PONTO FINAL

Apartir desse momento já não existe nós dois 
Não deve existir o depois 
Sempre fazendo de conta e deixando pra lá 
Tentando fazer o que já não dá 
Cada um entricheirado em sua margem 
Com toda arrogância está nos faltando coragem 
De dizer o que deve ser dito 
No nosso caso já não acredito  
O tempo todo conflito 
Cada um no seu canto, aflito 
Falando mal, fazendo mau
Afinal, 
Ponto final

A FAVELA VENCEU

A favela é uma flor
Que o sol quente cultiva
Uma companheira antiga
De infortúnio sertanejo
Precisa ter molejo
Em suportar o desgosto
De topar com a urtiga
Que não dá encosto
Nem sombra
Não se deixa tocar
A coceira é uma lombra
Traiçoeira e infeliz
Que nem trair, é só começar
Como o ditado diz
A experiência é horrível
O esporão adentra a pele
Basta que na folha rele
Fere de forma terrível
Favor não fazer confusão
Tem favela, tem urtiga e tem cansanção
Qualquer uma é capaz
Com o estrago que faz
De arrancar o couro do cristão
Triscou no vivente, ardeu
Uma boca de espinho que mordeu
Quem era menos bruto, tremeu
O poeta viu, descreveu
A favela venceu


A PALHA DO MILHO

Teve um ou uma sem-vergonha 
Que entocou a palha 
Era pra  encher a pamonha
Pegaro, botaro pra secar e guardaro
Pra  depois enrolar maconha
Andam dizeno que foi Tóin
Mas eu acho que foi Tonha

Eu vou proguntá de novo
Proguntá de novo a Tonha
Se ela escondeu a  palha 
Era pra  fazer pamonha
A palha do milho
Não tem empecilho 
Pega nada fumar maconha

O GENRO SEM SORTE

 (uma toadinha de Vaquejada lembrando de Kara Véia)

Gostaria de chamar de meu sogro Sinobilino 
Que me conhece derna de minino
Lá da Várzea das Forquilhas
Ele tem é 4 filhas
Cada tipo de mulher
Me contentaria com qualquer uma
Mas é nenhuma quem me quer

A mais nova é Severina
Tem a boca bem carnuda 
Um gênio bem tinhoso 
Imagino aquele beijo
Deve ser muito gostoso.
Catarina joga bola
Estudou na minha escola
Marquei em cima do lance 
Cavalinho sai da chuva
Tu nunca teve chance
Roquilina é avançada 
Gosta da minha pessoa
Ia pro rio comigo
Ao pedi-la em namoro
Que só me quer como amigo.
A mais velha é Pedrina
Muito namoradeira
Mas quer sempre dormir só
Nem aí pro casamento
Nem aí pro caritó

Gostaria de chamar de meu sogro Sinobilino 
Que me conhece derna de minino
Lá da Várzea das Forquilhas
Ele tem é 4 filhas
Mais que moças são mulher
Me contentaria com qualquer uma
Mas é nenhuma quem me quer

GLOSA LIGEIRA

Padim Ozébio negou
Parede-meia pa vó 
Da Véia num teve dó
Também num considerou
Parede-meia pa vó 
Padim Ozébio negou
                
Sangue correno na veia
Aranha que tece a teia
Bola de gude ou de meia
Quem puxa carro é a pareia
Tano com fome traz ceia
Se tocar fogo incendeia 
A chama acende clareia
 
No dia que tu foi
Pras bandas do Paraná 
Deixou no norte o sentido
Sentindo-se meio perdido 
Arresolveste voltar
Se num tivesse ido
Sabia nada de lá 
 
No alto da cumieira
Descamba da ribanceira 
No precipício, à beira
Essa é a glosa ligeira
Atenta sem dar bobeira 
Assenta na dianteira 
Palavra dita certeira

A MORADA DE UM ZÉ NINGUÉM (Ao cronista dos infortúnios Lucas Evangelista)

A tramela trancada, uma telha quebrada
O reboco ruiu
A furquilha lascada
Parede trincada
O alpendre caiu
A mesa virada
Dispensa escorada
O espelho sumiu
Imagem apagada
A palavra calada
Como que nunca existiu
Já é madrugada, não tem alvorada 
Felicidade partiu
 
Nada tem, nada vai, nada vem
Quem ficou que fique sem
Triste do dia que houve alguém
Tudo destruído, nada mais além
Onde não há porque não tem
Nesse fracasso procura por quem
Perdido até o horário do trem
Atordoado também
Não cabe mas, nem porém
Dentro do peito nada contém
O que sobra não convém 
Nem pra si nem pra outrem
O que tinha não se tem
Já não há quem lhe queira bem
A casa é morada de um Zé Ninguém

 


PONTO FINAL

Apartir desse momento já não existe nós dois  Não deve existir o depois  Sempre fazendo de conta e deixando pra lá  Tentando fazer o que já ...