O GENRO SEM SORTE

 (uma toadinha de Vaquejada lembrando de Kara Véia)

Gostaria de chamar de meu sogro Sinobilino 
Que me conhece derna de minino
Lá da Várzea das Forquilhas
Ele tem é 4 filhas
Cada tipo de mulher
Me contentaria com qualquer uma
Mas é nenhuma quem me quer

A mais nova é Severina
Tem a boca bem carnuda 
Um gênio bem tinhoso 
Imagino aquele beijo
Deve ser muito gostoso.
Catarina joga bola
Estudou na minha escola
Marquei em cima do lance 
Cavalinho sai da chuva
Tu nunca teve chance
Roquilina é avançada 
Gosta da minha pessoa
Ia pro rio comigo
Ao pedi-la em namoro
Que só me quer como amigo.
A mais velha é Pedrina
Muito namoradeira
Mas quer sempre dormir só
Nem aí pro casamento
Nem aí pro caritó

Gostaria de chamar de meu sogro Sinobilino 
Que me conhece derna de minino
Lá da Várzea das Forquilhas
Ele tem é 4 filhas
Mais que moças são mulher
Me contentaria com qualquer uma
Mas é nenhuma quem me quer

GLOSA LIGEIRA

Padim Ozébio negou
Parede-meia pa vó 
Da Véia num teve dó
Também num considerou
Padim Ozébio negou
Parede-meia pa vó 

Sangue  correno na veia
Aranha que tece a teia
Bola de gude ou meia
Quem puxa carro é a pareia
Tano com fome traz ceia
Se tocar fogo incendeia 
a chama acende clareia

No dia que tu foi
Pras bandas do Paraná 
Deixou no norte o sentido
Sentiu-se meio perdido 
Arresolveste voltar
Se num tivesse ido
Sabia nada de lá 

No alto da cumieira
Descamba da ribanceira 
No precipício, à beira
Essa é a glosa ligeira
Atenta sem dar bobeira 
Assenta na dianteira 
Palavra dita certeira


Padim Ozébio negou
Parede-meia paa vó 
Da Véia num teve dó
Também num considerou
Padim Ozébio negou
Parede-meia pa vó

A MORADA DE UM ZÉ NINGUÉM (Ao cronista dos infortúnios Lucas Evangelista)

A MORADA DE UM ZÉ NINGUÉM

                (Ao cronista dos infortúnios Lucas Evangelista)


A tramela trancada

Uma telha quebrada

O reboco ruiu

A furquilha lascada

Parede trincada

O alpendre caiu

A mesa virada

Dispensa escorada

O espelho sumiu

Imagem apagada

A palavra calada

Como que nunca existiu

Já é madrugada 

Não tem alvorada 

Felicidade partiu


Nada tem, nada vai, nada vem

Quem ficou que fique sem

Triste do dia que houve alguém

Tudo destruído, nada mais além

Morada do desdém

Nesse fracasso procura por quem

Perdido até o horário do trem

Atordoado também

Não cabe mas , nem porém

Dentro do peito nada  contém

O que sobra não convém 

Nem pra si nem pra outrem

O que tinha não se tem

Já não há  quem lhe queira bem

A casa é morada de um Zé Ninguém

SURREAL SOLITÁRIO

Um casebre no meio do que um dia já foi estrada

Hoje já não é mais nada 

O mato virou mata

O velho cemitério ruiu

A tranca do portão sucumbiu

Não há horário nem data

O calendário sumiu

Não há  ninguém, não há informações 

Nem primeira, nem segundas intenções 

O barulho do vento sob os paredões 

Rochosas formações 

Mas gente, gente mesmo?

                                  Não há 

Pouco importa que houve

Ou se haverá 

Estrada ou itinerário 

Real ou imaginário 

Só um surreal diálogo solitário 

De mim pra mim

Não digo sim

Não tenho certeza 

Um chute na mesa

Estou de bobeira 

Cansei da cadeira 

Vou sair por aí 

Essa ânsia precisa explodir 

Preciso dizer, preciso dizer

Preciso você 

Cadê, cadê, cadê … você 

Tá no pé da garganta, tá pra explodir 

Será que alguém vai ouvir. 

