A única vez que trabalhei de
ajudante em minha vida, foi de ajudante de pedreiro, e do pior pedreiro que já
conheci em minha vida. Deixei o Sem Terra definitivamente, no Vale do Rio
Gavião, aquele, dos discos do Elomar e morava em Cordeiros num Assentamento a 3
Km da Rua, que é como no nordeste, denominamos a sede do município; plantando hortaliças
e vendendo na feira para sobreviver e não estava dando, me matava de trabalhar
e sempre na precisão das coisas; ainda estiquei um mês minha partida
trabalhando de Operador de Picareta num sol de lascar o cano e um cascalho que
a piçarra dava com palmo, durante o serviço da nova rede de água que vinha por
gravidade de dentro do Área que era caatinga, um juremal preto retado e, também,
cerrado na parte alta. Terminado o serviço, me vi em apuros, pois a barraca estava
vendendo pouco e a produção das hortaliças estava cada dia mais difícil por
causa do verão tórrido, de uma seca medonha, que em janeiro de 2012 já ia no
terceiro ano seguido naquela região.
Aí foi que Tim, um vizinho que
sempre ia pra São Paulo trabalhar com “gatos” (emprego precarizado sem registro
nem qualquer amparo legal ou procedimentos de segurança) me arranjou uma boca para
trabalhar com um desse empreiteiros que pagava minha passagem e garantia
alojamento, rechetegue fui. A viagem ocorreu numa sexta-feira, 4 da manhã,
fomos numa Van, sem escalas com um único motorista tomando arrebite e Tim o
acompanhando; recusei as ofertas durante a viagem, ia encarar aquele degredo de
cara. O “gato” estaria esperando em São Paulo e no dia seguinte chegamos na
capital depois de ter passado deixando operários em Itu, Campinas, Barueri e,
na capital passamos para deixar gente na zona norte, voltamos para o Morumbi e,
juntamente com o Tim, ficamos em Moema na casa do “contratante” às 2 da tarde e
o cara só chegou às 07 da noite; depois dessa massada ele nos levou ao
alojamento no Jardim Ângela, a menos de 1 km de onde eu tinha morado 12 anos
antes.
Na segunda, madrugada ainda, o gato
passou por lá e nos levou para a obra, era no Sumaré, da TV Cultura, duma
igreja famosa, MTV, Vila Madalena, Pompéia, Consolação, Dr Arnaldo. Passei 3
praticamente confinado nessa mansão que estava sendo transformada de um casarão
que, avaliando pela arquitetura que era antiga tendo uma sinuosa escada em
madeira com um grande espelho aos pés, me parecia que tinha sido uma casa de “reputação
duvidosa” pelos estilo, 4 suítes no
pavimento de cima e devia ter sido um recreativo de bacanais dos bacanas
industriais, já que, por algumas coisas tipo quadros, envelopes e outros papéis
que cheguei a ver no depósito era datada de depois do crack de 29 que quebrou
os barões do café. Meus rolês eram pela região, algumas vezes fui ao centro
vendia o sábado e folgava o domingo, tinha que fazer render a grana para pagar
dívidas e mandar para os que tinham ficado na Bahia. Depois de 3 meses, a obra
quase pronta e as contas pagas, fui procurar trampo de eletricista, minha profissão
e entrei numa firma que me mandou para o Espírito Santo, Serra.
Chico César, que sempre morou nessa
região não se encontrava na cidade nesse tempo, estava em Jampa sendo
Secretário de Cultura no Governo Estadual e eu, pela mesma empresa, fui para a
Serra, de lá para Campinas e me fixei em Curitiba para aproveitar minha nota do
ENEM e tirar uma faculdade, isso durou 3 anos e meio, me formei, divorciei e
voltei para capital paulista no final de16. No início daquele ano, Chico César
voltara da Paraíba lançando Estado de Poesia e eu que o havia assistido, em
2011, no show do seu disco anterior Francisco Forró y Frevo em Vitória da
Conquista na Bahia com o Tio Nego, meu camarada e consultor em coisas dos
pampas, Neri, fomos num show que ele fez daquela turnê; Ainda não tinha
escutado o disco ora lançado e ele me
vem com No Sumaré, pensei: posso
testemunhar que essa música é verdade, a angústia dos que moram na rua e a
arrogância daqueles bacanas incrustrados naquela região manjedoura duma elite
preconceituosa e ignorante;
O que chico canta nessa música,
posso lhes afirmar, é a pura realidade, morando numa obra, eu via todo dia a
vida dos que não tinham teto, como são tratados pelos corteses burgueses
paulistas, quatrocentões.
No sábado à noite, resolvi não sair pois, mesmo tendo saído
da área como considerado, não era conveniente sair naquela noite inocente dos
acontecimentos; Tim foi com uma galera r Guarapirão, desencontrou dos caras esse
perdeu. Quando os caras chegaram sem o Tim, mano, endoidei disse que o cara
tinha saído de casa comigo, tinha me arranjado aquela boca e teriam que dar
conta dele, discuti, ameacei os caras e sai para ver a rapaziada, por certo
saberia notícias. Primeiro fiz o percurso a pé pela Avenida Guarapiranga, da
entrado do Riviera, até o início dela, na confluência com a Boi Mirim, eram
umas 6 horas da manhã, nada de anormal tinha acontecido, tipo morte, treta
braba, sabia pela experiência de ser inteirado naquelas quebradas, parava nas
padarias, tomava café, perguntava. Voltei de pé pelo mesmo percurso e no
Riviera, o primeiro que encontrei foi Simpson, das antigas, não era amigo, mas
conhecia das pescarias na Represa
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