ZÓIO D'ÁGUA

Quem me dera você
Piscasse o zóio pra eu
Pra eu ir lá te queixar
Chamar pra dormir mais eu
Olhar tanto admirado
Quando encontrou o seu
Sei que o papo é manjado
Mas o amor aconteceu
Quem me dera você
Piscasse o zóio pra eu
Pra eu ir lá te queixar
Chamar pra dormir mais eu
A flecha do teu olhar
Mirou no meio do meu
Nao pude me desviar
Agora deu no que deu
Quem me dera você
Piscasse o zóio pra eu
Pra eu ir lá te queixar
Chamar pra dormir mais eu
Fiquei pra ela olhando
O olhar ela me devolveu
Sempre lhe avistando
Até que o zóio doeu
De longe vive chorando
De certo já me esqueceu






COCO SIBERIANO

Um digital trotisquista
De bermuda em seu quiosque
Sente-se um maquinista
Imagina-se ser Trotsky
Mais um arrivista
Durante o tratado de Brest-Litovisky
Teórico simbolista
Não entendeu Maiakóvski
Aquele que não compreende
O quanto dói a dor
Não entendeu Fiódor
Escrito e relatado o tanto que dói
Guerra e Paz, Karenina, Liév  Tolstói
A literatura da cena
A vida escrita na pena
Na prosa de Herzen as meditações de  Elena
O aperto no peito aumenta seu torque
A vida é mãe e a universidade da universalidade de Gorky

ELA NÃO VAI

Adeus Quebrada
A partida é citada
Na hora esperada
Termina a jornada
Idéia bolada
A sorte lançada
Chega de errada
Deixo a Baixada
Opinião formada
Decisão tomada
Viagem marcada
Passagem comprada
Pra hoje datada
Deixei a pousada
Rota tá traçada
Marquei a estrada
De cara lavada
Deixando a pisada
Vou na caminhada
Mala arrumada
Já tá na escada
Na cama deitada
Fica calada
Ela tá ligada
Dá uma olhada
Mas ela é casada
Até foi sondada
Se sente amada 
Gostou da cantada
Mas daqui não sai
Ela vai ficando
E ela não vai
Está terminando
Tudo se acabou
Ela não vai
Só eu que vou
Ela não vai
Sou eu quem vou

Barrocão Velho

Há quantas eras
Que não visito o meu velho Barrocão
Tá invernano o carro só vai até o Angico 
Pegar na foice 
Quanto tempo não pratico
Vamo de pé
Que Tiorino é de fé
Vamo de turma
Ajudar no mutirão
De madrugada
Que é pra roubar o bataião
Pegar o véi
Antes dele levantar
Lavano o rosto
É que vai se interar:
-Chegaro cedo
Vejo que já vão terminar.
Acende o fogo
Pras panela esquentar
Chegamos cedo que foi pra cedo
Essa chula começar
Serviço feito a cuíca vai roncar
Inté de noite
É comer, beber dançar.


EMBOLADA CRUA

Quem tem que chiar é quem sofre
Destrancar os sonhos trancados no cofre
Não pode calar nem emudecer
Tem ser dito o que há pra dizer
O verso só tem serventia se puder protestar
Seu sentido é a  utilidade do gritar
Dá tristeza ver a cozinha
E o dicumê que não tinha
Faz tempo que se comeu
Coçou o bolso, o cobre não deu
A fome atormenta o dia
A dispensa tá vazia
Acabou o dinheiro
Farei o meu próprio pandeiro
Um batuque pra ser escutado
Couro de bode espichado
Esquentado na brasa de angico
Sei que calado eu não fico
O aro é cipó de embira
Cada palavra uma mira
Vou botar o  meu coco na rua
E a embolada crua 
A verdade nua
Debaixo do sol, sob a luz da lua
Sua dor igual a minha
Minha dor igual a sua
Debaixo do sol, sob a luz da lua
A verdade nua
E a embolada é crua
Sua dor igual a minha
Minha dor igual a sua
E a embolada é crua
A embolada é crua

8 DOSES

 Tem 3/;4 de litro de  pinga pura e boa aqui em casa, vou beber à memória de Zé CCalixto que ao lado de Gerson Filho e Abdias formou o tripé fundamental para que a 8 Baixos saísse da roça e adquirisse o respeito como instumento de solo nos discos e nos salõese, se tornasse o meu predileto. ,Minha incompetência, lezeira e falta de iniciativa me impediram de aprender mas é o instrumentop que eu acho mais bonito alguém tocando.

Negrão, Bau, Luizinho, Arlindo e tantos outros...... e Zuza,  sobrinho de Dona Pequena que voltou de são Paulo com um instrumento, vizinho do meu tempo de criança que foi o primeiro tocador de 8 Baixos que vi na vida.


Estupefato! Ou A Garota que Voltou Pra Quem Já Queria Ter Voltado Pra Ela

Feliz que você apareceu
Pouco importa onde você estava
Por muito tempo te procurei
Nem imagina os lugares que passei
Eram incertos os caminhos por onde andei
Cada vez mais até eu mesmo me abandonava
Bebia, era triste, chorava 
Coração ferido pensando que te perdeu
Mas  na memória tava a certeza
De quem nunca esqueceu
Me relembrava de tudo que aconteceu
Uma esperança de, quem sabe,  poder algum dia   reviver tudo que a gente viveu

Eis que de repente
(não mais que de repente),
Chamam meu nome ao portão
Logo de cara, cogitei
Conhecer aquela  voz que escutei 
Tem horas que mesmo vendo a gente dúvida do que vê 
Me levantei, fui atender
Deixei o livreto de cordel que eu lia sobre a mesa
Estupefato!
A mais bela e grata surpresa
Era você, era você, era você 

ADEUS JACOBINA

O Vei Jacobina, pseudônimo de Valdemar Ramos Oliveira que faleceu essa semana no sertão da Bahia dend'os 93 anos que ia interar em julho...