Me diz, me conta,  qual é….?

Saiba que estou aqui

Pode contar comigo 

Pra briga pro samba, pro trampo 

Que seja tranquilo,  que tenha perigo

Que tire o sono, que perturbe a paz 

Meu samba termina aqui

Desculpa a todos se falei de mais



PESCA DE FACHO

Massa, massa,  massa, Massambão 

Taba, taba, taba Tabaroa

Hoje eu vou pescar e já ouvi falar 

Que no Liberato tem uma lagoa

Que pra pescar É boa

Massa, massa,  massa, Massambão 

Taba, taba, taba Tabaroa

De dia  pescar piaba

Dá de noite e a pescaria não acaba 

Cende a paia faz a pira

Piaba vira isca pra traíra

Hoje eu vou pescar e já ouvi falar 

Que no Liberato tem uma lagoa

Que pra pescar é  boa

Massa, massa,  massa, Massambão 

Taba, taba, taba Tabaroa


A ponte de pau é pra atravessar o rio

Pra quem vai   pescar de facho

Pra poder fazer  clarão

Palha seca acender vira é pavio

A traíra vem  na panada do facão

Saracura canta, bate asa mergulhão

Juruti avoa

Massa, massa,  massa, Massambão 

Taba, taba, taba Tabaroa

Ela foi imbora na buleia do caminhão

Por isso vim pescar

Para não chorar, não ficar a toa

Massa, massa,  massa, Massambão 

Taba, taba, taba Tabaroa

Massa, massa,  massa, Massambão 

Taba, taba, taba Tabaroa

Hoje eu vou pescar e já ouvi falar 

Que no Liberato tem uma lagoa

Que pra pescar é muito boa

Massa, massa,  massa, Massambão 

Samba, samba, samba Tabaroa




 





A CABOCLA DAS ÁGUAS

Mariquinha mandou dizer pra Mariquinha saber

Foi a Cabocla das Águas que vive em Mariquinha

Que Mariquinha não vê

O recado vai para ela mas serve para você

Tanto faz se acredita, duvida ô num crê

Esteje caducano, pessoa feita ou erê

3 dias sem beber água, 3 dias sem dicumê

Tudo tem um motivo, sempre há o porquê

O recado vai para ela mas serve para você

Foi a Cabocla das Águas que vive em Mariquinha

Que Mariquinha não vê

Cabocla das Águas falou:

Traz alfazema! Traz alfazema!

Pra te livrar de problema

Tirar dos espinhos

Perfumar o poema

Abrir os caminhos

Traz alfazema! Traz alfazema!

Isso é catimbó, é catimbó

Batuque antigo, quilombola

No Terreiro de vovó

Bate o Curimá, bate o Curimá

È jongo, é jongo, é jongo!

Moçambique, Angola e Congo

É pra Batucar


TUDO TÃO

Como pés descalços 

Sangrando pelo caminho

Promessas de amores falsos 

Cravejaram seus  espinhos

A carne quer carinhos

Chega de selvageria

Coração tá machucado 

Essa pele áspera já foi macia

Uma flecha atravessada

Com veneno preparada

Acertou o alvo errado 

Tudo, sempre, sempre tão, tão complicado entender

Que fazer,? Que fazer?

