Como todos os que estão fora do barco governamental
enebria-me de orgulho e esperanças o movimento da garotada que ocupa escolas
país afora; principalmente no Paraná - onde fui aluno universitário e professor
de curso técnico. A participação política da juventude é imprescindível para a
renovação de quadros para a militância política de contestação à ordem vigente.
Ver a garotada botando pra lá nos remete à nossa tenra idade quando, também,
militávamos no movimento estudantil. E, mesmo diante dessa luta alvissareira e
da empolgação com a empolgação juvenil, não devemos estar cegos politicamente e
algumas ponderações se fazem necessárias.
Embutido na sincera solidariedade da militância de "esquerda" a este
movimento, existe certa dose de esperteza de algumas organizações e movimentos
sociais que pegam carona nestas ocupações tentando minimizar seus erros de
estratégia política e esconder as suas fraquezas enquanto organizações disseminadoras
de uma atuação política ancorada no oportunismo. Pegam carona nos movimento para “dar um perdido” na autocrítica e não assumir
os erros das teses reformistas justificadoras da colaboração de classes que
caracterizam a "esquerda" nacional há 94 anos. Os "surfistas
ideológicos" são ponguistas costumeiros.
Não navego na ilusão
que o movimento estudantil vá assumir a linha de frente na transformação
social, isso nunca ocorreu na história e a sua importância para as organizações
reformistas sempre foi a de fornecedor de quadros. Toda luta que desperta, essas organizações escalam os seus “professores revolucionários” para cooptar e
abrandar o ímpeto juvenil através de fraseados radicais e práticas reformistas.
A luta estudantil é uma trincheira importante no embate político, porém sem o
respaldo de uma movimentação contestatória da classe trabalhadora e a
existência de organismos livres e autônomos, terá sempre explosões esporádicas
e de fácil enquadramento pela ordem vigente.
Aí, eu me pergunto: se a principal característica dessas
ocupações é o seu caráter horizontal, quem será que está fabricando a imagem da
garota para lograr hegemonizar o movimento? A menina tem 16 anos, pouco viveu e
pouco deve ter lido para ser apresentada como a lucidez de uma nação, seu
discurso soou espontâneo e foi certeiro,
digno e merecedor de aplausos; mas, ao
virar matérias de jornais, capa de revistas nacionais e internacionais e
viralizar na internet, não podemos deixar de observar que tem alguém querendo fabricar a imagem da
garota, transformá-la em “liderança” do movimento, um símbolo com a intenção de
faturar em cima da inquietude juvenil e isso não deve ser uma articulação do
seu coletivo colegial, é gente com muito mais influência e inserção nos
negócios da política com ramificações no parlamento, na imprensa e nos esgotos
da política partidária institucional.
Estão estragando a sua rebeldia.
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