente pelo mundo já tinha passado sem ter visto; nunca
soube aonde era a sua casa, nem da sua parentagem, ela morava embaixo
de um capacete de alumínio que sempre estava usando.
Se fosse pra
ter sido guia de cego, queria que tivesse sido dela.
O outro cego
que tive mais proximidade foi seu Nelson, um negro alto que tinha uma
padaria e ele mesmo despachada e passava o troco; contava os pães,
pegava o pacote de bolacha, tateava as notas e as moedas e passava o
troco; era dono da casa que morava e da padaria, tinha 2 filhas que
enxergavam, 1 que não lembrei o nome jogava futebol com as meninas
no colégio e sempre me chamava pra pegar no gol. Com seu Nelson, com
certeza não teria emprego de guia, só pra entregar pão.
QUERO ATÉ ESQUECER QUE VOCÊ EXISTE
PINGADEIRA
Que você é muito
importante
Nessa vidinha tão
desimportante
Que a gente vive
por aqui
Esqueço de tudo
Menos de ti
Que em mim estás
A todo instante
As lágrimas que
choras
Sofro por cada uma,
por horas
Até que cesse a
derradeira
Os meus olhos se
transformam em pingadeira
É só água que desce
Mundo vai desabar
Não tem jeito que
cesse
Enquanto você não
parar (de chorar)
Nossos
abraços
Te tenho entre meus
braços
Sempre prontos a
lhe receber
O aperto é o
conforto
Que esse seu poeta
torto
Tem pra te acolher
Se fica no seu
coração o lugar aonde moro
Toda vez que ficar
triste
Se você chorar eu
choro
Não espero pra
depois
Sou a outra parte
triste que existe
Pois quando sofres,
sofremos os dois
NO TEMPO DO BISCÓ
Fedia na cidade Baixa, Largo dos Mares
Barraco na beira do rio
Curtino fastio
Segurei as pontas
Morei ás margens
Beira do Rio das Contas
Tenho aquelas imagens
Na lavoura cacaueira
Sustentou uma oligarquia inteira
Regando uma flor murcha
Parasita brasileira
Veio a vassoura-de-bruxa
A conta chegou
Galinha dos ovos secou
O sonho dourado daquela burguesia
Que vivia que nem lesma
Mudou da noite pro dia
A coisa ficou séria
trabalhador ficou na mesma
Já vivia na miséria.
Eu já lavrei cacau
Mas me dei mal
Plantação do coronel
Mel com gosto de fel
Tinha que catar cajá
Gomo de Jaca pra chupar
O povo que empunha o biscó
Sempre levou a pior
A AMIGA DELA
Não tens dimensão
Do estrago que causaste
Em meu pobre coração
Quando vais numa viagem
Fica sem mandar mensagem
De mim não queres saber mais não
Porque c’ê foi embora?
Te perdi na multidão
Volta, venha logo sem demora
Fosse eu vinha agora
Quero tanto botar pra fora
Essa cruel solidão
E, findando, tenho algo a dizer
Quero que fique sabeno
Tem um coração sofreno
Com saudades de você
Inda ontem tava nóis aqui de boa
Apareceu outra pessoa
Começas-te a flertar
Então eu fiquei a toa, foram as 2 passear
Sabe lá que fizeram além do passeio
Eu levei foi um vareio
Com certeza estavam a namorar
Dizes que é só uma amiga
Não quero fazer intriga mas me custa acreditar
E, findano, tenho algo a dizer
Quero que fique sabeno
Aqui tem um coração sofreno
Com saudades de você
Não tens dimensão
Do estrago que causaste
Em meu pobre coração
Quando vais numa viagem
Fica sem mandar mensagem
De mim não queres saber mais não
Porque c’ê foi embora?
Te perdi na multidão
Volta, venha logo sem demora
Fosse eu vinha agora
Quero tanto botar pra fora
Essa cruel solidão
E, findando, tenho algo a dizer
Quero que fique sabeno
Tem um coração sofreno
Com saudades de você
Inda ontem tava nóis aqui de boa
Apareceu outra pessoa
Começas-te a flertar
Então eu fiquei a toa, foram as 2 passear
Sabe lá que fizeram além do passeio
Eu levei foi um vareio
Com certeza estavam a namorar
Dizes que é só uma amiga
Não quero fazer intriga mas me custa acreditar
E, findano, tenho algo a dizer
Quero que fique sabeno
Aqui tem um coração sofreno
Com saudades de você
PALHA DE MILHO
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