O que sobrou dos estilhaços 

Esbagaçados, quase que perto do fim

O que restou de mim

Solicita  teus abracos

Pra no teu colo deitar

E te fazer cafuné 

Na cama levar-te café 

Antes de virares comida

Eis que és tu, minha vida

Vou dizer no seu ouvido 

Já não estou mais dividido 

Tudo que quero é você 

Tudo, sempre, sempre tão, tão complicado entender

BATUQUE DO COBÉ

Você né Silvano
Nem Zé Burquia que dirá Zé Beté
Por mais que faça seu plano
De Brequedeque num chega nos pé
Até que sabe tirar uma chula
Mais tome cuidado, não bula
Com o batuque que vem no Cobé.
Meu avô era Hermínio
Valente cabra-da-peste
Fichado na manutenção da Leste
Deixou prao neto o designio
De levar o samba adiante
Se quiser colher, primeiro que plante
Assunte com muita atenção
Toda certeza no que vai dizer
O verso revela sua intenção
Uma vez dito num vai desfazer
Oi foi lá, oi foi lá
Na vez derradeira, lembrei da primeira
Pra torar essa choradeira
Lajedão da Palmeira
Um dia pretendo voltar.
Pois, foi lá, pois foi lá
Que ficou quem era eu
Um minino que se perdeu
Hoje vivo a procurar
Esperança inda num faleceu
Espero d'agora indiante um dia encontrar .
Diola, diola, diola, diolá
Da terra de onde vim
O corpo já nasce bamba
E tem um ditado que fala
(insansim, sansim, assim)
A criança primeiro samba
Pra só depois caminhar
Insansim, sansim, assim
Oi diola, diola, diola, diolá
Aprendeno uma vez
Posso garantir a vocês
Não vão esquecer como é
A chula corre na veia
O corpo bambeia
Esse Batuque vem do Cobé
Insansim, sansim, ansim

ZABÉ CEGA E O MENINO SE FOSSE GUIA DE CEGO

 

Zabé foi uma cega pedinte de profissão, pois outra opção na vida nunca lhe apareceu e no sertão daquele tempo, que nem hoje, viver é, antes de tudo, não morrer de fome. Quando minha mãe Isabel era criança, Zabé já tava na lida era do tempo da minha vó solteira. Eu não lembro do trem porque o Ramal da Grota (Sr do Bomfim- Iaçuvis) foi desativado em 76 quando a queda do vão do meio do pontilhão do Paraguaçu na boca dofinal de linha do ramal despencou pra dentro do rio. Eu vi uns 2, 3 trens passando oir esses trilhos mas eram da manutenção da Leste.
Sim, Zabé fazia o percurso da linha do trem, ficava reversão as feiras do trecho e fazendo ponto no comércio e pedia nos corredores do trem e mesmo depois de desativada a linha ela continuou no roteiro pois já fazia a combinação do seu deslocamento com o transporte rodoviário que ampliava sei raio de ação e ela chegava a lugares onde o trem não passava.

Acabou o trem, tinha o ôndibus lembro dela pela última vez por volta de 1984, Jacobina era a principal praça do seu labor, então cresci a vendo pela cidade e pela região. Lembro de já tê-la visto em Itaberaba, Migué Camon (morei nas 2), Caén, Capim Grosso, Várzea Nova, Junco, França, Ruy Barbosa..;1989 quando por um tempo voltei a morar na cidade não mais a vi, me nuticiaro que havia falecido.
Zabé era uma cega criada na brutalidade da aridez sertaneja, no carrancismo do lajedo, seco, teve que se virar sozinha quase sempre viajava sozinha, poucas vezes a vi com guia.
Eu sempre ficava imaginando o que uma pessoa que se deslocava constantemente pelo mundo já tinha passado sem ter visto; nunca soube aonde era a sua casa, nem da sua parentagem, ela morava embaixo de um capacete de alumínio que sempre estava usando.
Se fosse pra ter sido guia de cego, queria que tivesse sido dela.
O outro cego que tive mais proximidade foi seu Nelson, um negro alto que tinha uma padaria e ele mesmo despachada e passava o troco; contava os pães, pegava o pacote de bolacha, tateava as notas e as moedas e passava o troco; era dono da casa que morava e da padaria, tinha 2 filhas que enxergavam, 1 que não lembrei o nome jogava futebol com as meninas no colégio e sempre me chamava pra pegar no gol. Com seu Nelson, com certeza não teria emprego de guia, só pra entregar pão.

QUERO ATÉ ESQUECER QUE VOCÊ EXISTE

A certeza que jamais tive
Que se deixar de te amar
Meu coração, coitado, ele sobrevive
Uma grande ilusão 
De todas, a maior que tive
E este é o instante, o momento de acabar
Nada mais vai restar
Mesmo que agora deixe-me triste
Quero até esquecer que você existe
Pra não ter que lembrar
Pensar não ser permitido
Nada vai significar
Esse tempo que foi perdido
Idealizado uma paixão 
Ter sonhado iludido
Coisas da imaginação 





PINGADEIRA


Com muita ternura eu venho te informar 
Que você é muito importante 
Nessa vidinha tão desimportante
Que a gente vive por aqui
Esqueço de tudo
Menos de ti
Que em mim estás
A todo instante
As lágrimas que choras
Sofro por cada uma, por horas
Até que cesse a derradeira 
Os meus olhos se transformam em pingadeira
É só água que desce
Mundo vai desabar
Não tem jeito que cesse
Enquanto você não parar (de chorar)
Nossos abraços 
Te tenho entre meus braços
Sempre prontos a lhe receber
O aperto é o conforto 
Que esse seu poeta torto
Tem pra te acolher
Se fica no seu coração o lugar aonde moro
Toda vez que ficar triste 
Se você chorar eu choro
Não espero pra depois
Sou a outra parte triste que existe
Pois quando sofres, sofremos os dois

NO TEMPO DO BISCÓ

Subia pelos ares

Fedia na cidade Baixa, Largo dos Mares

Barraco na beira do rio

Curtino fastio

Segurei as pontas

Morei ás margens

Beira do Rio das Contas

Tenho aquelas imagens

Na lavoura cacaueira

Sustentou uma oligarquia inteira

Regando uma flor murcha

Parasita brasileira

Veio a vassoura-de-bruxa

A conta chegou

Galinha dos ovos secou

O sonho dourado daquela burguesia

Que vivia que nem lesma

Mudou da noite pro dia

A coisa ficou séria

trabalhador ficou na mesma

Já vivia na miséria.


Eu já lavrei cacau

Mas me dei mal

Plantação do coronel

Mel com gosto de fel

Tinha que catar cajá

Gomo de Jaca pra chupar

O povo que empunha o biscó

Sempre levou a pior


A AMIGA DELA

Não tens dimensão
Do estrago que causaste
Em meu pobre coração
Quando vais numa viagem
Fica sem mandar mensagem
De mim não queres saber mais não
Porque cê foi embora?
Te perdi na multidão
Volta, venha logo sem demora
Fosse eu vinha agora
Quero tanto  botar pra fora
Essa cruel solidão

E, findando, tenho algo a dizer
Quero que fique sabeno
Tem um coração sofreno
Com saudades de você


Inda ontem tava nois aqui de boa
Apareceu outra pessoa
começaste a flertar
Então eu fiquei a toa
Foram as 2 passear
Sabe lá que fizeram além do passeio
Eu levei foi um vareio
Com certeza estavam a namorar
Dizes que é só uma amiga
Não quero fazer intriga
Mas me custa acreditar

E, findano, tenho algo a  dizer

Quero que fique sabeno

Aqui tem um coração sofreno

Com saudades de você





VALTER VELHO DE GUERRA

Esculpiu sua arte nas sobras da caatinga destruída
fez chinelo pra garantir sua comida
Um artesão de arte, de trabalho
de produção
ganhador do pão
artista pião.
Um homem brabo
Sem conchavo
Um nativo Operário
Fazedor de percata
Rebeldia nata 
Daqueles amigos que não mais se acha
Pensava fora da caixa
o mundo lhe pertubava
Ele se revoltava
Na justa rebeldia
Vida livre
O rebelde queria
sonhou um outro mundo
Viveu o desgosto profundo
Dos inquietos
Era do couro, da madeira
do chá e da bebedeira
O mais talentoso artesão
dos que sonharam na minha geração
Disposição pra labuta
Sem medo de topar a luta
Hoje embaixo da terra
Saudades para sempre
Valter Velho de guerra 
Um  artista  
que não abaixou a crista

O GENRO SEM SORTE

 (uma toadinha de Vaquejada lembrando de Kara Véia) Gostaria de chamar de meu sogro Sinobilino  Que me conhece derna de minino Lá da Várzea ...